Carlos Nougué
Mas é ainda Bach quem sobressai sobremaneira na música que serve diretamente para louvar a Deus, ainda que não liturgicamente. Poder-se-á replicar que sua música “sacra” era destinada ao culto luterano. Em grande parte, sim, o era. Mas há três aspectos por considerar.
1) Como o culto luterano já não era verdadeira liturgia (porque a verdadeira liturgia só pode ser a da verdadeira religião e do verdadeiro sacramento), a música religiosa de Bach já se enquadra, de per si, no tipo que estamos estudando.
2) Lembremo-nos do fato, já referido em Música e beleza (II), de que a música de Bach foi proibida não só pelos calvinistas, mas também, após a morte do compositor, nos templos luteranos.
3) Sua conveniência com a religiosidade católica pode ser comprovada:
• por um “não-sei-quê”, intrínseco à sua música, que estudaremos nos últimos artigos desta série de textos sobre a arte em geral e a música em particular (e que fará parte, em futuro próximo, de um estudo muito mais amplo e abrangente);
• pelo fato, referido em Música e beleza (I), de Bach ter querido rematar sua obra com uma católica Missa em Si menor, sem formato litúrgico, é verdade, mas em cuja composição levou 25 anos — ele, que compunha num abrir e piscar de olhos. (Lembremo-nos, além do mais, que Bach compôs outras Missas católicas, também sem formato litúrgico, e foi muito influenciado por diversos compositores do lado católico da Europa de então, incluído Palestrina, o compositor consagrado pelo Concílio de Trento.)
Mas comprovemos tal conveniência com os próprios ouvidos:
• nos movimentos seguintes de Paixões suas: a de João, conduzida pelo maestro holandês Ton Koopman (um dos maiores músicos dos últimos tempos) e sobreposta, aqui, a cenas da Paixão de Mel Gibson (eu ousaria dizer que a música de Bach foi o que faltou à película de Gibson); a de Mateus, também conduzida por Koopman; e a de Marcos, esta em reconstrução (porque se perdeu a partitura original) do mesmo maestro holandês (note-se a beleza de coro angélico deste movimento);
• nestes movimentos da Missa em Si menor (talvez a mais bela peça já escrita do tipo de música que estamos examinando aqui): o Kyrie e o estupendo e grave Agnus Dei, sempre por Ton Koopman;
• e nesta peça para órgão, Schmücke Dich, o liebe Seele, tocada por Ton Koopman.
Mas algumas peças bachianas para órgão, por sua vez, também são um caso único: porque podem assumir, como de fato já assumiram e assumem, caráter litúrgico verdadeiro, ou seja, católico, o que nos remete ao próximo artigo.
Em tempo 1: Os três tipos gerais de música que estamos estudando em sua hierarquia com respeito aos fins são de gêneros diferentes, e sucessivamente superiores uns aos outros, porque inferior entre todos é aquele que mais nos distancia do fim último, ou seja, Deus mesmo, e superior entre todos é aquele que mais nos aproxima d’Ele. Com efeito, nada está mais próximo de Deus do que o próprio sacramento, a Eucaristia, a que se ordena a liturgia.
Em tempo 2: Dizia São Pio X: “Eu amo Bach”.
Mas é ainda Bach quem sobressai sobremaneira na música que serve diretamente para louvar a Deus, ainda que não liturgicamente. Poder-se-á replicar que sua música “sacra” era destinada ao culto luterano. Em grande parte, sim, o era. Mas há três aspectos por considerar.
1) Como o culto luterano já não era verdadeira liturgia (porque a verdadeira liturgia só pode ser a da verdadeira religião e do verdadeiro sacramento), a música religiosa de Bach já se enquadra, de per si, no tipo que estamos estudando.
2) Lembremo-nos do fato, já referido em Música e beleza (II), de que a música de Bach foi proibida não só pelos calvinistas, mas também, após a morte do compositor, nos templos luteranos.
3) Sua conveniência com a religiosidade católica pode ser comprovada:
• por um “não-sei-quê”, intrínseco à sua música, que estudaremos nos últimos artigos desta série de textos sobre a arte em geral e a música em particular (e que fará parte, em futuro próximo, de um estudo muito mais amplo e abrangente);
• pelo fato, referido em Música e beleza (I), de Bach ter querido rematar sua obra com uma católica Missa em Si menor, sem formato litúrgico, é verdade, mas em cuja composição levou 25 anos — ele, que compunha num abrir e piscar de olhos. (Lembremo-nos, além do mais, que Bach compôs outras Missas católicas, também sem formato litúrgico, e foi muito influenciado por diversos compositores do lado católico da Europa de então, incluído Palestrina, o compositor consagrado pelo Concílio de Trento.)
Mas comprovemos tal conveniência com os próprios ouvidos:
• nos movimentos seguintes de Paixões suas: a de João, conduzida pelo maestro holandês Ton Koopman (um dos maiores músicos dos últimos tempos) e sobreposta, aqui, a cenas da Paixão de Mel Gibson (eu ousaria dizer que a música de Bach foi o que faltou à película de Gibson); a de Mateus, também conduzida por Koopman; e a de Marcos, esta em reconstrução (porque se perdeu a partitura original) do mesmo maestro holandês (note-se a beleza de coro angélico deste movimento);
• nestes movimentos da Missa em Si menor (talvez a mais bela peça já escrita do tipo de música que estamos examinando aqui): o Kyrie e o estupendo e grave Agnus Dei, sempre por Ton Koopman;
• e nesta peça para órgão, Schmücke Dich, o liebe Seele, tocada por Ton Koopman.
Mas algumas peças bachianas para órgão, por sua vez, também são um caso único: porque podem assumir, como de fato já assumiram e assumem, caráter litúrgico verdadeiro, ou seja, católico, o que nos remete ao próximo artigo.
Em tempo 1: Os três tipos gerais de música que estamos estudando em sua hierarquia com respeito aos fins são de gêneros diferentes, e sucessivamente superiores uns aos outros, porque inferior entre todos é aquele que mais nos distancia do fim último, ou seja, Deus mesmo, e superior entre todos é aquele que mais nos aproxima d’Ele. Com efeito, nada está mais próximo de Deus do que o próprio sacramento, a Eucaristia, a que se ordena a liturgia.
Em tempo 2: Dizia São Pio X: “Eu amo Bach”.