terça-feira, 28 de abril de 2015

Plagiador uma ova!


Sidney Silveira

RESPOSTA À INDAGAÇÃO DE UM JOVEM

O curso ministrado pelo Prof. Sergio Pachá ao qual demos o nome de "'Os Lusíadas' de Luís de Camões: Catedral em Língua Portuguesa" tem por intuito tornar decodificável, para o leitor pouco industriado nos primores da erudição humanística, o mais alto poema do nosso idioma.

Decodificável estética e historicamente.

Noutras palavras: o propósito do Prof. Pachá é mostrar Camões não como antiqualha, não como coisa encarquilhada, não como velharia inatual, e sim como obra de arte dotada do viço perene das coisas cuja beleza bebe de fontes transtemporais.

Ora, qualquer iniciativa pedagógica de desestupidificação nacional que não passe por Luís de Camões será necessariamente capenga. O motivo é simples: em todos os âmbitos do fazer humano, ou seja, da arte em seu sentido genuíno, o que é mais excelente serve de medida, de modelo, de arquétipo, de cânon, na acepção primordial deste termo. No caso da poesia em língua portuguesa, não ir a Camões é privar-se justamente desta sublime régua qualitativa.

Infelizmente, a busca do aplauso fácil com que alguns ornitorrincos letrados se lançam aos estudos literários clássicos, ou pior, ensinam em tom pontifical e soporífero sobre eles, coloca-os numa situação vexatória aos olhos de pessoas mais calejadas, mais conscientes da inescapável circunstância de que, como ensina o Eclesiastes, nada há de novo debaixo do sol, no que tange às pretensões da vaidade humana.

É o caso relatado por você, meu caro, de alguém que anda a dizer aí pelos cantos o seguinte: Camões plagiou Virgílio. Por favor, não me diga o nome do estrupício envernizado que perpetrou tal sandice; a mim não me interessa saber. Apenas respondo que, no hoje longínquo século XVII, comentadores boçais d"Os Lusíadas" defenderam semelhante devaneio, como Pires de Almeida, para quem Camões teria literalmente furtado a ficção onírica da "Eneida". Responderam-lhe os que têm da arte um domínio mais apurado, uma visão menos tacanha, que a imitação é procedimento válido e imprescindível da criação literária, e as conscientes alusões camonianas aos clássicos que lhe serviram de modelo constituíam uma homenagem, uma atitude reverencial que em nada diminuía o valor do nosso épico, muito menos a sua autonomia literária.

Fica assim respondida de público a sua indagação privada acerca de Camões, assim como do curso sobre "Os Lusíadas" do Instituto Angelicum cujas inscrições continuam abertas em:


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Da ansiedade à intemperança

Sidney Silveira

ANSIEDADE é a esperança imoderada na aquisição de um bem, o que acarreta predisposição habitual à precipitação, filha da imprudência. Ao fazer-se ansiosa, a pessoa adquire uma tendência a tornar-se intemperante, o que traz riscos tremendos para a sua vida psíquica, porque o intemperante cedo ou tarde acaba por supor que a vida virtuosa é uma ficção alienante, e não a possibilidade real de alcançar a própria excelência.

O homem com vocação para a filosofia deve conter a todo custo a ansiedade, que também gera a "curiositas", vício tremendo, oposto à virtude da estudiosidade, o qual cedo ou tarde desencadeia o espírito de vanglória, a sede por reconhecimento.

Não importa o ritmo pelo qual se vai de uma etapa a outra nos estudos, mas sim que estas sejam cumpridas sem saltos.

Temperança, paciência, modéstia e austeridade são signos do homem estudioso.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Entre mantras e pilantras — ou a compreensível estafa dos bons


Sidney Silveira

Ao jovem amigo William Bottazzini

Hitler — de acordo com o afamado biógrafo Joachim Fest — certa vez comparara o processo de arregimentar pessoas a uma causa à ação do ímã sobre montes de lixo retorcido. Na desgraçadamente abalizada opinião do autor de "Mein Kampf", trata-se dum processo de seleção no qual o lixo não aproveitável descarta-se, ao passo que o restante pode ser considerado como ferrugem a ser utilizada de acordo com momentâneas conveniências políticas. No caso, o ímã é a oratória construída para catalisar facetas distintas da desesperança geral; sejam boas ou más, isto não importa, desde que todas se agrupem e se amoldem à feição odienta que lhes é sugerida de maneira subliminar, e também por meio da exaustiva repetição de slogans, ao modo de um mantra.

