Sidney Silveira
Agradeço pelas mensagens que tenho recebido por postar no Youtube um pequeno trecho de aula em que falo da principal excelência de Maria, Nossa Senhora: ser a Mãe de Deus. Dizia eu ali, citando um livro de Garrigou-Lagrange, que a plenitude inicial de graça em Maria — que a preservou da mancha do pecado original — foi um privilégio especial concedido por Deus para que fosse a digna mãe do Salvador. Afinal, como Santo Tomás reitera em diferentes pontos de sua obra, Deus dá graças proporcionadas à missão que quer que uma pessoa realize.
Mas vale consignar outras coisas sobre Maria:
Ø Ela foi isenta, em toda a sua vida, não apenas de pecados mortais, mas também dos mais ínfimos pecados veniais. Daí dizer o Concílio de Trento (Seção VI) que o homem, uma vez justificado, não pode continuamente, ao longo de toda a sua vida, evitar todos os pecados veniais, a não ser por um privilégio especial como o que a Igreja reconhece haver sido concedido à Santíssima Virgem.
Ø Nos Santos, a confirmação da graça realiza-se mediante um grande aumento de caridade, sobretudo por aquilo que os místicos chamam de união transformante, o suplemento de graças atuais eficazes que os fazem evitar o pecado e os conduzem a atos meritórios cada vez mais elevados. Em Maria, tal união transformante não foi acidental, pois lhe impregnava a alma desde a imaculada conceição, quando na verdade sua santíssima alma foi adornada com todos os dons gratuitos.
Ø Ao definir o Dogma da Imaculada Conceição, Pio IX diz que Maria foi amada desde o primeiro instante sobre todas as criaturas — prae caeteris creaturis —, pois “Deus a cumulou admiravelmente com todas as Suas graças, muito mais que a todos os espíritos angélicos e a todos os Santos”.
Ø Santo Tomás explica a plenitude de graça em Maria dizendo: “Quanto mais nos aproximamos do princípio, melhor participamos dos seus efeitos. (...) Pois bem, Cristo é o princípio de toda a vida e de toda a graça; como Deus, ele é causa principal dela, e como homem no-la transmite (depois de havê-la merecido por nós), pois sua humanidade é como um instrumento sempre unido a Deus. (...) A Santíssima Virgem, estando mais próxima de Cristo que qualquer outra pessoa, posto que ele tomou [apenas] dela sua humanidade, recebeu de Deus uma plenitude de graça que supera a de todas as demais criaturas” (Suma Teológica, III, q. 27, a. 5).
Ø Em seu Comentário à Ave-Maria, escreve ainda o Angélico que o Arcanjo Gabriel, ao saudar Maria, mostrou-se cheio de respeito e veneração, pois compreendeu que Maria sobrepassava-o, pela plenitude da graça e pela intimidade divina com o Altíssimo. A propósito, é leitura obrigatória para quem quer estudar o tema o Comentário à Ave-Maria (In Salutationem Angelicam Expositio) traduzido com grande apuro por Omayr José de Moraes Jr.
Ø Há uma diferença teológica entre imperfeição voluntária e pecado venial. A imperfeição voluntária é, por assim dizer, uma generosidade menor, num dado momento. Assim, alguém porventura se encontra indisposto e, numa certa ocasião, deixa de fazer o melhor que poderia, o que não é em si pecado, mas uma pequena imperfeição. Pois bem, nem mesmo estas pequeníssimas faltas houve em Maria, segundo Garrigou, pois não houve nela ato imperfeito (remissus) de caridade inferior, estando a Virgem sempre totalmente pronta a responder a qualquer inspiração divina. Este pequeno trecho eu posto em resposta a alguém que me mandou email questionando que Maria fosse mesmo mais Santa que todos os Santos e Mártires juntos — como eu disse no vídeo citado acima. Vale também, caro amigo, ler o belíssimo trecho da bula Ineffabilis Deus, que definiu o Dogma da Imaculada Conceição.
Estes achados do livro La Mère du Sauveur – Notre vie intérieure, do Pe. Garrigou, são um grande tesouro para quem quer aprofundar a piedade mariana com estudos teológicos do mais alto gabarito.
Muito mais ainda há por dizer.