sábado, 29 de dezembro de 2012

“Liberalismo e Catolicismo”, do Pe. Augustin Roussel


Sidney Silveira
O Prof. Nougué me pede para anunciar aqui no Contra Impugnantes — o que faço com muito gosto — o lançamento do livro Liberalismo e Catolicismo, do Padre Augustin Roussel. O valor da obra é de apenas R$ 32,00, e as informações para a sua aquisição estão neste link.
Em linguagem simples e direta, entre outras coisas o Padre Roussel vai mostrando não apenas a falsidade do catolicismo liberal, mas também como este espírito de apostasia se imiscuiu nas fileiras eclesiásticas, instaurando o ecumenismo e o laicismo, na forma como hoje são propostos.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Santo Tomás de Aquino e o Islã


Sidney Silveira
PEQUENA ERRATA: Lapsus linguae: Onde se ouve, no vídeo, "apostasia a ordinis", entenda-se"apostasia ab ordine".



domingo, 23 de dezembro de 2012

Palestra no Rio


Sidney Silveira
Agradeço a todos os que compareceram, na quentíssima tarde deste sábado (22/12), à palestra O Mito da Idade Média — realizada na Igreja de Santana, no Rio, com participação do meu irmão Ricardo da Costa (a cujo trabalho faz referência este link do Wikipedia) e deste mísero escriba. 

Creio que, para os presentes, algumas  idealizações e crenças equivocadas em relação ao período medieval se desfizeram por completo.

Para nós, foi um ótimo momento de descontração.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Informações

Sidney Silveira
Publico este breve texto para anunciar o seguinte:

1- Como os vídeos do mini-curso Ascese e Filosofia à luz do Tomismo começarão a ser postados no site apenas após o Natal — e como tenho recebido vários pedidos de inscrição ainda hoje —, estendo até o dia 27/12 o prazo para os interessados em participar. Até lá, portanto, podem seguir os procedimentos indicados neste link.

2- Cada aula será dividida em vários pequenos vídeos, pois os estou gravando na medida em que o calor no Rio de Janeiro permite, e cada um deles pelo período em que, no meu atual estado, suporto falar sem interrupção (cerca de 40 minutos). O resultado é que, ao final, cada aula terá mais tempo do que eu havia anteriormente programado — o que é ótimo.

3- Em breve, todos os inscritos receberão em seus e-mails as senhas para acesso à área restrita do site onde será disponibilizado o curso.

Muitíssimo obrigado a todos.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Última chamada para o curso "Ascese e Filosofia à luz do Tomismo": Estrutura do conhecimento em T. de Aquino


Sidney Silveira
Encerram-se HOJE (20/12) as inscrições para o mini-curso Ascese e Filosofia em Santo Tomás. Portanto, os interessados ainda têm até o final do dia para entrar para o grupo que já se inscreveu. As informações para a inscrição estão neste link.

Lembro que, quem escolher fazer depósito — em vez de pagar via PayPal —, pode realizá-lo nas Agências da Caixa Econômica, em casas lotéricas ou pela internet.

Em breve, darei novas informações aqui no Contra Impugnantes.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Palestra no Rio, neste sábado (22/12)


Sidney Silveira
Meu irmão Ricardo da Costa aceitou convite para proferir uma conferência aqui no Rio, neste sábado — ocasião em que falará sobre a Idade Média. Lá estarei com ele.

Os amigos do Rio e adjacências interessados devem confirmar inscrição enviando mensagem para o e-mail acima.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Niemeyer e o êxtase de Narciso

Igreja de São Francisco de Assis, em BH.

À sagaz amiga Natália.

