quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Santo Alberto: “In philosophia magnus”

Sidney Silveira
Entre as lacunas da minha formação está o não ter lido quase nada de Santo Alberto Magno, o Doctor Universalis (grande mestre de Santo Tomás de Aquino), a não ser alguns brevíssimos textos inseridos numa ou noutra coletânea. Foi ele matemático, teólogo, filósofo, exegeta, fisiólogo, governante, pregador, polemista e bispo, tudo isso impregnado pelo odor de santidade que distingue os grandes seguidores de Cristo. O qualitativo Magno lhe advém de um texto escrito por um dos seus muitos admiradores, Raimundo Martí, que diz o seguinte: In philosophia magnus, in theologia maximus.

Em certo sentido, sem Santo Alberto não teria havido Santo Tomás, discípulo a quem tanto amou e a quem tanto apoiou — desde o início da carreira do Aquinate até o comovente momento em que, morto Tomás, o então idoso Alberto viaja de Colônia a Paris para fazer a eloqüente defesa do ex-pupilo, que tivera várias proposições teológicas e filosóficas injustamente condenadas pelo Bispo Estêvão Tempier. A defesa feita por Alberto foi estupenda e causou grande impressão, de acordo com o testemunho de Hugo de Lucca, que presenciou a cena.

Diz-se que, ao final da vida, Alberto chorava intensamente toda vez que se lembrava do seu discípulo predileto, sobre cuja obra ainda pairava a censura oficial, a proscrição. É verdade que a exposição feita por Alberto em favor de Tomás não foi capaz de revogar as condenações de Tempier, o que só aconteceu praticamente cinqüenta anos depois. Mas a sua defesa do ex-pupilo, a quem prognosticara o gênio, tem algo de grandioso. A propósito, é famosa a passagem em que alguns alunos, caçoando do “Boi mudo” — como era chamado o jovem Tomás —, ouviram do professor Alberto o seguinte vaticínio. “Vocês escarnecem dele, mas saibam que esse Boi mudo, um dia, vai dar um mugido tão alto que abalará os alicerces da filosofia”.

Santo Alberto é Doutor da Igreja, o que basta para dar-nos de antemão a certeza de que se trata de um grandíssimo pensador e de um fecundo defensor da fé. Diz dele Dante (a quem faço todas as ressalvas políticas do mundo), no Paradiso:

Questi, che m’è a destra più vicino,
Frate e maestro fummi, ed esso Alberto
È di Cologna, ed io Thomas d’Aquino

Certamente, o caráter enciclopédico de Santo Alberto há de ter ajudado deveras o jovem Tomás a vislumbrar o caminho que lhe caberia seguir, de acordo com os desígnios da Providência.

É uma linda história de amizade filosófica e de amor à verdade, a Cristo e à sua Igreja — a única verdadeira.