quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tira-gosto do livro “O Êxtase da Intimidade”

Sidney Silveira

Quem já participou do processo de edição de um livro (revisão dos textos, diagramação, capa, etc.), sabe muito bem o trabalho que dá. Mas se o livro é acalentado com todo o carinho e inserido num projeto de divulgação da obra de Santo Tomás de Aquino, como é o caso das obras do Aquinate ou sobre ele que a Sétimo Selo edita, esse trabalho é sempre prazeroso. Assim está sendo com O Êxtase da Intimidade – Ontologia do Amor Humano em Tomás de Aquino, do filósofo espanhol Juan Cruz Cruz, que em nossa edição terá mais de 300 páginas.

Como tira-gosto deste denso trabalho filosófico que virá à luz em breve, transcrevo a seguir um trecho de sua Introdução:

“(...) Se deixarmos de lado os efeitos “negativos” sobre o corpo que proverbialmente foram atribuídos ao êxtase (a imobilidade marmórea dos membros, a insensibilidade dos órgãos perceptivos, a comoção alegre ou temerosa do rosto alucinado, os eflúvios luminosos no rosto e nas mãos, o calor interior, a leveza ou levitação corporal e, em outros casos, o peso dos membros), fixando-nos nos efeitos que produz sobre a alma, que são os mais importantes no nosso caso, havemos de dizer que, segundo a tradição ocidental, o êxtase provoca um aguçamento da faculdade intelectual e da volitiva para penetrar numa realidade mais elevada. Aguça-se a inteligência para chegar, mediante uma simples visão e com evidência cabal, sem necessidade de fatigantes raciocínios, a uma realidade extramental inaudita — passada, presente ou futura — mas verdadeira, adquirindo inclusive idéias antes inexistentes na alma. Oferece-se a própria vontade à nova realidade, que se apresenta iluminada e sustida pela inteligência. (...) Dos efeitos espirituais do êxtase, o mais importante, segundo o Aquinate, é o concernente à vontade, que é transformada no bem que se lhe apresenta. Assim, o êxtase sobrenatural é explicado como um efeito da ação divina que alarga a inteligência e provoca o amor da vontade; de modo que faz parte da contemplação perfeita, ou seja, de um conhecimento essencialmente amoroso. (...) O amor é uma “saída” que o sujeito faz com sua vontade, guiada pela inteligência — núcleos da intimidade —, para o amado, vislumbrado este como bem perfeito, real”.

O obra de Cruz Cruz é densa e permeada de conceitos filosóficos dos mais abstratos, não apenas extraídos da obra do Aquinate, mas da de outros filósofos e também de sua própria lavra; nela acham-se trechos luminosos como este. A análise das causas e dos efeitos do amor na alma é fina, como não poderia deixar de ser em se tratando de alguém que se dedica há anos a estudar a obra deste grande gênio medieval.