Sidney Silveira
A beleza está no vértice da realidade. Mas não apenas como esplendor das formas captáveis pelos sentidos, e sim como manifestação de aspectos transcendentais do ser, acessíveis ao espírito. Ela encerra a relação de conveniência, ou de sintonia, entre uma propriedade universal do ser e a inteligência que a contempla. Se a beleza é, pois, agradável aos sentidos, a começar pela visão (pulchra dicitur quae visa placent, afirmava Santo Tomás), é porque todas as suas notas distintivas — como ordem, harmonia, proporção, integridade, inteligibilidade, etc. —, ao maravilhar o espírito, acarretam salutar refluência deste sobre as potências sensitivas. Daí dizer-se que a beleza é aprazível, da mesma maneira como a feiúra, a desordem, a desproporção, a ininteligibilidade e as imperfeições são, em geral, repugnantes.
O impacto sensorial causado pelas coisas verdadeiramente belas, às quais ninguém é indiferente, não implica que a beleza não possua razões. Ao contrário, onde não há inteligência não pode haver beleza em sentido próprio; um ruminante na catedral de Notre Dame ou diante de um poema de Camões estará na mesma situação existencial daquela do curral onde vive: mascando o seu capim com olímpica indiferença. Em suma, quanto mais corrompida estiver uma inteligência, menos capacitada estará para a fruição da beleza, pois esta não se detém no aspecto sensível, conquanto o abarque. Neste contexto, podemos dizer que, se não alcançasse nenhuma inteligência, o fulgor das coisas belas se desvaneceria, tornar-se-ia inócuo. A beleza existe para conduzir as criaturas inteligentes ao êxtase, à pletora de amor.
As intermináveis homenagens midiáticas recebidas na última semana por Oscar Niemeyer, assim como a sanha dos críticos que enfatizaram o seu comunismo para desmerecer-lhe a obra, nos levam a uma indagação: algum dos lados teria, de fato, razão? Seria a arquitetura de Niemeyer realmente bela e genial? Seria a arquitetura de Niemeyer prejudicada por sua adesão a uma ideologia assassina, intrinsecamente feia? Na quase totalidade dos casos, tanto as louvaminhas monocórdicas como os ataques ferinos passaram ao largo da obra mesma do arquiteto, como se fora coisa de menor importância, o que denota o aterrador sintoma da incapacidade média de apreciação hoje imperante — espécie de patologia coletiva do nosso tempo.
Pois muito bem. Uma das características da modernidade é a mutilação do espírito, aquilo que o filósofo Giovanni Reale chamava de dissolução das formas, conceito que podemos traduzir dizendo o seguinte: no mundo onde o nada se transformou em valor, os homens são chamados a adorar o vazio — espécie de vocação às avessas, feita de um torpor anêmico totalmente distinto do pasmo, do desfalecimento dos sentidos experimentado por quem, ao contemplar a beleza em sua real dimensão, mantém os olhos da alma abertos. A título de exemplo, inapetência espiritual é o que sente quem entra numa igreja projetada por Oscar Niemeyer: ali, nada conduz nem induz o homem a persignar-se, dobrar os joelhos e se prostrar perante a Suma Beleza. São templos irreligiosos em sua sinuosidade simplista, onde o belo (demos, a título de procedimento dialético, que o seja), justamente por ser antifuncional e infantil, não possui a reta ordenação ao bem, outro transcendental do ser.
Noutras palavras, nessas igrejas as formas de grandiloqüentes curvas são um fim em si mesmo, e não um meio conducente a uma ordem superior, como deve dar-se num templo. A propósito, a riqueza de qualquer forma artística é referir-se a algo que não é ela mesma, mas ser ícone, símbolo de realidades que a transcendem. Da Epopéia de Gilgamesh aos Lusíadas, dos templos góticos às polifonias de Bach, do canto gregoriano ao D. Quixote, da Pietà de Michelangelo ao Réquiem de Mozart, a grande arte sempre serviu como veículo para a elevação do espírito, pois a excelência tira o homem do marasmo, da zona de conforto, obriga-o a dar o primeiro passo para cumprir o famoso repto do poeta grego Píndaro: “Homem, torna-te o que tu és”. Em suma, a excelência leva-o a se confrontar consigo mesmo e a colocar o mundo em perspectiva.
Por sua vez, a obra de Niemeyer, vista em seu conjunto, padece da mesma frívola auto-referência formal encarnada na estética das suas igrejas. Basta olharmos as obras assinadas por ele: do sambódromo, no Rio, ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói; do edifício Copan, em São Paulo, aos prédios mais famosos de Brasília; do Museu Niemeyer, em Curitiba, à sede do Parlamento Latino-Americano, em São Paulo. Trata-se da mesmíssima obra repetindo-se com alguns diferentes matizes, demarcando um estilo que apela ao traço fácil de formas arredondadas e — o que é pior — faz delas a razão de ser das obras. Então, o que seria um recurso acaba por se transformar num sestro, num truque análogo ao do cantor que, dominando a técnica do vibrato, abusa dela e faz das canções que interpreta algo insuportável de ouvir.
A arquitetura de Niemeyer é a manifestação do anti-sublime. É, portanto, o signo perfeito de uma época desespiritualizada na qual a arte se transformou, definitivamente, em sucedâneo da religião, além de muitas vezes misturar-se com a política naquilo que esta tem de pior. Época em que a inapetência para a beleza e a volúpia pelo vazio, pelo pueril, dão-nos notícia do secreto desdém do homem por si mesmo. Um homem que, sem o alimento da beleza e do bem, perde o próprio sentido de unidade e se angustia ao  julgar-se heideggerianamente circunscrito pelo nada.
As monótonas curvas de Niemeyer não são, se as olharmos desapaixonadamente,  uma vitória da simplicidade, como a princípio poderia parecer, pois a simplicidade é sempre a suada conquista da inteligência que escava a inesgotável complexidade do real e extrai dela uma seiva superiormente vivificante.
Elas representam a derrota da beleza — perdida no exato momento em que, embebida na contemplação das próprias formas, como Narciso, se imobiliza.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Questões Disputadas Sobre a Alma", de Santo Tomás, vêm à luz em linda edição


