A recente e indefensável (do ponto de vista da fé!) condecoração política feita pelo Papa Bento XVI a Cavaco Silva e a José Sócrates, respectivamente presidente e primeiro ministro de Portugal, acarretou reações magoadas dos fiéis tradicionais portugueses. Para se ter idéia da coisa, Cavaco Silva foi condecorado com a segunda mais importante insígnia do Vaticano, a de Cavaleiro da Ordem Piana... um mês após a promulgação da “lei” do casamento homossexual!!!!! Um mês depois! Sem sombra de dúvida, tal láurea é um escárnio, não menos que isso.
Espaço destinado a combater a insidiosa e multiforme cultura liberal, que tem entre as suas raízes mais daninhas: uma falaciosa noção de liberdade humana; a idolatria — implícita ou explícita — da consciência individual; a separação entre natureza e moral; a contraposição entre Estado e indivíduo; a dissolução da Religião em categorias morais sem fundamento metafísico; a perda da noção de bem comum político.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
As láureas diplomáticas da Santa Sé
A recente e indefensável (do ponto de vista da fé!) condecoração política feita pelo Papa Bento XVI a Cavaco Silva e a José Sócrates, respectivamente presidente e primeiro ministro de Portugal, acarretou reações magoadas dos fiéis tradicionais portugueses. Para se ter idéia da coisa, Cavaco Silva foi condecorado com a segunda mais importante insígnia do Vaticano, a de Cavaleiro da Ordem Piana... um mês após a promulgação da “lei” do casamento homossexual!!!!! Um mês depois! Sem sombra de dúvida, tal láurea é um escárnio, não menos que isso.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Coisas de blog...
sábado, 28 de agosto de 2010
"TV" Contra Impugnantes: conhecer é um movimento acidental da potência intelectiva
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
A cultura do abismo
Sidney Silveira
O liberalismo*, que, como diz o Padre Calderón, é uma abjeta reação da carne contra as exigências do espírito — razão pela qual traz consigo, in nuce, o gérmen a apostasia —, ganhou as consciências das massas ao longo das últimas décadas atuando nisto que hoje se convenciona chamar equivocamente de “cultura”. Depois de consolidada a separação entre as ordens material e espiritual (no plano político, entre a Igreja e o Estado), ficou mais bem fácil inocular na cultura o vírus da revolução nas artes e nos costumes, pois tal vírus da desagregação encontra ambiente propício em meio ao vale-tudo.
Os liberais bem-falantes de hoje — prosternados no altar de uma cultura de almanaque — são capazes de êxtases convulsivos diante de um verso bem escrito (ainda que satânico, como os de Blake ou Baudelaire), mas estão cegos à verdadeira natureza da cultura e à hierarquia de valores que ela traz consigo. Por isso produzem em seus livros, eventos culturais, blogs e revistas tanta bobagem...
Como contraponto a isto, vale lembrar uma definição do filósofo Octavio Derisi: a cultura é o desenvolvimento harmônico e hierárquico do homem em seus diversos aspectos, sob a hegemonia da vida espiritual. Para o famoso tomista argentino, a genuína cultura tem uma tríplice dimensão:
1- de atividade cognoscitiva (filosofia = contemplação);
2- de atividade volitiva (moral);
3- de atividade poiética dirigida pela inteligência prática (arte).
Tudo isso, sem dúvida, é cultura, mas retirem-se os dois primeiros tópicos acima, e o terceiro se transformará em puro non sense, em atividade estéril do ponto de vista noético, espiritual. Transformar-se-á em esteticismo danosamente infantil.
Pois muito bem: um dos sinais mais clamorosos de que a vaca está no brejo é que a cultura não apenas perdeu de vista o aperfeiçoamento espiritual do homem, mas, ao contrário, transformou-se no grande motor da corrupção das potências mais nobres da alma. Ouçam o que se ouve em média por aí; vejam o que se vê por aí no cinema e na tv; leiam o que se publica em média de obras literárias e filosóficas; e então, a situação política (de absoluto caos) e moral (de cegueira coletiva) ganha novos contornos — novo padrão de inteligibilidade.