A propósito, transformar a insatisfação coletiva em ódio direcionado a uma "raça", a uma facção, a uma classe, a uma religião ou até mesmo a uma só pessoa é o antigo e eficaz procedimento de exacerbar paixões coletivas, insuflar a anomia política e, estabelecida esta, procurar dirigir os acontecimentos que advirão do caos. O problema é o seguinte: postas as coisas fora de controle, um fortíssimo elemento imponderável entra em cena, e este é o momento em que os manietadores profissionais tentam tirar partido de qualquer das probabilidades políticas que aflore. Arriscam dar com os burros n'água, mas apostam todas as fichas no sucesso do seu xadrez maquiavélico e no poder financeiro que lhes dá cobertura.

Seja como for, política não é ciência exata, nunca é demais lembrar.

No mundo em que frases feitas são elevadas à categoria de pensamento político, devido à sua reprodução maciça nas redes sociais, num passe de mágica pessoas com pouco ou nenhum conhecimento histórico e escassa formação política e filosófica, assim como estética e espiritual, para dizer pouco, são catapultadas a tribunas que lhes parecem dar legitimidade perante o povão insatisfeito. Entusiasmadas com o eco de suas recém-adquiridas certezas — quantificável nos "likes" e compartilhamentos de Facebook, e coisas que tais —, estas pessoas, não raro imbuídas das melhores intenções, acabam por formar um bloco anárquico, ondulantemente assimétrico, qual vaga marinha descontrolada a bater nas pedras. Em síntese: estão prontas a ser colocadas como buchas nalgum canhão.

O Brasil das manifestações contra o Foro de São Paulo, ou seja, contra o infernal comunopetismo — às quais adiro por princípio, mas jamais incondicionalmente e nunca sem verificar os meios utilizados tanto quanto me seja possível — tem repetido bordões de maneira mais robótica do que convém a pessoas que precisam dar inteligibilidade às suas posições políticas. Berrar “impeachment”, “fora Dilma” e “fora PT” pode ser catártico, e no último dia 15 de março eu mesmo tive esta benfazeja sensação. 

Mas isto: 

> Não transformará o nosso funesto Congresso Nacional numa casa de ilibado proceder, ou seja, estes deputados e senadores não porão em votação o impedimento da presidente, por mais que os escândalos se multipliquem mais e mais.

> Não fará instituições públicas podres de corrupção passarem por súbita decantação, numa espécie de alquimia miraculosa pela qual virem doces moradas angélicas. 

> Não fará os prostíbulos mentais universitários brasileiros transmutarem-se em liceus peripatéticos onde só se busca a verdade.

O povo quer o impeachment de D. Dilmoca I, sim, mas não crê que ele seja possível. Isto é patente. A propósito, numa eleição cuja apuração foi secreta até quase o momento de encerrar-se a contagem dos votos, é uma vergonha que nada tenha sido feito para impedir a posse — dada a falta de testosterona duma oposição de mentirinha, na qual o Sr. Aécio Neves cumpriu muito bem o seu papel de fantoche. Imagino um Carlos Lacerda a pronunciar-se ao povo brasileiro depois de tantas denúncias de fraude eleitoral; duvido que a coisa transcorresse naquele céu de brigadeiro em que a mentecapta-mor fez um discurso apoplético para a claque teleguiada. E paga.

Para piorar as coisas, a hierarquia da Igreja Católica mainstream no Brasil faz jus à apostasia generalizada em que caiu há tempos e apóia a reforma política proposta por um governo esquerdopático até a medula. 

O PT pode cair, sim, quando as forças exógenas nas quais se sustenta acharem que ele não mais serve aos seus propósitos. Neste contexto, quem há de culpar os homens de bem que, estafados moralmente e com os olhos postos em princípios políticos para além destes que se digladiam, têm a alma rouca e preferem o silêncio enlutado a ir às ruas fazer eco à gritaria?

Quem há de culpar quem enxerga a espiral e o quadrado deste palíndromo perfeito, que é como um infernal samsara político?

Eu não os culpo.

Digressões a partir d'Os Lusíadas'



Sidney Silveira
ESTAMOS NA QUINTA AULA relativa ao Canto I d"Os Lusíadas", no curso cujas inscrições manteremos abertas EM:

http://institutoangelicum.edools.com/curso/os-lusiadas-de-luis-de-camoes

Ao amigo Sergio Pachá, só posso dizer "muito obrigado" por estes momentos.

https://www.youtube.com/watch?v=qYBjincIxb0&feature=youtu.be

Absolvidos pela língua vernácula



Sidney Silveira

ESTES DIAS DE MOLHO, por conta duma gripe brutal, fizeram-me revisitar trechos de aulas do curso "A Língua Absolvida", ministrado pelo amigo e Prof. Sergio Pachá em minha companhia, iniciativa pedagógica que agora está em sua segunda turma.