Sidney Silveira
Universi, qui te exspectant, non confundentur, Domine.
(Todos os que esperam em vós, Senhor, não serão confundidos).
Salmo XXIV, 3-4.
Ser confundido é próprio de quem não busca a verdade. Esta é uma proposição análoga à do Salmo acima citado, o qual integra a Liturgia do primeiro domingo do Advento. Isto porque quem põe a esperança — virtude teologal — em Deus, verdade em Pessoa, ilumina a inteligência de maneira tal, que não poderá ser enganado nas coisas espirituais, ou seja: nas verdadeiramente importantes. A verdade não é, em nenhum âmbito que a possamos conceber, uma realidade adquirível fortuita ou involuntariamente; ao contrário, é necessário ao homem procurá-la com todas as forças da sua vontade, mas também com a inteligência liberta das amarras psicológicas que possam impedi-la de alcançar o objeto ao qual está naturalmente vertida: as formas inteligíveis.
Pois muito bem. Após a delicada cirurgia por que passei, restaram-me dúvidas quanto à minha saúde, ao meu emprego, à possibilidade de sair do imbroglio financeiro em que me meti, etc. Não tenho, hoje, quase nenhuma certeza quanto ao futuro imediato, razão pela qual o exercício de entrega à Divina Providência tornou-se compulsório. É como se Deus benevolamente estivesse reduzindo o âmbito das minhas escolhas, para que eu não faça tantas bobagens em escala geométrica. Impossível não ter a alma maculada por algum tipo de desalento, numa hora dessas, mesmo pedindo a Deus a dádiva da santa confiança, que, segundo Tomás de Aquino, pode definir-se da seguinte forma: uma esperança fortalecida por inabalável convicção.
Hoje porém tive uma dessas notícias revigorantes, que fazem o espírito respirar, mesmo quando quase tudo são sombras: a obra-prima Questões Disputadas Sobre a Alma está, enfim, no forno, e será apresentada ao grande público brasileiro ainda neste mês, numa edição estupenda, digna da importância de Santo Tomás de Aquino para a história da filosofia e para a Igreja. Com brilhante tradução do meu querido e nobre amigo Luiz Astorga, o livro vem à luz pela editora É com quase 500 páginas (numa edição bilíngüe) e nada menos do que 469 notas; destas, entre as que explicam os conceitos metafísicos e teológicos do Aquinate muitas são de minha lavra, muitas da lavra do próprio Luiz — além das notas remissivas às obras citadas por Santo Tomás no corpus das questões.
Neste primeiro texto de divulgação do livro, não me estenderei sobre os elevados conceitos a que chega o Doutor Angélico ao falar acerca da alma humana. Quero apenas, com enorme emoção, compartilhar com os amigos e leitores do Contra Impugnantes esta alvissareira notícia para os estudiosos da obra do Aquinate em nosso país.
Noutra oportunidade voltarei a falar deste escrito que chega a altitudes conceptuais poucas vezes vistas em toda a história da filosofia. Um escrito para quem, buscando firmemente a verdade, não possui a menor intenção de ser confundido.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O milagre do ícone da Virgem de Guadalupe


