Sidney Silveira
Um amigo enviou-me o endereço eletrônico de um sacerdote (Padre Elílio, incardinado na Arquidiocese de Juiz de Fora, Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor, professor dos cursos de Filosofia e Teologia do CES/JF – ITASA), no qual há um excelente serviço prestado a todos: uma tradução, de sua lavra, do opúsculo de Santo Tomás De rationibus Fidei, dividido em dez capítulos, dos quais já foram traduzidos seis.
Pinço, aqui, um trecho desse escrito, no qual ensina-nos o grande Santo e Doutor como se deve disputar com os infiéis (qualiter sit disputandum contra infideles):
“(...) A isto, portanto, deve tender a intenção do disputador cristão: não prove ele a fé, mas defenda-a”.
Esta é justamente uma das divisas do Contra Impugnantes: não provar a fé por meio de razões necessárias, porque a fé é para ser crida por nós como revelada por Deus, conforme afirma Santo Tomás nesse mesmo notável parágrafo, do qual extraímos o trecho acima. Mas é também para ser defendida dos erros que a ela se contraponham, sejam metafísicos, gnosiológicos, antropológicos, políticos, teológicos, etc. A propósito, acrescenta o Angélico no mesmo parágrafo: “(...) Assim como a nossa fé não pode ser provada por razões necessárias, já que excede a mente humana, de igual modo, por causa da sua verdade, não pode ser refutada por razão necessária”.
Parabéns pela iniciativa, Padre Elílio!
Em tempo: A fé é certamente para ser crida por todos os fiéis, do grande teólogo, do Santo Doutor, ao mais intelectualmente incapaz e simplório. Mas a sua defesa não é para todos, e por um simples motivo: ela requer não apenas o conhecimento da doutrina, nas principais formulações em que o Magistério (com a sua suprema autoridade, participada pelo próprio Cristo) a moldou através dos séculos — contra heresias que atingiam alguns de seus elementos essenciais; requer também preparo metafísico e teológico, adquirido em anos e anos de estudo, acompanhado de uma profunda vida interior necessariamente alimentada pelos sacramentos. Sem isto, o ardor da defesa da fé transforma-se numa espécie de conversa entre rufiões num bar, torna-se vulgar, acanalha-se, tende a toda a sorte de sectarismos (aos quais sempre falta o conhecimento de algo essencial da doutrina).
Na verdade, os excelsos mistérios não devem ser discutidos (mesmo contra hereges públicos) em linguagem torpe, nem sem sólidos argumentos teológicos. E muito menos com ofensas e murmurações que, em geral, só fazem as pessoas cristalizar os erros em que estão — porque se vêem compelidas a reagir na mesma moeda. Santo Tomás, o maior controversista de todos os tempos, deu-nos um exemplo: pelo método da disputatio acolhia ele os argumentos dos adversários e os punha como objeções que, depois, eram refutadas racionalmente. Esse equilíbrio extraordinário na defesa da fé, diga-se, não se pode dar sem graças proporcionadas a essa tão digna tarefa. E, em suma, vida interior sem estudo teológico não basta para que esta obra específica de defesa da fé dê frutos. E a inversa é também verdadeira: não basta o estudo teológico e filosófico, se não houver vida habitual na Graça.
É igualmente necessário o pleno conhecimento dos graus de autoridade do Corpo Místico que é a Igreja e, também, dos limites de atuação dos fiéis, mesmo nos maiores momentos de crises doutrinais e/ou pastorais. Sim, mesmo em situações excepcionais de necessidade — nas quais a obediência à autoridade superior (Cristo) deve prevalecer em relação à autoridade instrumental intermediária — há limites e modos bem-definidos para a atuação dos fiéis. Voltaremos ao tema, noutra oportunidade, depois de terminar a série sobre a predestinação, iniciada a pedido de uma amiga distante.
A linguagem dura, clara e inflamada da apologética não deve — de maneira alguma — transformar-se em desrespeito, falta de caridade, maledicência. Em suma: não se deve defender a fé pecando, venial ou mortalmente. Para fazer isto, é muito melhor o silêncio. É difícil o equilíbrio nesta defesa? Sim! Mas deve ser a meta, com o auxílio necessário da Graça e as precondições acima citadas.
