segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Laicismo, o nada bendito fruto da teoria liberal

Sidney Silveira
Vimos noutra ocasião que, entre as nove teses maçônicas elencadas no hoje esquecido livro A Maçonaria no Brasil – orientação para os católicos, de D. Boaventura Kloppenburg, está a do Estado neutro em assuntos religiosos. Diz ela: “O Estado deve manter-se neutro ou indiferente perante qualquer religião concreta”.

Essa tese maçônico-liberal foi, na prática, o cavalo de Tróia do laicismo no Ocidente, e com ela inaugura-se uma nova fase civilizacional na história do mundo: a do Estado cego à transcendência. Uma rápida pesquisa histórica nos mostra que, desde a mais remota Antiguidade até o atual ocaso da Cristandade, as civilizações se ergueram e se desenvolveram reportando-se aos deuses (não entrarei, por ora, na questão das falsas e da verdadeira religião, e na distinção entre deuses pagãos e Deus verdadeiro, uno e trino). Não é por acaso, a propósito, que logo na primeira frase do diálogo outonal de Platão, As Leis, afirma-se que a legislação provém dos deuses. Ora, um grego, de uma maneira geral, jamais suporia o contrário sem cair no ridículo — assim como também um egípcio, um romano, um sumério, um cristão...

O sentido de unidade e, sobretudo, de permanência de uma cultura, de uma nação — a qual não exclui o Estado, a não ser para um liberal — sempre teve a sua fonte, o seu poder estruturador, o seu pólo dinamizador, a sua virtude unificadora em algo supra ou meta humano. Mesmo entre os pagãos. Em geral as sociedades começam a se destruir justamente quando perdem a referência religiosa. É o caso da nossa, com o agravante de que se trata de uma sociedade “global”, o que nos faz presumir o tamanho da destruição.

Os liberais que defendem a tese do Estado laico nos dias de hoje — os quais têm mais medo do “Estado” (nomenclatura na qual eles colocam tudo o que lhes convém) do que o diabo da cruz — fingem não ver que esta é a forma mais eficiente de fortalecer o Estado, de absolutizá-lo: torná-lo independente de Deus. Sem a lei eterna, sem algo imutável a lhe pôr uma amarra, o Estado será, na melhor das hipóteses, uma barafunda de legislações autofágicas e contraditórias entre si — representativa da babel de vontades cegas no seio de uma sociedade sem um porto seguro de valores, onde ancorar. E a história se repete, tediosamente: onde não se precisa obedecer a Deus, cai-se numa obediência às vontades mais comezinhas, mais mesquinhas.

O pior de tudo é que a tese maçônico-liberal do Estado religiosamente indiferente parte de um sofisma satânico: o de que a consciência individual é autônoma e, assim sendo, não deve ser “coagida” por nada externo a ela. Já mostramos aqui que os termos “consciência”, “indivíduo” e “autonomia” são usados maliciosamente de forma equívoca pelos defensores da tese. Ou seja: entre o conceito mental, o nome e a coisa nomeada não há a mais remota identidade. Mas não adianta trazer argumentos para o espírito de negação, tão essencialmente integrante do liberalismo, que, mais do que um non serviam, é formalmente um sevire conscientiam meam.

Com grande sabedoria, dizia Leão XIII — uma das glórias do Magistério da Igreja —, na Encíclica Libertas Praestantissimum, que, sendo Deus o princípio e o fim de todas as sociedades humanas, repugnaria à majestade da Sua providência que os Estados se desinteressassem da lei eterna, ou então fossem contra ela.

O fato é que, em suma, terminado o Estado confessional, acabamos por cair no Estado dos pecados “inconfessáveis”.