Sidney Silveira
INDIFERENÇA, ANTE-SALA DO ABISMO
A indiferença para com o próximo que passa por dificuldades — a começar pelos amigos e pela família, que são os próximos mais próximos, por assim dizer — é o primeiro sintoma de fadiga moral. Ultrapassado esse ponto, o passo seguinte é acusar o próximo pelo infortúnio que sofreu, maneira eficiente de não lhe estender a mão sem sentir culpa nenhuma, num total alheamento.
Cedo ou tarde, a indiferença transforma-se em delito espiritual irreversível, pois vai destruindo aos poucos o que um homem tem de mais excelente: a possibilidade de amor verdadeiro. Possibilidade que essencialmente o constitui.
Ser indiferente é despersonalizar-se, nadificar-se sem o saber.