Observava muito bem Derisi que a crise da cultura provém de uma crise ética, e esta, de uma crise metafísica e teológica. Isto na década de 50 do século passado!!!! Os remédios para a crise poderiam provir da autoridade espiritual da Igreja, mas como esta depôs a própria autoridade, abdicando ao papel civilizatório de mestra das nações, isto explica muito bem a atual cultura do abismo que tudo domina, tudo envolve com seu fétido hálito...
Tapem as narinas, pois a coisa vai feder ainda mais.
* Nunca, em tempo algum, nos esqueçamos de que a peçonha comunista é, no plano histórico, filha da visão liberal, o seu oposto complementar — aquilo que os escolásticos chamavam de coincidentia oppositorum: são opostos que coincidem na aversão à autoridade espiritual.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Ciência: hábito mental da verdade; teologia sagrada: sabedoria suprema (I)
Sidney Silveira
Em sentido lato, por ciência entende-se o conhecimento sistemático nalguma matéria. Aristóteles já tinha noção disso ao afirmar que a ciência é o conhecimento certo de uma coisa a partir de suas causas — daí ser ela para o Estagirita propriamente demonstrativa, ou seja: é próprio da ciência demonstrar a verdade. Mas será que, com estas observações, alcançamos verdadeiramente o proprium da ciência?
Lembremos que o próprio é um dos cinco predicáveis (os outros são gênero, espécie, diferença específica e acidentes); e é o próprio que melhor nos dá notícia da essência dos entes, na exata medida em que só conhecemos a essência deles — e imperfeitamente! — a partir de suas operações formais próprias. Não é o caso de enumerar aqui todas as características do predicável próprio e de suas relações com a essência, mas, para o que nos ocupa, interessa-nos definir se o mais próprio da ciência é mesmo ser demonstrativa, ou se há outras propriedades que descortinem melhor a essência disto a que chamamos ciência. Recorramos a Santo Tomás, para ver o que diz.
Para o Aquinate, não obstante toda ciência ser o conhecimento certíssimo de uma coisa, partir de um conjunto de princípios e ter um objeto formal próprio (e de também ser demonstrativa), ela é, antes de tudo, habitus. E o hábito é, no glossário tomista, o intermediário entre a potência e o ato. Aqui, trata-se de uma qualidade adquirida pela alma intelectiva ao atualizar habitualmente determinada ciência. Isto nos encaminha a uma nova definição: a ciência é o conhecimento habitual da verdade*. Ou, se se preferir outra fórmula, a que costumo usar — por meio de uma analogia de atribuição — é a seguinte: a ciência é o hábito mental da verdade.
Advirta-se que não estamos confundindo a essência da ciência (conhecimento) com o seu próprio (o hábito mental desse conhecimento); este deriva daquela, pois, como conceitua Aristóteles (Tópicos, I, 5-6), “próprio é o que, embora não exprima a essência do sujeito, só a ele pertence”. Neste sentido, usemos o exemplo clássico: a risibilidade é propriamente humana, ou seja, é próprio do homem sorrir. Dos animais irracionais e dos anjos só podemos dizer que sorriem por uma de analogia de atribuição extrínseca, mas este é outro assunto.
Definidos os termos, registremos que, segundo Santo Tomás, a teologia sagrada é ciência, e no mais elevado sentido. Ela é habitus; é demonstrativa; tem princípios dos quais parte; e tem um objeto formal próprio: a deidade obscure per fidem cognita. Ou seja: a vida recôndita de Deus que só conhecemos pela fé. Para o homem no atual estado (ferido pelo pecado original), acima dessa teologia há apenas a ciência do próprio Deus e a dos bem-aventurados que conhecem a deidade clare visa, ou seja, pela visão beatífica.
