quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre a eternidade do mundo (II) — a não-posterioridade do efeito produzido fora do tempo

Sidney Silveira
No artigo Sobre a eternidade do Mundo faltou acrescentar o seguinte: ao dizer que não repugna à razão pressupor uma criatura existente desde sempre — ou seja: criada desde a eternidade, e não no tempo —, Tomás de Aquino argumenta da seguinte forma: nas causas que produzem algo a partir da potência da matéria, sempre há movimento, o que pressupõe trânsito da potência ao ato, e, portanto, anterioridade da causa em relação ao efeito. Ora, Deus produz toda a substância no ser não a partir de uma matéria preexistente, mas do nada em virtude de
Sua omnipotência, e esta produção se dá sem movimento algum, do ponto de vista metafísico. Logo, não repugna à razão que algo causado por Deus exista desde o mesmo instante em que Ele é, ou seja, ab aeterno.

Disto não se deduz, frisa o Aquinate em De Aeternitate Mundi contra Murmurantes, que o nada e o ser seja simultâneos, mas “apenas que a natureza das coisas criadas é tal que elas nada seriam se abandonadas a si mesmas”.


Assim, “não é absurdo dizer algo feito por Deus tenha existido desde sempre (numquam non fuisse)”.


Estamos aqui em um problema ainda mais abstrato que o da existência dos Anjos.


A propósito, o Nougué acaba de escrever sobre o tema um artigo bem interessante.