Na prática, trata-se de um serviço prestado à nação que vai perdendo, com o esfacelamento do próprio idioma, o seu ponto de identidade fundamental.

As inscrições CONTINUAM ABERTAS EM:


Se você não o fez ano passado, faça-o agora e abra-se às monumentais possibilidades expressivas do idioma de Camões e (ainda também) nosso.

Às vezes, sinto vergonha alheia de gente que quer mudar politicamente o Brasil mas não consegue perpetrar uma só concordância de grau de dificuldade 0,1, digamos.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

LATIM COM SIMPLICIDADE (um mês gratuito de aulas!)


Sidney Silveira

OS BENEFÍCIOS DA LIVRE CONCORRÊNCIA

Você, que hoje estuda latim em qualquer lugar do país — seja em instituições públicas, seja em instituições privadas —, é convidado especial do Instituto Angelicum para assistir gratuitamente, entre abril e maio, a um mês de aulas do Prof. William Bottazzini, que tem aplicado entre nós o método Ørberg com resultados extraordinários.

Depois, se julgar conveniente, venha engrossar as fileiras de gente que, em pouco tempo, já mostra excelente desenvoltura na língua de Cícero.

Este é o grande benefício da livre concorrência: por ela torna-se possível comparar melhor, aprimorar critérios de escolha, verificar que, como em todas as coisas, há graus de excelência objetivamente distintos.

Nada há a perder: na pior das hipóteses, você continua onde está e terá tido contato com um método de ensino diferente.

"Multa in paucis" é o lema que o Prof. Bottazzini tem procurado seguir nestes dois anos em que ministra cursos no Angelicum. E o tem feito com notável sucesso: sem vender dificuldades para encarecer o próprio trabalho, o jovem professor vem mostrando como a simplicidade e o amor àquilo que se ensina são dois grandes motores do genuíno magistério.

Você precisa apenas enviar e-mail a Lissandra Lopes (contato@institutoangelicum.com.br) dizendo que quer assistir gratuitamente a este mês de aulas e onde hoje aprende latim (ou onde já o estudou, se tiver parado).

Depois, é assistir às aulas de graça e conhecer o método, para aferi-lo diretamente e não de oitiva, ou seja, de ouvir dizer sabe-se lá onde, por quem e com que intenção.

Conhecer é ver com a inteligência. Venha conhecer o curso de latim do Angelicum!

E viva a concorrência!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Adote um seminarista (ou um padre) e faça um bem

Sidney Silveira
Projeto “Amigos da Luz”
A atitude dos católicos perante a atual crise da Igreja oscila de maneira pendular entre duas certezas opostas — uma delas grandemente culpável, por voluntária cegueira, e a outra temerária pela impossibilidade de resolver-se canonicamente em plenitude, por uma questão de autoridade: tudo vai bem, tudo vai mal. Ou o Papa Francisco, assim como os anteriores até o finalzinho dos anos 50, é uma maravilha de fidelidade à Tradição; ou o Papa Francisco, assim como os anteriores até o finalzinho dos anos 50, não é Papa.
Entre estes extremos opostos — a saber: da papolatria sonsa à papoclastia muitas vezes farisaica — há inumeráveis gradações, e se as fôssemos representar com cores seria necessário recorrer a um programa de computador para captar todas as nuanças: dos sedevacantistas aos tradicionalistas, dos tradicionalistas aos neoconservadores, dos neoconservadores aos modernistas, dos modernistas aos beócios natos. Cada uma dessas espécies conhece inumeráveis subespécies, daí que para descrevê-las de maneira proficiente seria necessário escrever uma obra em dois volumes, quiçá três.
Os lefebvristas em geral não chegamos ao extremo de proclamar a vacância da Sede — não obstante esta possibilidade esteja abarcada pelo Magistério eclesiástico —, mas também não deixamos de perceber pessoas do clero bem-intencionadas que ainda têm esperanças de servir à Igreja sem se descatolicizar. Ora, que num corpo impregnado pelo vírus letal do modernismo haja quem faça ou queira fazer o bem espiritual, até mesmo às escondidas, não deixa de ser digno dos nossos maiores encômios. Isto para não falar nos jovens seminaristas, muitos dos quais em crise vocacional porque lhes falta formação para discernir uma série de questões importantes.
Em vista de pessoas como estas, criamos o projeto “Amigos da Luz”, que visa a beneficiá-las sem o Instituto Angelicum ver-se na contingência de sofrer um revés financeiro, pois não conta com apoio de mecenas e por isto não pode ser filantrópico.
As motivações do projeto, assim como as suas premissas, estão no link ao final desta postagem.
Entregamos a Deus esta iniciativa.