quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um Natal no mundo de hoje


Carlos Nougué
Como não só dou aula numa pós-graduação de tradução em sete capitais do país, mas comecei há pouco tempo a dar cursos via Internet ou pessoalmente sobre diversos temas (um “Trivium”, a alma humana, a história da filosofia, etc.), acabei por deixar, nos últimos meses deste ano, de escrever para o nosso blog. Com isso deixei inconclusas algumas séries, entre as quais uma, creio, acompanhada com algum interesse: a sobre o sedevacantismo.

Mas retomarei em 2010, com certo ritmo, a escrita para o “Contra Impugnantes”. Qual será precisamente esse ritmo, ainda não o sei. Sei apenas que, a par de terminar a série sobre o sedevacantismo, centrarei ainda meus esforços no tema a cidade e a história, no qual se inclui a arte; sem nunca deixar de estudá-lo com fundamento no metafísico. Mas especialmente não podemos Sidney e eu deixar de escrever para o “Contra Impugnantes” porque, em modesta escala e alcance, nosso blog se tornou em seu pouco tempo de existência uma referência na luta contra o liberalismo. Luta principalmente no terreno da doutrina, onde tentamos mostrar que decorre do liberalismo ― que não é senão uma manifestação do humanismo e do antropocentrismo ― grande parte dos males do mundo moderno: a redução da inteligência ao relativismo; o esmagamento do realismo aristotélico-tomista e o império de uma “filosofia” que não é senão uma espécie de psicopatologia; em termos sociais, um mundo em que de maneira complexa, e por vezes conflituosa, se mesclam a democracia liberal, o comunismo e o “é proibido proibir”, tendo por base as megacorporações internacionais, por meio o ataque à lei natural e a perversão dos costumes, e por escopo um governo mundial, que não pode ser senão a ante-sala do reino do Anticristo; e, no âmbito do religioso, o modernismo e o ecumenismo vaticano-segundo.

Pois bem, é neste mundo terrível, tenebroso, criminoso, apóstata e, por essência, satanista que passaremos o próximo Natal. Que, portanto, este dia em que se comemora algo tão especial e único ― o nascimento de Jesus Cristo ―, em torno do qual, de algum modo, giram os tempos passados e futuros, nos sirva também para reafirmar a convicção de que fora do reinado social de Nosso Senhor não há na cidade humana senão ruína e caminho para a morte perpétua ― assim como fora da Igreja não há salvação. A convicção de que é sobretudo neste momento, quando mais parece “impraticável” a realeza social de Cristo, que mais devemos arvorá-la, brandi-la, defendê-la, explicá-la ― não seja que de tanto a omitirmos acabemos nós mesmos por negá-la. A convicção inquebrantável de que ou se é livre sob as bandeiras do Rei do universo, ou se é servo sob o pavilhão de Satanás. Nihil est tertium.

Um santo e feliz Natal a todos, e um novo ano repleto de progressos espirituais, é o que lhes desejamos Sidney e eu.

Adendo do Sidney: Há uma frase num livro do Pde. Calderón que particularmente aprecio, e vem a propósito do que disse o Carlos: ou a Cidade está sob a sombra da lei do Evangelho, ou será pasto de demônios santarrões. Em suma: ou o poder público se dobra ao reinado de Cristo, ou será sempre o promotor, em diferentes níveis, do reinado sociopático do Anticristo. Recentemente, apenas para dar um exemplo, dentre inúmeros que eu poderia trazer à luz, o governo francês patrocinou a Hellfest (isto mesmo, senhores, a festa do inferno!), com apoio financeiro da vice-presidente do Conselho da Cultura da cidade de Loire. Em suma, com dinheiro público, alguns roqueiros — tendo à frente o satanista Marlyn Manson, autoproclamado "reverendo de Satanás" — produziram 15 horas de música de louvor ao inimigo do gênero humano. Cerca de 60 mil pessoas participaram do "festival". Enquanto isso, aqui no Brasil, o filme "Do começo ao fim" está sendo rodado e tem o seguinte enredo, de acordo com os seus produtores em entrevista à imprensa nesta semana: um menino de 6 anos (6 anos!!!!!) se sente fortemente atraído (sexualmente!) pelo irmão de 4. A relação homossexual incestuosa "do começo ao fim" se inicia na mais tenra infância e se concretiza na idade adulta. Possivelmente, a produção (como acontece em quase 100% de nossa "arte" cinematográfica tupiniquim) deve ter algum patrocínio da lei Rouanet. Ou seja: do dinheiro público proveniente dos impostos que pagamos. Nos próximos anos, amigos, o que veremos será simplesmente inominável; é dedução lógica, que parte da simples visão do atual estado de coisas.