Sidney Silveira
Hoje, no dia de Nossa Senhora de Guadalupe, vale divulgar este vídeo que mostra de forma cabal tratar-se de um verdadeiro milagre, ou seja, algo que escapa a todos os processos causais naturais. Em suma, a produção de algo que está muito além das potências inscritas na forma dos entes implicados no fato em questão.

A continuação do vídeo encontra-se noutros links do Youtube.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Tira-gosto 2: Humildade, pedra angular da civilização


Sidney Silveira
Eis, aqui, mais um pequeno tira-gosto do curso Ascese e Filosofia à luz do Tomismo. Nele procuro mostrar que a humildade, a par de ser uma virtude individual pela qual o homem se põe em marcha para progredir espiritualmente, é, também, a pedra angular da civilização. Sem humildade, nenhuma das virtudes políticas, religiosas ou filosóficas pode desenvolver-se de forma efetiva. Quanto à continuação desse trecho de aula, só para os inscritos no curso...
Mas desde já dou uma dica: Qual o  verdadeiro modelo da humildade? Qual a sociedade em que esse modelo foi levado às últimas conseqüências? E, portanto, qual a sociedade em que os valores civilizacionais alcançaram o seu cume?
Bem, as inscrições para o curso continuam até o próximo dia 20. E as aulas estarão disponíveis, após esta data, neste site.
P.S. Errei de artigo, ao citar de cabeça a questão 161 da II-II da Suma: aquela definição está  no artigo 5, e não no 4 (na resposta ao quarto argumento).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tira-gosto do mini-curso "Ascese e Filosofia à luz do Tomismo"


Sidney Silveira
Disponibilizo um trecho da primeira aula, que comecei a gravar hoje (05/12), para que os interessados em se inscrever neste curso tenham uma idéia do tom que a ele imprimiremos.
Informações para a inscrição estão neste link; observações complementares, neste outro.
Reitero o meu agradecimento a todos os interessados em participar deste trabalho de divulgação do pensamento de Santo Tomás de Aquino no Brasil.
Ia eu começar a gravação desta primeira aula em minha sala, tendo ao fundo uma bela biblioteca. Mas o calor infernal do Rio me fez optar por meu quarto, com ar-condicionado. A propósito, irei dividindo cada aula em trechos, pois o meu estado de saúde ainda não me permite falar direto por mais de meia hora seguida; acabo cansando e me dói o peito. Portanto, periga cada aula ter três trechos distintos, que serão disponibilizados todos no mesmo espaço.
Outro ponto: para cada aula, estarão disponíveis textos, bibliografia e links de interesse.
As inscrições se encerram no dia 20/12.
Saudações a todos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Aspectos do Estado platônico



