terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A “Fides et Ratio”, de JP II, segundo o Pe. Calderón

Sidney Silveira

Alguns estudiosos contemporâneos da obra de Santo Tomás insistem em dizer que a Carta Encíclica Fides et Ratio, do Papa João Paulo II, é ‘tomista’. Ou, como já li e ouvi de alguns, é a prova da 'formação tomista' do Papa JP II. Abstenho-me de comentar os porquês de tais assertivas — que vão do simples dolo contra a verdade a uma espécie de ignorância culpável —, mas, em prol da verdade, deve-se dizer que o conteúdo doutrinário da referida Encíclica absolutamente nada tem de ‘tomista’ — nem que, para aplicar tal designativo, usássemos de uma forçosa analogia de atribuição.

A prova cabal, apodítica, do que afirmo está em um dos apêndices do livroA Candeia Debaixo do Alqueire”, do Pe. Álvaro Calderón, no qual todas as principais proposições da referida Encíclica são colocadas sob uma lupa dialética que põe a nu toda a visão modernista que tal documento ecleciástico embute, desde o começo do texto até as palavras finais.

Diz o Papa JP II no início de sua famosa Encíclica:

“A Fé e a razão (Fides et ratio) são como as duas asas com que o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”.

Comentando o proêmio papal, diz o Pe. Calderón que tal figura metafórica das asas expressa muito bem como se entendem as relações entre a Fé e a razão:

“A Fé aparece [ali] cooperando com a razão numa função paralela e de certo modo exterior, como a de uma asa com respeito à outra, diferentemente da imagem tradicional de uma fé que ilumina a razão, que atua por meio dela penetrando sua ação de modo interior, como a luz ao cristal”.

Depois desta arguta observação acerca da visão que a metáfora inicial da Encíclica embute, Calderón vai apontando em cada capítulo da Fides et ratio, para assombro dos leitores, a forma do pensamento moderno que subjaz ao texto e que inverte até mesmo as relações entre teologia e filosofia — deformando, por conseguinte, o tomismo. Diz Calderón, ao final desse apêndice: “O tomismo deve ser [na visão liberal] necessariamente novo, neotomismo, renovando-se a começar de suas raízes segundo as exigências e contribuições das recentes filosofias modernas. É ridículo pretender ser hoje tomista pura e simplesmente [simpliciter]! O problema do ser, ‘sem sombra de dúvida’, deve ser ressuscitado à luz dos neotons do cartaz modernista...

P.S. Aos interessados, o livro do Pe. Calderón pode ser encomendado pelo email rosangela@edsetimoselo.com.br.