sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Teologia segundo Santo Tomás de Aquino


Sidney Silveira
Passo aqui apenas para dar a notícia de que, a convite do pessoal do Index Bonorvm, no próximo dia 31/08 (sábado) estarei em Belo Horizonte, onde proferirei a palestra A Teologia segundo Santo Tomás de Aquino. No dia seguinte, também em BH, é a vez do Nougué.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Até breve

Sidney Silveira
O Contra Impugnantes e a editora Sétimo Selo entrarão em recesso por um período indeterminado. O primeiro sobretudo por falta de tempo de minha parte, mas também por outras questões de foro íntimo, entre elas a de saber qual é a vontade de Deus no que diz respeito a este modesto espaço de defesa da fé (a propósito, advirto que não se trata de nenhuma mudança com relação à nossa postura doutrinal de combate aos frutos nefastos do Concílio Vaticano II, influenciado pelo modernismo liberal que invadiu a Igreja). Talvez, nas próximas semanas, eu passe por aqui para anunciar um curso de grego clássico que será ministrado pela internet por uma professora amiga, e que penso ser de grande interesse para estudantes de filosofia e letras.

Quanto à editora, todos os lançamentos de livro estão por ora suspensos, pois financeiramente fui muito além do que a prudência aconselha e hoje estou convicto de não ser a pessoa indicada para levar este projeto adiante, por várias razões que não cabe enumerar aqui. Estou estudando a possibilidade de fazer a transição de forma a preservar a linha editorial — ou seja: de publicação de clássicos da filosofia e teologia cristã, com enfoque tradicional. Darei notícias a respeito disso, quando as tiver.

Agradeço, do fundo do coração, a todos os amigos pelo apoio, tanto ao Contra Impugnantes como à editora Sétimo Selo — que completa em agosto cinco anos de existência. Pela quantidade de emails que recebo, penso que este aviso era o mínimo que me caberia fazer. Com lágrimas de saudade prévia, despeço-me com um "até qualquer dia".

Recolher-me-ei aos meus estudos e orações. Eventualmente, é possível que me envolva na realização de algum curso de filosofia tomista. Que Nossa Senhora nos abençoe a todos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Novo número da revista “Le Sel de La Terre”: o Pe. Julio Meinvielle





Sidney Silveira
Está estupendo o número 73 da revista Le Sel de La Terre, dos dominicanos de Avrillé, como se pode ver pelo índice acima.

Um dos artigos, particularmente, interessa: o breve ensaio Un Théologien de l’Histoire, sobre o Pe. Julio Meinvielle, que traça um perfil desse combatente argentino que, entre vários méritos intelectuais, teve o de refutar de forma definitiva os funestos erros de Jacques Maritain em dois livros: Problèmes temporels et spirituels d’une nouvelle chrétienté e Humanisme Intégral. Erros com relação ao conceito de "pessoa humana" que tanta influência tiveram entre teólogos modernistas que seriam peritos do Concílio Vaticano II. A propósito, não é ocioso lembrar que Maritian foi aclamadíssimo ao final do Concílio; foi, sem dúvida, um de seus inspiradores filosóficos.

O artigo nos remete a inúmeros insights da obra de Julio Meinvielle. Este nos advertira que a trama histórica não é apenas o tecido complexo e heterogêneo das ações humanas, mas, sobretudo, o pensamento de Deus escrito no tempo. Neste sentido, a história seria a luta entre os direitos de Deus sobre as criaturas e a revolta orgulhosa destas com relação àqueles. Para a teologia da história do Pe. Meinvielle, os três protagonistas dessa trama são, inequivocamente, Deus, o diabo e o homem.

A análise de Meinvielle sobre as revoluções que puseram abaixo o edifício da Cristandade a partir do Renascimento é de grande argúcia. São três, em síntese: a revolução religiosa de Lutero, que inaugura uma cultura naturalista e racionalista; a revolução liberal, política, de 1789, que engendra o materialismo em sociedades cada vez mais fechadas à graça de Deus; e a revolução comunista, que lança a pá-de-cal sobre os verdadeiros valores cristãos, inaugurando um despotismo genocida sem precedentes, igualmente materialista. Protestantismo, liberalismo e comunismo representam, na lúcida análise do Pe. Meinvielle, as três grandes revoluções que configuram o mundo em decomposição em que hoje vivemos. Três grandes revoluções regidas por impecável lógica interna.