Princípios dos quais parte a ciência teológica
Toda ciência deduz as suas conclusões partindo de princípios evidentes. Ora, a ciência teológica parte de princípios não-evidentes (os artigos da fé, que são recusados por muitos). Logo, não é ciência. A esta objeção (Suma, I, q.1, art. 2) Santo Tomás responde que os princípios de qualquer ciência ou são evidentes simpliciter (por si) ou secundum quid (buscados de outra ciência superior. Por ex.: a perspectiva depende dos princípios subministrados pela geometria). No caso da ciência teológica, ela parte de um princípio buscado em uma ciência superior: a de Deus, que conhecemos pela Revelação. Aqui, novamente, vale lembrar a importância do predicável proprium, que tantas equivocidades evita. Em resumo, é próprio de uma ciência não partir apenas de princípios evidentes simpliciter, mas partir de princípios (sejam evidentes ou buscados de outra ciência). Em suma, a primeira premissa do argumento em contrário — a de que os princípios de toda e qualquer ciência são evidentes simpliciter — cai por terra.
(continua)
* Não confundamos este conhecimento habitual com aquilo que hoje muitos chamam de consciência, pois a consciência, como demonstrou de forma apodítica Santo Tomás no De Veritate, é ato e não hábito. É a aplicação de uma ciência a algo determinado (cum alio scientia).
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
A circunstância da recusa às evidências
Em Teologia Moral, chama-se “circunstância” ao que literalmente circunscreve o ato humano — denotando com isto ser algo extrínseco a ele. Noutras palavras, moralmente a circunstância é acidental e, por isso, muitas vezes não especifica o ato. Assim, nada muda se alguém mata pelas costas uma pessoa vestida de branco ou de azul, nesta rua ou naquela, pois tais circunstâncias não alteram a espécie hedionda do ato. Noutras vezes, porém, embora o seu influxo seja ab extrinseco, a circunstância não apenas muda a espécie do ato, mas o piora. Assim, quem atira num coelho e mata um homem, mesmo sem intenção de fazê-lo, comete homicídio (culposo), e quem subtrai para si um objeto sagrado por causa do ouro comete não apenas furto, mas também sacrilégio. No De Malo (q, II, art. 8, sed contra), afirma Santo Tomás que a circunstância está para o pecado assim como o acidente está para o seu sujeito, e, em resumo: ela pode ser agravante ou não; pode especificar o ato ou não.
A coisa, como se vê, é complexa. Há incontáveis matizes que especificam os atos humanos, mas também há as circunstâncias que os agravam ou atenuam, que os fazem melhores ou piores.
Pois muito bem. No plano moral, a atitude dos católicos em relação à crise doutrinal que hoje acomete a Igreja pode ser boa, má ou indiferente (falaremos apenas das duas últimas). Depende não apenas do que os move a agir desta ou daquela maneira, mas também das circunstâncias — e uma em particular: o grau de conhecimento com que se leva a ação a cabo. Por exemplo: um católico que não teve a oportunidade de adquirir boa formação básica (refiro-me à doutrina tradicional) certamente não tem culpa moral disto — neste caso, a culpa é dos homens da Hierarquia eclesiástica —, embora esteja ele na mesma circunstância dos que tiveram alguma formação e preferiram embarcar no modernismo: ambos estão correndo risco maior de perder-se por não darem anuência à integralidade da fé, pois o veneno não muda a sua eficácia se alguém o toma pensando que é remédio ou se o toma querendo matar-se. Mas o fato é que a adesão de cada um deles ao modernismo é, do ponto de vista moral, muito distinta.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Sermão de D. Tomás de Aquino, abade do Mosteiro da Santa Cruz
Por que o ente e não a esquizofrenia?
De acordo com Santo Tomás, o primo cognitum é o ente enquanto oposto ao nada, quer dizer: simplesmente algo que é, embora não se saiba neste primeiro momento como e por que é. Em resumo, o ato pelo qual se inicia em nós o conhecimento é a percepção do ente extramental — situado, como o próprio termo indica, fora da nossa mente, pois não depende dela para ser o que é. Daí dizer o tomista Garrigou-Lagrange, em seu livro Le réalisme du principe de finalité, que a inteligência marcha do conhecido ao desconhecido, e o primeiro conhecido é, repitamos, o ente oposto ao nada, em meio ao qual estamos desde sempre.
