Sidney Silveira
O intelecto se faz inteligente em ato mediante uma forma (species) inteligível.
SANTO TOMÁS, Super librum De Causis expositio, Lectio III.
O intelecto se faz inteligente em ato mediante uma forma (species) inteligível.
SANTO TOMÁS, Super librum De Causis expositio, Lectio III.
Essa curta frase resume toda a gnosiologia realista de Santo Tomás. As espécies inteligíveis, a que se faz alusão acima, são semelhanças das coisas na mente humana (sunt rerum similitudines, como afirma o Angélico numa conhecida passagem do De Veritate). Se isto é assim, somos levados a concluir que há uma preeminência ontológica do ser em relação ao conhecer (humano), assim como também há anterioridade — daí Santo Tomás argutamente enfatizar, no mesmo De Veritate, o seguinte: se não existisse a inteligência humana, ainda assim haveria o ser.
Só a inteligência do Criador pode ser metafisicamente coincidente com as coisas inteligidas, ou seja: as coisas são no mesmo ato e no mesmo instante em que são pensadas pela mente divina. Por isso, como já se disse aqui noutro post, Deus, quando pensa, cria.
Tudo bem: embora não sejamos capazes de criar, em sentido próprio, Deus quis prover-nos de uma inteligência apta a entender as coisas, ainda que por abstração — ou seja, uma inteligência totalmente aberta ao ser, capaz de adentrar-lhe as camadas mais íntimas. E essa aptidão, como se afirma no pequeno trecho de aula abaixo (mais um vídeo do blog), é como que um começo da verdade em nossa inteligência.
É claro que este começo pode não se desenvolver, por incontáveis razões, pode não chegar a assemelhar-se às coisas, pelo ato do conhecimento. Mas essa é uma história para outro post.