Os livros Crítica de la concepción de Maritain sobre la persona humana e De Lammenais a Maritain estão nos respectivos links. Aconselho grandemente a leitura.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

"Index Bonorvm" o Magistério da Igreja e o Concílio Vaticano II


Sidney Silveira
No próximo dia 1º de agosto (domingo), o Nougué dará uma palestra em Belo Horizonte sobre o tema que dá título a este post. Achei muito interessante o aviso final do texto de divulgação do pessoal do Index Bonorvm: "Informamos de antemão que não aceitamos modernistas no grupo". É o que chamo de profilaxia...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Ardis do mal

Malacoda e seus demônios (Inferno, Canto XXI)

Sidney Silveira

Agradeço a todos os amigos que me escreveram emails generosos sobre o conto Claro-Escuro, assim como ao professor Antônio Angueth, tradutor de Chesterton. Estou sem tempo para agradecer-lhes individualmente, e, portanto, fica aqui o registro do meu “obrigado”.

A carne, o mundo e o demônio (no caso, o Malacoda do Inferno de Dante) jogam nesse texto o papel não apenas de seduzir, mas de desestabilizar o equilíbrio espiritual e psicológico do personagem principal que, ao final, decide fazer a sua escolha “no caminho da fé”. O xadrez, ali, é apenas uma metáfora das possibilidades que sempre se apresentam, desafiadoramente, à nossa vontade e à nossa inteligência.

Mais não digo.

sábado, 10 de julho de 2010

Um conto

Sidney Silveira
Tirei da gaveta o conto abaixo, escrito no momento da minha conversão ao Catolicismo, há cinco anos. Compartilho-o com os leitores do Contra Impugnantes. A imagem de São Pedro que o encima é apenas uma referência ao título...

Claro-Escuro

Rembrandt: São Pedro na prisão

Sidney Silveira
O sublime desequilibra” (Longino)

Ele desce os degraus com o coração em descompasso, pois o medo é a imaginação quando se desgoverna, um crédito dado a hipóteses que mudam a sintaxe das coisas. O homem chega a uma sala e observa, sobre os móveis antigos de madeira nobre, esculturas barrocas de cores pálidas. Parecem mirá-lo com ar enigmático, além de exibir músculos mais pletóricos do que sugere a representação da santidade, na arte da estatuária, não sendo os santos, de acordo com a opinião da maioria, atletas olímpicos a ostentar os dotes físicos, mas sim as virtudes do espírito, forjadas na renúncia e na dor.

O homem não reconheceu aquelas imagens, em razão da pouquíssima claridade, e agora caminha por um dédalo de paredes com pequenas entrâncias por onde penetraria a luz, se a houvesse, paredes de material não identificado por ele, semelhante a uma rocha da qual parece escorrer algum líquido não potável, por fissuras. No final da uma segunda escadaria ele enfim descobre a entrada: uma porta rústica com símbolos gravados, como a suástica invertida e o delta maçônico sob uma espécie de romã, e, acima deles, dois gonzos de bronze. Como estivesse encostada, ele se arriscou a entrar e deparou com outra porta, esta de cristal com cortes oblíquos no centro e nas laterais, e através dela percebeu aproximar-se uma estranha figura humana — distorcida, é verdade, pelo recurvado dos desenhos no cristal —, impressão em parte dissipada quando um sujeito de rosto amistoso lhe deu passagem com a atitude hierática do lacaio orgulhoso [O senhor Malacoda espera no gabinete. É no final do corredor, à esquerda] [Obrigado]. Enquanto descia, por instantes ele perdeu a referência do tempo, mas ainda conseguiu sorrir com simpática covardia para o serviçal que, a alguma distância, acenava com uma mão e lhe apontava o caminho com a outra.