Noutras palavras, podemos dizer o seguinte: seja qual for a realidade com a qual deparemos, ela não pode achar-se fora do ente. Se a inteligência contempla algo, trata-se sempre de algo que é, e por esta razão o realismo gnosiológico aristotélico-tomista não cansa de repetir que, assim como o objeto formal próprio da vista é a cor, e o do ouvido é o som, etc., o da inteligência é o ente. Mas que ente é esse primeiramente apreendido? Resposta: o das coisas sensíveis, ou, em termos técnicos, a essência das coisas materiais (quidditas rei materialis). O caminho natural da inteligência vai, pois, do sensível ao inteligível. Aristóteles já o sabia.
Diferentes foram as tentativas, a partir da modernidade, de estabelecer um tipo de conhecimento intuitivo, ou seja, uma clara visão direta dos inteligíveis — intento que tem a sua primeira formulação, recheada de premissas teológicas, em Duns Scot. Ocorre que, por mais sofisticadas que sejam essas tentativas, elas esbarram sempre numa brutal agressão às evidências e ao senso comum. Cabe ao metafísico espanar a poeira dos sofismas e apontar os erros. Houve também tentativas de pôr o sensível e o inteligível num mesmo plano, como se sempre sentíssemos inteligindo (é o caso da pressuposição do filósofo basco Xavier Zubiri de que a inteligência é radicalmente sentinte*), mas esta é uma idéia que mereceria outro texto.
O fato é que as conseqüências da má-gnosiologia são sempre terríveis. Espinosa, por exemplo, ao pressupor que o ente é não apenas unívoco, mas também único (é a tese famosa da substância única), acreditava possuir naturalmente uma intuição direta do ente divino — e ver Deus em tudo. Para ele, a multiplicidade das substâncias é enganosa, e o ente divino seria o primeiro objeto conhecido por nossa inteligência; por meio dele, tudo ganharia inteligibilidade. É o chamado ontologismo panteísta: Deus está em tudo não virtualmente, mas essencialmente, como se fora parte integrante das coisas. Ah, se Espinosa tivesse lido a questão 3 da primeira parte da Suma Teológica (Utrum Deus in compositionem aliorum veniat) em que o Aquinate mostra ser impossível Deus entrar em composição com os entes, ou ser de algum deles o princípio formal ou material!!** Enfim, qualquer estudioso da obra de Santo Tomás que tenha lido a Ética de Espinosa deparou, logo nas primeiras páginas, com agressões deste tipo ao bom senso. A experiência sensível (da qual parte o conhecimento) totalmente ignorada ou desprezada, e as evidências deixadas de lado em favor de hipóteses fantasiosas.
Depois de esmiuçar os conceitos-chave da metafísica, uma das principais tarefas do realismo filosófico é estabelecer um princípio gnosiológico que não parta de uma quimera. Já citamos no Contra Impugnantes vários e polifacéticos devaneios transformados em teorias do conhecimento: Kant, Hume, Husserl, Heidegger, Descartes, Bergson, agora Spinoza, etc. Todos eles parecem ignorar este que é um princípio fundamental: Ens est transcendens. A absoluta transcendentalidade do ente — o primeiro dos sete universais — garante não apenas a base para a analogia entis, mas também traz consigo, implícita, a distinção entre ser potencial e ser real. Sem ela, o mundo deixa de ser um conjunto de coisas reais e vira uma simples idéia.
O possível lógico, que para Santo Tomás era o “possível equívoco” (aequivoce possibile), sem a consideração da transcendentalidade do ente acaba por engendrar aberrações. Definamos os termos: possível lógico é aquilo que não possui nenhuma contradição lógica interna e pode pensar-se como verdadeiro. Há, por exemplo, uma possibilidade matematicamente mensurável de que alguém de costas para um muro atire trezentas pedrinhas de cinco milímetros para trás e elas se encaixem exatamente em trezentos buracos de dez milímetros no muro. Ocorre que, além dessa possibilidade lógica — mero ente de razão —, deve haver uma possibilidade ontológica sem a qual o possível lógico torna-se suposição infantil. Ora, como o acaso não pode ser o princípio das coisas que se ordenam a um fim, pois se o acaso tivesse uma finalidade não seria ocasional, estamos neste exemplo das pedrinhas naquilo que o filósofo e teólogo Jaime Balmes chamava de impossibilidade de senso comum: o meramente possível (possibilidade logarítmica) pode até ter uma função instrumental num teorema filosófico, mas não pode ser o esteio, a premissa fundamental; esta há-de ser uma evidência. O contrário implica construir sobre areia movediça.
