sábado, 25 de setembro de 2010

A Mãe do Salvador (II)

Sidney Silveira

Agradeço pelas mensagens que tenho recebido por postar no Youtube um pequeno trecho de aula em que falo da principal excelência de Maria, Nossa Senhora: ser a Mãe de Deus. Dizia eu ali, citando um livro de Garrigou-Lagrange, que a plenitude inicial de graça em Maria — que a preservou da mancha do pecado original — foi um privilégio especial concedido por Deus para que fosse a digna mãe do Salvador. Afinal, como Santo Tomás reitera em diferentes pontos de sua obra, Deus dá graças proporcionadas à missão que quer que uma pessoa realize.

Mas vale consignar outras coisas sobre Maria:

Ø Ela foi isenta, em toda a sua vida, não apenas de pecados mortais, mas também dos mais ínfimos pecados veniais. Daí dizer o Concílio de Trento (Seção VI) que o homem, uma vez justificado, não pode continuamente, ao longo de toda a sua vida, evitar todos os pecados veniais, a não ser por um privilégio especial como o que a Igreja reconhece haver sido concedido à Santíssima Virgem.

Ø Nos Santos, a confirmação da graça realiza-se mediante um grande aumento de caridade, sobretudo por aquilo que os místicos chamam de união transformante, o suplemento de graças atuais eficazes que os fazem evitar o pecado e os conduzem a atos meritórios cada vez mais elevados. Em Maria, tal união transformante não foi acidental, pois lhe impregnava a alma desde a imaculada conceição, quando na verdade sua santíssima alma foi adornada com todos os dons gratuitos.

Ø Ao definir o Dogma da Imaculada Conceição, Pio IX diz que Maria foi amada desde o primeiro instante sobre todas as criaturas — prae caeteris creaturis —, pois “Deus a cumulou admiravelmente com todas as Suas graças, muito mais que a todos os espíritos angélicos e a todos os Santos”.

Ø Santo Tomás explica a plenitude de graça em Maria dizendo: “Quanto mais nos aproximamos do princípio, melhor participamos dos seus efeitos. (...) Pois bem, Cristo é o princípio de toda a vida e de toda a graça; como Deus, ele é causa principal dela, e como homem no-la transmite (depois de havê-la merecido por nós), pois sua humanidade é como um instrumento sempre unido a Deus. (...) A Santíssima Virgem, estando mais próxima de Cristo que qualquer outra pessoa, posto que ele tomou [apenas] dela sua humanidade, recebeu de Deus uma plenitude de graça que supera a de todas as demais criaturas” (Suma Teológica, III, q. 27, a. 5).

Ø Em seu Comentário à Ave-Maria, escreve ainda o Angélico que o Arcanjo Gabriel, ao saudar Maria, mostrou-se cheio de respeito e veneração, pois compreendeu que Maria sobrepassava-o, pela plenitude da graça e pela intimidade divina com o Altíssimo. A propósito, é leitura obrigatória para quem quer estudar o tema o Comentário à Ave-Maria (In Salutationem Angelicam Expositio) traduzido com grande apuro por Omayr José de Moraes Jr.

Ø Há uma diferença teológica entre imperfeição voluntária e pecado venial. A imperfeição voluntária é, por assim dizer, uma generosidade menor, num dado momento. Assim, alguém porventura se encontra indisposto e, numa certa ocasião, deixa de fazer o melhor que poderia, o que não é em si pecado, mas uma pequena imperfeição. Pois bem, nem mesmo estas pequeníssimas faltas houve em Maria, segundo Garrigou, pois não houve nela ato imperfeito (remissus) de caridade inferior, estando a Virgem sempre totalmente pronta a responder a qualquer inspiração divina. Este pequeno trecho eu posto em resposta a alguém que me mandou email questionando que Maria fosse mesmo mais Santa que todos os Santos e Mártires juntos — como eu disse no vídeo citado acima. Vale também, caro amigo, ler o belíssimo trecho da bula Ineffabilis Deus, que definiu o Dogma da Imaculada Conceição.

Estes achados do livro La Mère du Sauveur – Notre vie intérieure, do Pe. Garrigou, são um grande tesouro para quem quer aprofundar a piedade mariana com estudos teológicos do mais alto gabarito.

Muito mais ainda há por dizer.