O corredor continuava noutro declive, desta vez sem degraus, mas por uma rampa de calçamento irregular. A terceira porta com a qual ele se confrontou, desde que começara a descer, era bonita demais para ser apenas útil, e parecia indicar outra finalidade além de dar passagem à sua angústia. A beleza sempre traz consigo uma urgência, render-se ou lutar, e o inquietante da beleza desse lugar era que parecia emancipar-se das coisas, como se houvesse um desacordo entre matéria e forma, algo que o homem não saberia bem definir. As cores dos objetos eram frias, o que o incomodou, além do fato de ele também não identificar as imagens estampadas nesta outra entrada, não poder chamá-las por um nome qualquer. Dar nome às coisas é antecipar-lhes um destino, e o dele parecia correr sérios riscos, naqueles meandros [Seja bem-vindo] [Obrigado, moça. O senhor Malacoda está?] [Um momento, por favor. Vou chamá-lo ao interfone]. Nos minutos de espera, o deleite visual reduziu-lhe a vigilância do medo, graças àquela mulher, atraente como as demais coisas dali, porém uma atratividade feita de avessos, sendo pessoa em cujo olhar havia algo de viril desacato, impavidez com mais de fêmeo que de feminino, mais força que delicadeza. Seja como for, o fato é que o sorriso da jovem rompeu a seqüência de acontecimentos ambivalentes até então desencadeados, pois no agora da vontade não existe caos, e ali havia o súbito embrião de dois quereres.

[Salve, amigo! Eu esperava por você] [Olá, senhor Malacoda. Enquanto conversava com a sua assistente, eu estava observando aqueles belos quadros. Mas não conheço nenhum. De quem são?] [Na verdade são de autor desconhecido. Mas isso é o de menos, meu caro. Que diferença faz o nome do abismo para quem nele se precipita?].

Sem mais conversa, o senhor Malacoda levou o seu convidado a uma sala próxima e lhe apresentou o tabuleiro de xadrez, peça de magnífico trabalho de marchetaria com jade nas laterais, e, no centro, as casas escuras e claras eram feitas de ônix e marfim incrustados. As peças do jogo eram de uma espécie lustrosa de pedra-sabão e tinham as formas encompridadas semelhantes a figuras de El Greco, pintor que ele muito apreciava. Eram harmoniosamente adequadas ao tamanho do tabuleiro, deixando no homem a certeza do notável senso de proporções do artista que fizera o trabalho, da perfeita ordenação de tudo a um fim determinado: mesclar as idéias de bem e de mal nas sessenta e quatro casas do jogo. O senhor Malacoda ligou o abajur de uma luz amarelada que, incidindo sobre o tabuleiro, lhe deu aspecto ainda mais vistoso. Acendeu um charuto, acertou o relógio do jogo e cumprimentou o adversário enquanto passava a língua pelo lábio inferior com um vagar lânguido, atitude que se somou às outras coisas enigmáticas desse lugar cuja arquitetura, talvez por estar em terreno inclinado, parecia fazer tudo convergir para baixo, objetos e pessoas.

O jogo transcorria tenso, em equilibrado antagonismo. O Sr. Malacoda adotara uma aparentemente poderosa variante da
Defesa Karo-Kann, talvez uma novidade teórica, pois não constava de nenhum dos mais importantes informativos do xadrez top ten das últimas décadas que ele compulsara, e de novo a sensação de estar entre coisas herméticas fez-lhe saltar o coração. A bela assistente do Sr. Malacoda assistia à partida com um sorriso agora maquiavélico, distinto daquele com que o recebera. Estava com o semblante sardônico de quem parece ordinariamente capaz de transformar vileza em fetiche. Quanto a ele, não lhe restava outra coisa senão fazer o próximo lance e fugir ao olhar triunfante de seu anfitrião e à desconcentrante e voluptuosa presença da mulher. Bem se poderia dizer que o tempo congelara, tão prenhe de significados era aquele momento em que céu ou inferno estavam perto de definir-se. Para o convidado, a partida parecia perdida naquela posição, razão pela qual ele tentaria, num último e supremo esforço mental, fazer a jogada certa antes que se esvaíssem os minutos de que ainda dispunha.

O homem respirou fundo, fechou os olhos por instantes e silenciou a alma. Não mais admiraria as paredes repletas de quadros. Não mais olharia para a moça de tez agressivamente sensual. Não mais se encantaria pela beleza das peças do tabuleiro. O perfume do charuto do Sr. Malacoda não o distrairia, nem o garboso anel heráldico que lhe enfeitava um dos dedos. Muito menos lhe tiraria a atenção o Concerto nº 2
de Rachmaninoff, para piano e orquestra, que ele tanto apreciava e o seu anfitrião, adivinhando-lhe o gosto musical, pusera para tocar no cd player. Por um ato positivo da vontade ele impôs aos sentidos a noite. O relógio era-lhe desfavorável e a estupenda variante do Sr. Malacoda era ciência nova, na verdade desconhecida desde os primórdios do tempo, e por isto só lhe restava fazer a jogada por um caminho de fé. Jogada nascida de um coração morto para o mundo.