E é sobre possíveis lógicos (analogamente assim chamados, para o caso de que se trata) que boa parte da filosofia pós-escolástica se apóia. Porque, parafraseando Heidegger, ela esqueceu-se do ente. A propósito, à pergunta de Heidegger “por que há o Ente e não o Nada?”, que já denota um abandono da metafísica clássica, poderíamos jocosamente responder: porque uma inteligência sem entes reais, extra mentis, é esquizofrenia pura. Coisa de louco.
* Outra questão importante é “Sobre a existência de Deus nas coisas” (De existentia Dei in rebus, I, q. VIII), onde Santo Tomás mostra que Deus está nas coisas, sim, mas não como parte da essência delas. Ele está nelas virtualmente, ou seja: assim como o agente está naquilo que faz.
** Prefiro o particípio “sentinte” ao neologismo “sensiente”, adotado por alguns estudiosos.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Contra Impugnantes itinerante: palestra de Carlos Nougué em Campos Grande (MS)
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Agradecimento ao "Captare's Battle Site"
O corpo totalmente sujeito à alma: o estado dos beatos glorificados
A perfeita submissão da potências inferiores da alma às superiores será, de acordo com Santo Tomás, uma das notas distintivas dos corpos dos glorificados que verão a Deus. Hoje, como a experiência o mostra de forma inequívoca, estamos sujeitos às intempéries das paixões (que são um movimento veemente do apetite sensitivo), o que muitas vezes nos impede de alcançar a excelência do ato propriamente humano. Em resumo, ser o que essencialmente somos tornou-se algo custoso, após o pecado original. À luz dessa observação torna-se especiosa a frase de Píndaro: “Homem, torna-te o que tu és”!
Diz o Aquinate na obra-prima Compêndio de Teologia:
“Os corpos dos beatos ressurgidos não serão corruptíveis, nem retardadores [das ações próprias] da alma, não lhe resistindo em nada. (...). Daí se pode concluir qual seja a constituição dos corpos dos glorificados. A alma é forma e motor do corpo. Como forma, não apenas é princípio do corpo quanto ao ser substancial, mas também quanto aos acidentes que não são causados no sujeito pela união da forma com a matéria. Além disso, quanto mais forte for a forma, tanto menos terá a sua atuação sobre a matéria impedida por algum agente externo. (...) Ora, como a alma beata estará em sumo grau de nobreza e de força, porque unida ao primeiro princípio de todas as coisas, ela conferirá ao corpo a si divinamente unido, em primeiro lugar, o ser substancial, tendo-o sob o seu império de modo nobilíssimo, e, por isso, ele será sutil e espiritual. Dará também a alma ao corpo uma outra qualidade nobilíssima, qual seja, a glória da claridade, e, em virtude dela, o corpo não poderá ser modificado na sua disposição, que é a de ser impassível; e porque também ele obedecerá totalmente à alma, como o instrumento obedece ao agente motor, tornar-se-á ágil. São, portanto, quatro as condições dos corpos dos beatos: sutileza, clareza, impassibilidade e agilidade”.
Ah, Tomás, deste pequenino trecho sobre o estado perfeito que nos espera no céu tantas ilações podemos fazer com relação ao nosso atual estado!
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
São Pio X como manda o Evangelho: sim-sim, não-não. As relações entre a Igreja e o Estado (X)
6. Que seja preciso separar o Estado da Igreja, é esta uma tese absolutamente falsa, um erro perniciosíssimo. Com efeito, baseada nesse princípio de que o Estado não deve reconhecer nenhum culto religioso ela é, em primeiro lugar, em alto grau injuriosa para com Deus; porquanto o Criador do homem também é o Fundador das sociedades humanas, e conserva-as na existência como nos sustenta nelas. Devemos-lhe, pois, não somente um culto privado, mas um culto público e social para honrá-lo.
