Sidney Silveira
No momento em que os neoteólogos hoje predominantes na Igreja continuam o seu trabalho de demolição da doutrina divina revelada, nada como ir aos Santos Doutores. No tocante à condenação dos réprobos ao inferno, por exemplo, o grande, o nunca assaz louvado São Francisco de Sales nos ensina que — como não poderia deixar de ser — devemos amar a misericórdia de Deus que salva os eleitos, assim como devemos amar a Sua justiça que condena os réprobos. A propósito do mesmo assunto, Santo Tomás dizia que a condenação dos réprobos se dá em ordem a um bem maior: a manifestação da Justiça divina. Que é bela.
Leiamos este grande Doutor, e atentemos ao trecho inicial que pus em negrito: a salvação e a condenação são, ambas, filhas da bondade de Deus.
“Devemos adorar, amar e louvar para sempre a justiça vingadora e punitiva de nosso Deus, como amamos a Sua misericórdia: porque ambas são filhas da Sua bondade. Pois pela Sua graça Ele nos quer fazer bons, como boníssimo, ou supinamente bom, Ele é; pela Sua justiça, quer castigar o pecado, porque este o odeia. Ora, Ele odeia o pecado porque, sendo sumamente bom, detesta o mal que é a iniqüidade. E, por conclusão, notai que Deus nunca retira a Sua misericórdia de nós, senão pela equitativa vingança da Sua justiça punitiva — e nunca escapamos ao rigor da Sua justiça senão pela misericórdia justificadora. E sempre, ou punindo ou gratificando, o Seu beneplácito é adorável, amável e digno de eterna bênção. Assim, o justo que canta os louvores da Sua misericórdia por aqueles que serão salvos, do mesmo modo se alegrará quando vir a vingança: os bem-aventurados aprovarão com alegria o juízo da condenação dos réprobos, como o da salvação dos eleitos, e os anjos, tendo exercido a sua caridade para com os homens que têm em guarda, ficarão em paz, vendo-os obstinados ou mesmo condenados. Cumpre, pois, aquiescer à vontade de Deus e beijar com dileção e reverência igual a mão direita da Sua misericórdia e a mão esquerda da Sua justiça”.
(São Francisco de Sales, Tratado do Amor de Deus, IX, Cap. 8. )
Em tempo: Boa parte dos neoteólogos atuais (que subscrevem o crime contra a fé que representa a tentativa de acabar com o limbo, que sem a menor sombra de dúvida é um dogma) quer minimizar a inferno com mil e uma teorias loucas. Uma delas diz que os homens se condenam sozinhos, quase automaticamente, ou seja: Deus nada tem a ver com isso (tese à qual podemos voltar noutro texto, dando voz ao Magistério e ao Doutor Comum da Igreja, Santo Tomás).