Hoje, cinco anos após a partida contra o Sr. Malacoda, tendo à frente um tabuleiro de beleza gasta e sóbria, ele refaz todos os doze lances a partir daquela jogada decisiva. E traz viva na lembrança a brusca mudança facial tanto do oponente como de sua secretária, ao final do jogo. Tinham passado do sutil escárnio ao desespero, e sequer se despediram quando o homem deixou-os ali sem olhar para trás, subindo por onde descera, até chegar à porta principal daquela casa. Ao batê-la atrás de si com satisfação, ouviu o barulho de algo chocar-se com o chão. Abaixou-se, pegou o escapulário que lhe caíra do bolso e saiu em paz, na claridade do dia...

domingo, 4 de julho de 2010

Católicos tradicionais argentinos vão ao Parlamento em defesa da lei natural

Sidney Silveira
Católicos argentinos estão movimentando-se para fazer uma grande manifestação em frente ao seu Parlamento, no próximo dia 13/07, contra o projeto de lei que propôs, recentemente, a aprovação do "matrimônio" homossexual — como podemos ver no Stat Veritas e, também, no site da FSSPX sul-americana. Como se diz num desses links, da intangibilidade da família depende a coesão do corpo social. Por razões óbvias, iniciativas como esta podem e devem ser divulgadas por todos nós. Servem-nos de exemplo a ser seguido.

sábado, 3 de julho de 2010

Analogia/ abstração x univocidade/ intuição


Sidney Silveira
Afirmou-se
neste vídeo que a analogia é uma espécie particular de relação entre nomes, coisas e conceitos mentais. Mas ficou-se ali por dizer que todo conceito, enquanto tal, possui como propriedade mais importante a comunicabilidadepropriedade essa que transforma os conceitos em universais. Ou seja: um conceito só é universal porque expressa algo comum a muitos; caso contrário, sequer poderia ser classificado como conceito.

Assim, uma das características de qualquer conceito é a não-repugnância para estar em muitos. Em resumo, o conceito — como produto final do ato intelectivo — é fruto da abstração dos dados individuantes. Pode-se por isto dizer que o conceito tem uma natural vocação à universalidade, dado que a comunicabilidade dos conceitos é uma propriedade que pertence tão-somente à natureza abstraída da matéria, e não à natureza singuralizada na matéria. Lembremos que a etimologia mesma do vocábulo “universal” (unum versus multa) indica o seguinte: a universalidade é propriedade de algo que se comunica a muitos. E se comunica — no caso que nos interessa — justamente por ser abstraído de muitos.

Não se chega ao conceito de “homem” apenas por Sócrates (pois este é humano, mas não é a humanidade), e sim abstraindo de Sócrates as notas essenciais comuns, ou seja, o eidos que compartilha com os demais entes de sua espécie. Por aqui podemos muito bem ver a riqueza do axioma escolástico que dizia: os entes operam a partir e nos limites de suas formas; ou, noutra expressão, a forma é o princípio de operação; e a matéria, o princípio de individuação.

Se levarmos tais premissas às últimas conseqüências, veremos com clareza que a negação dos conceitos universais traz consigo, implícita ou explicitamente, a negação da teoria da abstração. Traz consigo implícita a afirmação da teoria da univocidade do ser, em metafísica, e do intuicionismo, em gnosiologia. Estes últimos são, na verdade, a herança nominalista da filosofia tardo-medieval que fez nascer a filosofia moderna, e esta, negando a gnosiologia aristotélico-tomista, acabou engendrando toda a sorte de esquizofrenias em forma das mais sofisticadas — e aporéticas — teorias do conhecimento. Marco cujo ancestral longínquo, o elo perdido, é o frade franciscano Duns Scot, o Doctor Subtilis, que se for mesmo canonizado é mais um sinal de que o fim se aproxima...

O que Étienne Gilson dizia de Kant — a saber: que a sua filosofia deve ser contemplada “à luz do patológico” —, serve para grande parte das teorias do conhecimento posteriores a Descartes. Quase todas, por infringir esse dado fundamental da gnosiologia realista, cometem o crime de lesa-senso comum, pois é evidente que conhecer, para o homem, é um processo, muitas vezes penoso, e não um ato intuitivo, não um flash da inteligência.

Ignore-se esse modo propriamente humano de conhecer, e se abrirão as portas da filosofia para toda sorte de erros e, o que é pior, mentiras e enganos.