7. Além disto, essa tese é a negação claríssima da ordem sobrenatural. De fato, ela limita a ação do Estado à simples demanda da prosperidade pública durante esta vida, a qual não passa da razão próxima das sociedades políticas; e, como que lhe sendo estranha, de maneira alguma se ocupa da razão última delas, que é a beatitude eterna proposta ao homem quando esta vida, tão curta, houver findado. E, no entanto, achando-se a ordem presente das coisas, que se desenrola no tempo, subordinada à conquista desse bem supremo e absoluto, não somente o poder civil não deve obstar a essa conquista, mas deve ainda ajudar-nos nela.
8. Essa tese subverte igualmente a ordem muito sabiamente estabelecida por Deus no mundo, ordem que exige uma harmoniosa concórdia entre as duas sociedades. Essa duas sociedades, a sociedade religiosa e a sociedade civil, têm, com efeito, os mesmos súditos, embora cada uma delas exerça na sua esfera própria a sua autoridade sobre eles. Daí resulta forçosamente que haverá muitas matérias que elas deverão reconhecer como sendo da alçada de ambas. Ora, venha a desaparecer o acordo entre o Estado e a Igreja, e dessas matérias comuns pulularão facilmente os germes de contendas, que se tornarão agudíssimos dos dois lados; a noção da verdade será, com isso, perturbada, e as almas ficarão cheias de grande ansiedade.
9. Finalmente, essa tese inflige graves danos à própria sociedade civil, pois esta não pode prosperar nem durar muito tempo quando não se dá nela o seu lugar à religião, regra suprema e soberana senhora quando se trata dos direitos do homem e dos seus deveres (...)."
Educar para a virtude
Sidney Silveira
O Pde. Garrigou-Lagrange nos deixou, em alguns de seus livros, verdadeiros cursos sobre a arte homilética, compondo não apenas belos temários orientadores para os sacerdotes, mas também indicando o modus retórico de que deve valer-se o padre para ser persuasivo e incutir na alma dos fiéis a necessidade premente de afastar-se do pecado e usar dos meios adequados para iniciar a obra da própria salvação. Exórdio, narrativa, provas, peroração e conclusão devem encadear-se de forma harmônica, sempre partindo de uma dificuldade proposta, que deve ser resolvida de maneira clara na conclusão.
Algumas regras são universais:
a) nunca partir de idéias por demais abstratas que só uma minoria consegue alcançar, mas começar sempre pelo mais simples e acessível — tanto a doutos como a indoutos;
b) pela mesma razão, não incluir na homilia questões teológicas altamente dificultosas, pois isto mais afasta do que aproxima os fiéis das verdades reveladas, além de trazer muita confusão. Um exemplo: segundo o Pde. Garrigou, o tema da predestinação deve ser relegado aos seminários, jamais sendo mencionado nas Missas, a não ser de forma passageira e acidental. Que prudência, a do grande teólogo tomista! Se observarmos bem, todos os que tentaram resolver em absoluto o tema da predestinação acabaram caindo em heresia;
c) usar de linguagem clara, escorreita, pois o rio caudaloso da verdade corre melhor em leito límpido. Por isso, jamais se deve acanalhar o discurso com palavrões ou ironias desnecessárias, que mais induzem ao sarcasmo que à caridade. A ironia, quando for de fato a propósito, deve ser usada com parcimônia e sempre tendo em vista o bem da alma dos ouvintes.
d) partir sempre da premissa de que a homilia deve educar para as virtudes (as cristãs, é claro, cujo insumo é sobrenatural). Ter essa idéia em mente evita escolhos de todo tipo.
Essas e outras orientações úteis para os padres servem também para os professores — em particular os de filosofia. Sobretudo a de que é preciso educar para as virtudes (refiro-me primordialmente às morais). Sem elas o conhecimento sempre se transforma em instrumento de domínio, em uso maquiavélico do poder.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Premissas do humanismo católico
terça-feira, 3 de agosto de 2010
O bem que faz o incentivo dos amigos: resoluções tomadas
Sidney Silveira
Minha ida a Belo Horizonte neste último final de semana, a convite do pessoal do Index Bonorvm, muito me comoveu, e por diversas razões. Foi a injeção de ânimo de que eu realmente precisava.