Sidney Silveira
Vasculhando alfarrábios e arquivos no computador, encontrei esta aula do Nougué (inteira!), que imaginava perdida. Nela são arrolados alguns princípios da doutrina política platônica. O que eu tinha, até então, eram pequenos trechos do vídeo desse dia. Partilho-o agora com os leitores e amigos do blog.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Prêmio Jabuti 2012: Rodrigo Gurgel, uma luz no fim do túnel

Sidney Silveira
Dizia o escritor austríaco Hermann Broch que o artista é alguém contrário à totalidade do seu tempo.[1] Ou seja: com a sua arte ele se coloca não apenas contra aspectos adventícios e incidentais da época em que lhe coube viver, mas sim contra os símbolos da mentalidade vigente — cujas mazelas são captadas por ele numa imagem unitária. Trata-se, portanto, de alguém cuja radical inquietude impede de buscar o beneplácito de grupelhos, mendigar reconhecimento, andar à procura de apoio como quem procura emprego. Assemelha-se, pois, o grande artista a são João no Apocalipse, quando, após comer o livro de sabor doce, porém amarga digestão (Ap.X, 9), se torna espiritualmente apto a testemunhar os acontecimentos de uma perspectiva superior. Em suma, o olho do artista foi vazado pelas sombras da eternidade, razão pela qual o aplauso do tempo presente não pode ser o vetor de sua atuação.
No caso da literatura, quando vemos uma geração inteira de escritores acomoditiciamente fazendo de tudo por um lugar ao sol no mercado de livros, procurando imiscuir-se em patotas de jornalistas e literatos para arrumar — por meio de uma camaradagem hipócrita — espaços na mídia, é sinal de que a vaca está no brejo com os sininhos balouçantes e as patas atoladas. Estamos diante de uma gente incapaz de indignar-se, a não ser contra o temível vislumbre do próprio fracasso, e portanto nos antípodas do que dizia Broch do verdadeiro artista. Esta é, em síntese, a situação média da literatura brasileira hoje: escritores de escasso talento, porém grande mobilidade nos meios de divulgação de livros, louvados de forma indigna; crítica refém de um academicismo universitário estéril; e cadernos literários ávidos pelos releases das grandes editoras e voltados mais à divulgação de feiras e eventos do que a qualquer outra coisa.
Diga-se, a propósito, que os prêmios literários são o maior desserviço à literatura que pode haver. Em essência, eles são o fomento a tudo o que é letal para a arte literária: estimulam tolas vaidades, alimentam uma crítica literária “meia boca” e servem mesmo é às cifras das editoras economicamente mais fortes — que se acotovelam para inscrever os seus livros nesses prêmios para, ganhando-os, como comumente ocorre, aumentar as vendas informando aos ávidos consumidores de novidades que esta ou aquela obra recebeu o galardão tal. Mas não nos enganemos: com raríssimas exceções, premiam-se verdadeiras nulidades literárias que mais cedo ou mais tarde irão, com justiça, para o limbo do esquecimento.
A mediocridade brasileira atual é alimentada pela quase absoluta ausência de verdadeira crítica literária; esta oscila entre o bom-mocismo e parâmetros acadêmicos fakes que envergonham uma história feita de protagonistas como José Veríssimo e Sílvio Romero (este último, malgrado os exageros de sua personalidade eriçada), Araripe Júnior, Ronald de Carvalho, Álvaro Lins, Agripino Grieco, Augusto Meyer, Afrânio Coutinho, Otto Maria Carpeaux, José Guilherme Merquior, Lúcia Miguel-Pereira, Brito Broca, Wilson Martins, Antônio Cândido (a quem faço inúmeras restrições quanto ao método e à ideologia, porém reconhecendo-o como estudioso das nossas letras) e outros.
Não há, no panorama atual da crítica, nenhum nome próximo àquilo que Machado de Assis preconizara num famoso texto de 1865, intitulado O ideal do crítico. Na ocasião, o Bruxo do Cosme Velho escrevia algo que cai como uma luva para o tempo presente: a crítica estava “desamparada pelos esclarecidos” e era “exercida pelos incompetentes”.
