quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Realismo moderado

Sidney Silveira
Em seu comentário à Metafísica aristotélica (In XII lib. Metaph. L.III, 1.1.), Santo Tomás afirma:

“O filósofo deve considerar todas as dificuldades, pois, como lhe cabe investigar a verdade em toda a sua amplitude, também lhe compete confrontar-se com todas as aporias. Do contrário, deve comparar-se a quem anda sem saber aonde vai”.

Comparar-se a quem anda sem saber aonde vai. Sábias palavras do Santo! Certamente, ali o Aquinate não presume que a averiguação da verdade seja extensivamente completa — pois ele parte da pressuposição de que a verdade dos entes é inesgotável na medida em que participam da inesgotabilidade do Ser divino. Em síntese, quer dizer Santo Tomás em seu comentário a Aristóteles o seguinte: o filósofo deve pôr na investigação da verdade todo o seu ímpeto e todos os seus recursos. Decompor as aporias em suas premissas fundamentais, e não descansar enquanto o erro não revelar a sua face oculta. Tal atitude distingue o verdadeiro filósofo.

Cabe dizer que tal investigação nada tem de quixotesca, pois advém da consciência de que a inteligência humana é, primordialmente, a potência para todos os inteligíveis (como se diz
nesta aula). É claro que um só homem não pode atualizar todos os inteligíveis da ordem do ser, pois, para tanto, ser-lhe-ia necessário possuir um intelecto infinitamente perfeito. Não! Em Santo Tomás não há esse racionalismo idealista, essa idéia de que a razão humana pode, por um método qualquer, resolver todos os problemas...
É uma posição equilibrada:. nem a quimera racionalista, de um lado, nem a boçalidade pungente de quem não quer ver o óbvio, de outro. Realismo moderado.