Tocou-me a carinhosa acolhida da parte de pessoas a quem não conhecia pessoalmente, assim como o fato de ouvir delas, de forma tão enfática, que o Contra Impugnantes e a editora Sétimo Selo têm um papel do qual não podem declinar de maneira alguma. Um papel no plano doutrinário, a partir da divulgação da obra do Doutor Comum da Igreja. Um papel de combate ao modernismo, ainda que a derrota — no plano natural, meramente humano — seja certa.
Foram todos muito gentis e atenciosos, e, ouvindo as razões que eu lhes desfiava e vendo a minha estafa, convenceram-me a vencer o cansaço e enxergar uma razão maior para prosseguir. Disse-lhes então que se até os Santos desanimaram em alguns momentos, por que não eu, tão grande e reincidente pecador, não seria, em diferentes ocasiões, acossado pela tentação de entregar os pontos, vendo um projeto tão amado se esboroar?
No plano prático, entre outras coisas expliquei-lhes que, mesmo não sendo homem de negócios, pois me falta o tino, apostei as fichas financeiras — as que tinha e as que não tinha — no investimento de criar e manter a Sétimo Selo, juntamente com um amigo. Era, entre outras coisas, uma forma de pagamento a Santo Tomás de Aquino, instrumento de minha tardia conversão juntamente com outros que à Providência aprouve escolher.
Disse-lhes que, passados cinco anos e oito livros, dada a velocidade das vendas (a propósito, todos têm saída, mas em ritmo lento, pois no dia em que filosofia medieval cristã for best-seller estaremos no céu), cheguei a um dilema. Tenho cinco livros prontos para editar, e dois para reimprimir (o do Pe. Calderón e o De Malo estão esgotados), e das duas, uma: ou faço isto agora ou começo a quitar dívidas, sob o risco de transformar a coragem em temeridade. A opção inicial tinha sido, portanto, a de deixá-la hibernar. Ademais, muitas vezes Deus quer que os nossos projetos de vida simplesmente se percam, dêem com os burros n’água, para que nos voltemos mais firmemente a Ele e enxerguemos, como dizia São Francisco de Sales, que todas as alegrias deste mundo, sem nenhuma exceção, têm mescla de espinho e dor. Estou prestes a ver se é esta a vontade d’Ele neste caso.
Convenceram-me por ora os amigos de BH a prosseguir com os textos do Contra Impugnantes (o que farei a partir da próxima semana), ainda que num ritmo não tão acelerado como o dos anos anteriores, e começar uma campanha de apoio à Sétimo Selo, no seguinte sentido:
1- Comprem as obras em nossa loja virtual. Sobretudo o belíssimo livro do Chesterton (pois ainda temos muitos no estoque, bem mais que os outros).
2- Quem puder e quiser, faça uma doação de qualquer quantia na conta da Caixa Econômica Federal – CEF, Ag. 3106, Op. 003, Conta-Corrente 245-2.
Se vendermos os mil e poucos livros que ainda temos do Padre Brown de Chesterton, bastará para o projeto se retroalimentar, e, de imediato, lançaremos o livro de São Bernardo já anunciado, e ainda um outro. Portanto, se querem ajudar, amigos, comprem esta belíssima obra chestertoniana (sem a menor falsa modéstia, lindamente editada) e dêem-na de presente aos amigos — além de a lerem, é claro.
Se eu fosse um homem de negócios e a editora um ganha-pão (costumo dizer que ela é “tira-pão”), jamais exporia tal situação de público. Mas vejo-a como um projeto civilizacional e, neste contexto, abro o meu coração incentivado pelo comovente apoio não apenas do pessoal de BH, mas também dos amigos que me enviaram emails nos últimos 10 dias.
Quanto ao Contra Impugnantes, continuaremos nos próximos dias.
P.S. O pessoal do Index Bonorvm registrou minha visita e a do Nougué neste post. Pela parte que me diz respeito, foram muito generosos, porque, depois de uma semana dificílima, a palestra ficou muito aquém do que eu tinha programado.
P.S.2. Os links da loja virtual estão momentaneamente fora do ar, pois estamos mexendo nela. Daqui a pouco voltarão ao normal.