E escrevia mais o nosso romancista maior:
Não compreendo o crítico sem consciência. A ciência e a consciência, eis as duas condições principais para quem exerce a crítica. A crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure reproduzir (...) os juízos de sua consciência. Ela deve ser sincera, sob pena de ser nula. (...) O crítico não deve curar de inviolabilidades literárias, nem de cegas adorações”.
Após a famosa admoestação machadiana, a crítica literária brasileira conheceu belos momentos em tempos posteriores, na pena de amantes das letras como os acima citados. Contudo, a partir do final dos 60 — época em que José Guilherme Merquior reclamava da falta de cultura filosófica dos nossos melhores críticos — ela foi declinando até chegar ao atual momento, quando se encontra em situação idêntica à do tempo em que Machado de Assis dava o alerta quanto à necessidade de uma crítica literária forte e honesta, para o bem das nossas letras ficcionais.
Pois muito bem. Após quatro décadas de triste penúria, uma luz no fim do túnel acaba de surgir com o episódio do crítico Rodrigo Gurgel no Prêmio Jabuti 2012. Ele ousou desqualificar — com argumentos plausíveis e realistas — o livro de uma dessas inviolabilidades editoriais blindadas por uma mídia aduladora e de escassa cultura literária: a escritora Ana Maria Machado. Com coragem, honestidade e postura equilibrada, Gurgel deu uma sacudida para lá de necessária no letargo em que jaz a nossa literatura.
Ainda não tive oportunidade de ler sua obra Muita Retórica, Pouca Literatura – De Alencar a Graça Aranha, coisa que espero fazer em breve. Mas o episódio do Prêmio Jabuti mostra que, num cenário ainda desértico, enfim aparece alguém dotado de outra qualidade destacada por Machado de Assis naquele conhecido texto do último quartel do século XIX: independência, pois, nas palavras do autor do Brás Cubas, “a profissão do crítico deve ser uma luta constante contra todas essas dependências pessoais que desautorizam os seus juízos”.
Portanto, parabéns Gurgel! Ao ler o seu trabalho é bem provável que eu seja compelido a retirar a afirmação acima, segundo a qual não existe no atual cenário ninguém que faça jus ao passado da crítica literária no Brasil.
_________________
1- A menção a Hermann Broch e algumas expressões do primeiro parágrafo deste texto são as mesmas que fiz numa resenha sobre Raul Pompéia para o jornal O Globo, há tempos. Na época, as responsáveis do Caderno Prosa & Verso — para onde escrevi durante cinco anos — só me passavam para resenhar livros de autores mortos há décadas ou séculos, embora eu pedisse para escrever sobre obras contemporâneas. Infelizmente, a única vez em que isto aconteceu foi quando da publicação de um livro erótico com intenções literárias da lavra de Fernanda Young, cujo texto publicado foi este. Mas quando pedi para resenhar uma obra do queridinho Chico Buarque, a qual teve uma pré-venda cujos valores alcançaram milhões de reais, por ser o autor um notável compositor popular, o temor de que a crítica desagradasse aos editores foi patente, e a resposta foi “não”. Quando digo, pois, que há uma simbiose altamente prejudicial entre cadernos literários e grandes editoras brasileiras, sei do que estou falando. Até uma década atrás, a honrosa exceção ficava por conta de Wilson Martins, que em sua coluna muitas vezes conseguia ir contra a maré, como foi o caso de sua bem ponderada crítica aos livros “Estorvo”, de Chico Buarque, e “O Xangô de Baker Street”, de Jô Soares, subliteratura tão ao gosto de certo mercado oportunista. Depois, nada mais.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Informações adicionais sobre o curso "Ascese e filosofia à luz do Tomismo"