Um amigo enviou-me o endereço eletrônico de um sacerdote (Padre Elílio, incardinado na Arquidiocese de Juiz de Fora, Vigário Paroquial da Paróquia Bom Pastor, professor dos cursos de Filosofia e Teologia do CES/JF – ITASA), no qual há um excelente serviço prestado a todos: uma tradução, de sua lavra, do opúsculo de Santo Tomás De rationibus Fidei, dividido em dez capítulos, dos quais já foram traduzidos seis.
Pinço, aqui, um trecho desse escrito, no qual ensina-nos o grande Santo e Doutor como se deve disputar com os infiéis (qualiter sit disputandum contra infideles):
“(...) A isto, portanto, deve tender a intenção do disputador cristão: não prove ele a fé, mas defenda-a”.
Esta é justamente uma das divisas do Contra Impugnantes: não provar a fé por meio de razões necessárias, porque a fé é para ser crida por nós como revelada por Deus, conforme afirma Santo Tomás nesse mesmo notável parágrafo, do qual extraímos o trecho acima. Mas é também para ser defendida dos erros que a ela se contraponham, sejam metafísicos, gnosiológicos, antropológicos, políticos, teológicos, etc. A propósito, acrescenta o Angélico no mesmo parágrafo: “(...) Assim como a nossa fé não pode ser provada por razões necessárias, já que excede a mente humana, de igual modo, por causa da sua verdade, não pode ser refutada por razão necessária”.
Parabéns pela iniciativa, Padre Elílio!
Em tempo: A fé é certamente para ser crida por todos os fiéis, do grande teólogo, do Santo Doutor, ao mais intelectualmente incapaz e simplório. Mas a sua defesa não é para todos, e por um simples motivo: ela requer não apenas o conhecimento da doutrina, nas principais formulações em que o Magistério (com a sua suprema autoridade, participada pelo próprio Cristo) a moldou através dos séculos — contra heresias que atingiam alguns de seus elementos essenciais; requer também preparo metafísico e teológico, adquirido em anos e anos de estudo, acompanhado de uma profunda vida interior necessariamente alimentada pelos sacramentos. Sem isto, o ardor da defesa da fé transforma-se numa espécie de conversa entre rufiões num bar, torna-se vulgar, acanalha-se, tende a toda a sorte de sectarismos (aos quais sempre falta o conhecimento de algo essencial da doutrina).
Na verdade, os excelsos mistérios não devem ser discutidos (mesmo contra hereges públicos) em linguagem torpe, nem sem sólidos argumentos teológicos. E muito menos com ofensas e murmurações que, em geral, só fazem as pessoas cristalizar os erros em que estão — porque se vêem compelidas a reagir na mesma moeda. Santo Tomás, o maior controversista de todos os tempos, deu-nos um exemplo: pelo método da disputatio acolhia ele os argumentos dos adversários e os punha como objeções que, depois, eram refutadas racionalmente. Esse equilíbrio extraordinário na defesa da fé, diga-se, não se pode dar sem graças proporcionadas a essa tão digna tarefa. E, em suma, vida interior sem estudo teológico não basta para que esta obra específica de defesa da fé dê frutos. E a inversa é também verdadeira: não basta o estudo teológico e filosófico, se não houver vida habitual na Graça.
É igualmente necessário o pleno conhecimento dos graus de autoridade do Corpo Místico que é a Igreja e, também, dos limites de atuação dos fiéis, mesmo nos maiores momentos de crises doutrinais e/ou pastorais. Sim, mesmo em situações excepcionais de necessidade — nas quais a obediência à autoridade superior (Cristo) deve prevalecer em relação à autoridade instrumental intermediária — há limites e modos bem-definidos para a atuação dos fiéis. Voltaremos ao tema, noutra oportunidade, depois de terminar a série sobre a predestinação, iniciada a pedido de uma amiga distante.
A linguagem dura, clara e inflamada da apologética não deve — de maneira alguma — transformar-se em desrespeito, falta de caridade, maledicência. Em suma: não se deve defender a fé pecando, venial ou mortalmente. Para fazer isto, é muito melhor o silêncio. É difícil o equilíbrio nesta defesa? Sim! Mas deve ser a meta, com o auxílio necessário da Graça e as precondições acima citadas.