Sidney Silveira
A sabedoria dos Santos é a verdadeira prudência. Scientia sanctorum prudentia. É o que diz S. Bento num trecho belíssimo de sua Regra, fonte perene de bens espirituais para quem vai a ela com o coração despojado de vontades comezinhas. Luz que participa da Luz da ciência divina, de cujo influxo benévolo se vale para encaminhar as almas a verdadeiros tesouros. A sapientiæ doctrina que S. Bento deixou codificada poderia muito bem ser alimento para uma grande reviravolta civilizacional do mundo materialista, apóstata, sem fé, sem esperança e sem caridade em que vivemos. Um mundo imprudente, porque incapaz de divisar os fins que devem ser verdadeiramente buscados, e, desconhecendo os fins, não é possível escolher os meios adequados, pois a “reta razão no agir” (que é a prudência, como a definiu Santo Tomás) labora sob a luz da intelegibilidade dos entes que, por sua vez, são inteligíveis na exata e única medida em que participam da inteligibilidade da causa primeira, que é Deus. E Deus fala por seus santos. Scientia sanctorum prudentia.
A sabedoria dos Santos é a verdadeira prudência. Scientia sanctorum prudentia. É o que diz S. Bento num trecho belíssimo de sua Regra, fonte perene de bens espirituais para quem vai a ela com o coração despojado de vontades comezinhas. Luz que participa da Luz da ciência divina, de cujo influxo benévolo se vale para encaminhar as almas a verdadeiros tesouros. A sapientiæ doctrina que S. Bento deixou codificada poderia muito bem ser alimento para uma grande reviravolta civilizacional do mundo materialista, apóstata, sem fé, sem esperança e sem caridade em que vivemos. Um mundo imprudente, porque incapaz de divisar os fins que devem ser verdadeiramente buscados, e, desconhecendo os fins, não é possível escolher os meios adequados, pois a “reta razão no agir” (que é a prudência, como a definiu Santo Tomás) labora sob a luz da intelegibilidade dos entes que, por sua vez, são inteligíveis na exata e única medida em que participam da inteligibilidade da causa primeira, que é Deus. E Deus fala por seus santos. Scientia sanctorum prudentia.
Sem os frutos do Espírito Santo — caridade, alegria, paz, paciência, longaminidade, bondade, benignidade, mansidão e fidelidade —, mesmo as mais brilhantes inteligências se perdem. Abafam o vínculo tonificante com a vida sobrenatural da graça e, por isso, vão tornando-se, com o tempo, o simétrico avesso desses mesmos frutos: egoístas, tristes, desesperadas, impacientes, amantes de efemérides, maldosas, malignas, raivosas e infiéis. E isto ocorre ainda que essas almas não o percebam, pois o descenso é lento e, ao contrário dos espíritos que se põem em guarda para crescer espiritualmente (os quais enxergam, cada vez com maior clareza, o caminho que devem seguir e que vícios devem combater), os espíritos que baixam de degrau em degrau vão perdendo a noção de sua própria queda, e o seu caminho vai tornando-se desconhecido para eles próprios.
De repente, essas pessoas jazem num poço de angústia e, para sair dele, não mais conseguem divisar o remédio, mas apenas paliativos mundanos. Perderam a crença no bem e, nos casos mais típicos, acabam por cair numa curiosidade mórbida que desconfia de todos os que buscam a Deus. Essas almas descreram até mesmo da possibilidade dessa busca, e não lhes resta senão ver em quem a leva adiante hipocrisia, má-fé, dolo. A alma projeta em tudo e em todos o que traz em seu íntimo, eis uma grande verdade.
A genuína vida intelectual anda pari passu com a vida de oração, que por sua vez leva-nos à firme certeza de que devemos muitas vezes sacrificar as nossas vontades e opiniões, para progredir no conhecimento. O homem carnal será sempre um mau filósofo, e com a expressão “homem carnal” designo aquele que sequer procura pôr um freio na lei que os latinos chamavam fomes peccati, ou seja, na inclinação ao mal que levamos como ferida herdada pelo pecado de Adão. Ex peccato peccatum nascitur, diz muito bem o adágio. Mas o homem carnal sequer tem no seu horizonte a palavra “pecado”, e muito menos o conceito mental a que ela refere. Alimenta-se culpavelmente de um falso otimismo com relação a si mesmo, e, se é intelectual, buscará mil sutis razões (e autores) para justificar a sua postura, embora não encontre o remédio de que se falou acima: a sabedoria de Deus — na palavra do Evangelho, na dos Santos Doutores e na do Magistério da Igreja. Ao contrário, a tendência é de piora contínua em toda a sorte de patologias, que provêm, em bloco, da perda de vínculos com a vida sobrenatural da graça.
Tudo isto me veio à mente após a releitura, ontem, de um grande trecho de uma obra horrorosa, que nada tem a ver com a ciência dos santos à qual fizemos alusão no título deste post: A Sociedade da Confiança, de Alain Peyrefitte — outro autor liberal que merece ser objeto de alguns textos do Contra Impugnantes, o que faremos não por morbidez, mas apenas para alertar algumas pessoas (católicas) de boa-fé que nos procuraram para falar sobre essa obra, e que estão sendo, literalmente, enganadas sobre o que ler.