Sidney Silveira
Ø  As três aulas do mini-curso Ascese e filosofia à luz do Tomismo serão disponibilizadas na área reservada do site do amigo Marcel Assunção Barbosa, neste link — logo após o fim das inscrições, no dia 20/12.
Ø  Todos os inscritos receberão por e-mail uma senha para acesso às aulas. Os que estão pagando via Paypal já nos informam automaticamente os seus respectivos e-mails; quanto aos que decidiram pagar por depósito em conta, reitero que é fundamental enviarem uma mensagem para sidneylsilveira@gmail.com, informando os dados do depósito. Assim, saberemos os e-mails para os quais as senhas de acesso ao curso serão enviadas.
Ø  Ainda com relação aos que optarem por realizar a inscrição por depósito, lembramos que, em se tratando de conta-corrente da Caixa Econômica, este pode ser feito em qualquer casa lotérica, para quem preferir não entrar em agências bancárias nem realizar a transação pela internet.
Enquanto transcorre o prazo para as inscrições farei a gravação das aulas. Reitero desde já o agradecimento aos interessados em dar seu apoio a este trabalho de divulgação da obra de Santo Tomás de Aquino no Brasil — que, como frisei no anúncio do curso, entra agora em nova fase.
Saudações a todos.

Excelente exposição sinóptica do "Timeu" de Platão




Sidney Silveira
Achei hoje na internet esta ótima exposição de uma obra capital da história da filosofia: o Timeu de Platão. O professor é Eduardo Dipp. Recomendo-a!

Uma gramática catedralícia

  “Se o estilo reflete o homem, o idioma é o espelho da cultura de um povo. As palavras são o suor da atividade humana; quanto mais operoso um povo, tanto maior o vocabulário; quanto mais fecundo um aglomerado, já de cientistas, já de guerreiros, já de comerciantes, já do que quer que seja, tanto mais premente a necessidade de enriquecimento de expressões e de palavras adequadas aos inventos, às táticas bélicas, às modalidades de comércio”.
Napoleão Mendes de Almeida
Sidney Silveira
Recebi nesta sexta-feira (30/11) a visita do meu querido amigo Carlos Nougué e jantamos falando de sua Gramática, que está ganhando a forma de um denso tratado lógico-filosófico. Muito mais que um simples arrolar de normas e exercícios, ela busca remontar aos princípios configuradores do idioma pátrio, e, valendo-se de premissas aristotélico-tomistas, vai muito além de algumas das gramáticas consagradas nas últimas décadas – como as de Celso Cunha e Bechara. Ali, ter-se-á algo próximo àquilo que a tradição medieval concebeu no Trivium: a gramática inserida no pórtico da caminhada filosófica e civilizacional; o DNA da língua, mas também o escoadouro seguro das idéias e dos conceitos, sem o qual tudo tende à entropia e à desordem.
A muitos parecerá o texto revolucionário, pelo questionamento dos critérios utilizados ou abalizados por gramáticos respeitados, sejam contemporâneos, sejam antigos. E também pela quebra de uma tradição beletrista, por um lado, e formalista, por outro, que mesmo com achados e acertos em vários pontos acabou gerando incompreensões e mostrando-se incapaz de fechar paradigmas.
Tive a oportunidade de ler várias páginas do texto que o Prof. Nougué está escrevendo. A promessa é de uma obra para ficar de pé na estante. De um escrito que faz jus ao que dizia Quintiliano da gramática: arte necessária aos jovens e aprazível aos velhos (necessaria pueris, iucunda  senibus). Refiro-me, evidentemente, aos velhos e às pessoas de meia idade que ainda resistem à infantilização beócia da cultura e da política. Estes sabem que conhecer a própria língua é uma espécie de dever cívico, pois, como dizia Napoleão Mendes de Almeida (gramático a quem Nougué faz algumas críticas e que cito no pórtico deste breve texto), o idioma não é pátio de recreio ou pretexto de salamaleques. Ele é a seiva bruta que dá vida às instituições – à arte, à política, à filosofia e, em certo sentido, até mesmo à religião.
Que o Prof. Nougué nos presenteie com o seu opus magnum no começo de 2013!