Sidney Silveira
Outra idéia muito comum entre os liberais — os quais, como já vimos, defendem a tese maçônica da separação entre os planos material e espiritual, entre o Estado e a Religião — é dizer que a Igreja não deve envolver-se em questões econômicas, já que a economia trata de algo atinente “apenas” aos meios de produção (à poiesis portanto), à troca de bens e à reprodutibilidade dos mesmos, etc. Ora, se realmente fosse assim, a economia estaria circunscrita ao âmbito que lhe é próprio, ou seja: só poderia tratar das questões relativas a essas coisas enumeradas. Mas o que dizem os economistas liberais em todos os seus livros, num tom tediosamente monocórdico? VIVEM DIZENDO COMO O ESTADO DEVE OU NÃO DEVE SER — o que mostra ser o liberalismo econômico, essencialmente, uma teoria política. E uma teoria que não apenas transcende ao aspecto econômico, mas faz muito pior: subordina o político ao econômico. E reduz o Estado e o governo a um mínimo (tolerável, mas incômodo), a algo que deva defender, antes de tudo, as intocáveis leis do livre mercado.
Outra idéia muito comum entre os liberais — os quais, como já vimos, defendem a tese maçônica da separação entre os planos material e espiritual, entre o Estado e a Religião — é dizer que a Igreja não deve envolver-se em questões econômicas, já que a economia trata de algo atinente “apenas” aos meios de produção (à poiesis portanto), à troca de bens e à reprodutibilidade dos mesmos, etc. Ora, se realmente fosse assim, a economia estaria circunscrita ao âmbito que lhe é próprio, ou seja: só poderia tratar das questões relativas a essas coisas enumeradas. Mas o que dizem os economistas liberais em todos os seus livros, num tom tediosamente monocórdico? VIVEM DIZENDO COMO O ESTADO DEVE OU NÃO DEVE SER — o que mostra ser o liberalismo econômico, essencialmente, uma teoria política. E uma teoria que não apenas transcende ao aspecto econômico, mas faz muito pior: subordina o político ao econômico. E reduz o Estado e o governo a um mínimo (tolerável, mas incômodo), a algo que deva defender, antes de tudo, as intocáveis leis do livre mercado.
Vejamos o que diz São Pio X sobre isto de a Igreja ser “alheia” a questões econômicas de qualquer ordem: “A questão social e as contendas relacionadas (...) à forma e ao tempo de trabalho, ao preço dos salários (...) NÃO SÃO PROBLEMAS MERAMENTE ECONÔMICOS, de tal gênero que pudessem resolver-se deixando de lado a autoridade da Igreja, pois, ao contrário, é verdade claríssima (...) que se trata de uma questão moral e religiosa, e, por isso, é nos ditames da Religião e nas leis da Moral que há de encontrar solução satisfatória”. (Encíclica Singulari Quadam, curiosamente ausente da edição brasileira da Paulus que traz as Encíclicas de Pio X).
O grande papa e grande santo — que noutra Encíclica condenara expressamente a separação entre a Igreja e o Estado (em Gravissimo offichii munere defungimur, nº 2, texto também ausente da edição da Paulus e que não consegui achar no site do Vaticano) — bem sabia que uma sociedade não conformada a valores universais e eternos, não ordenada por um princípio espiritual exterior e superior a todas as coisas humanas, ou seja, uma sociedade em que o Estado é tão-somente uma superestrutura no meio da comunidade e as leis nada têm de pedagógico, mas ao contrário, dão livre curso às liberdades individuais (excetuando os casos em que estas trazem riscos físicos a algumas pessoas), será uma sociedade fadada à mais hedionda brutalidade. Ao reino da quantidade. Aos materialismos mais deletérios para a alma humana.
Ademais, OU HÁ ALGO QUE PODE E DEVE LIMITAR O MERCADO, OU NÃO HÁ. Partamos desta disjunção — pois a disjunção é uma das formas mais profícuas do método dialético, capaz de desnudar premissas ocultas. No caso, basta-nos a segunda das hipóteses acima: se não há nada que possa limitar o mercado, isto significa que ele está ipso facto absolutizado, transformado em referência máxima — e a lei do mercado seria, então, a lei das leis. É o que a imensa maioria dos liberais defende, uns de forma camuflada e outros abertamente, chegando estes últimos até a proclamar a absoluta superioridade moral do mercado (ops...).
Outra coisa: nem toda necessidade humana é demanda, no sentido equívoco em que os liberais em geral empregam essa palavra. Há uma instância de interioridade na alma do homem que o Estado — sobretudo o liberal, com leis primacialmente mercadológicas, ou seja: contratualistas — não pode suprir, mas que deve defender. Sim, pois se as leis não são um elemento facilitador para que o homem exerça plenamente a sua liberdade interior, a qual nada tem a ver com a idéia liberal de "liberdade", que eles confundem com o ato de escolha (não à toa dizia Leão XIII que os Estados devem preocupar-se in primis com os bens da alma), mas se são apenas propiciadoras de trocas materiais ou então coercitivas (para o caso dos abusos claramente verificáveis), estamos muito distantes do verdadeiro império da lei — que é, como diz Platão no começo das suas "Leis", proveniente de uma instância divina. E estamos também distantes da lei natural na perspectiva escolástica. O império da lei, para um liberal, nada tem de referente a algo supra-humano que ordene e informe as ações dos homens. A sua noção de lei não tem base metafísica nem, portanto, teológica, sem as quais caímos na justificativa de quaisquer éticas de indivíduos ou de grupos, caímos nessa confusão dos diabos a que hoje assistimos: todos querem ter uma lei para defender os seus próprios interesses, mesmo se contrários à Constituição e mesmo se contrários à lei natural. Bem comum? Ugh! Quanto a este, lembrem-se os leitores de que o bem comum, para um liberal, é nada, é bobagem, é abstração...