segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A profundidade da oração e a recitação dos Salmos


Sidney Silveira

O verdadeiro sentido de uma vida humana cujo propósito é elevar-se a Deus está dado pelo fato de que a mens, ou seja, o espírito, procura conformar-se devidamente à vox, entendida de acordo com a Regra de São Bento, que a concebe como palavra sagrada pronunciada na salmodia, no ofício divino. Em suma, muito mais do que um simples acordo entre mente e voz, quer dizer, entre vida interior e vida exterior — dever moral de todo homem —, trata-se de modelar a vida interior pelo Logos divino.

Noutros termos, o genuíno louvor a Deus vai além da honestidade de um homem para consigo mesmo, pois esta é apenas o pressuposto elementar, o invólucro necessário. Tal louvor consiste em o homem ir aos poucos deixando-se entranhar pelo Verbo divino que inunda as Sagradas Escrituras, compêndio das verdades amorosamente reveladas pelo próprio Deus para remi-lo. Como veremos abaixo, é óbvio ser possível um diálogo orante pessoal (feito de palavras escolhidas a dedo pela criatura racional) para com o Criador, mas para este ser fecundo deve dar-se no espírito — e sempre que possível também na letra — da Sacra Página.

Pressupor o contrário é imaginar que o homem pode encontrar o melhor caminho espiritual sozinho, elevar-se a Deus sem a ajuda de Deus, à qual os cristãos chamam graça. Implica deixar a oração depravar-se pela raiz do orgulho, fato mais comum do que a princípio se possa imaginar. Nesta matéria, a liberdade anda pari passu com o fiel seguimento da sabedoria divina, num dobrar-se ao texto sagrado contemplado como catequese batismal em forma de sentenças bíblicas. É ele, acima de tudo, a fonte na qual se destroem quaisquer vestígios de hesitação deliberativa em seguir as leis de Deus. É como ensina o salmo tão belamente comentado por Tomás de Aquino: “Regas os montes das alturas, e com o fruto da tua sabedoria a terra será saciada”.

Tais alturas não são outra coisa senão o texto bíblico mesmo, que pode e deve ser recitado, decorado, meditado. Mas tenha-se claramente em vista o seguinte: recitar salmos não é mero exercício de repetição vocal mais ou menos compreensiva, ao modo de um mantra entoado com intenções de técnica de relaxamento psicológico, mas é fazer a alma formalmente concordar com Deus, ou seja, realizar obra com o coração unido ao Todo Poderoso, num doce amplexo espiritual. E o que aqui se diz, lembremos, serve não apenas para a salmodia, e sim para toda e qualquer oração digna deste nome, que é quando a pessoa humana esvazia-se de si para preencher-se de Deus.

Ora, se uma das propriedades da prece — e considere-se aqui o proprium em seu sentido técnico, a saber, como acidente metafísico emanado da essência da coisa — é ser suplicante, ou seja, é pedir com firme esperança, é rogar com plena confiança, como dizia Santo Tomás, isto denota perfeitamente a atitude humilde a ser assumida por quem reza, pois pedir é reconhecer no ato que não se tem, e esperar de quem pode dar. Ora, quantas vezes infelizmente esquecemo-nos de seguir o ensinamento de Cristo: "O que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá". Não sejamos, pois, acanhados no pedir, pois deixar de fazê-lo é a mais triste forma de desconfiança na providência divina. Apenas não se tente a Deus com pedidos inócuos ou perversos nem se peça nada fora da reta ordenação aos bens espirituais. “Procurai primeiro o reino dos céus, e tudo vos será dado em acréscimo”.

na Didaqué encontrava-se o preceito de rezar o Pai Nosso três vezes ao dia, o que indica a importância de orar sempre tendo no horizonte as palavras expressas na Escritura, para poder fazê-lo de forma eficacíssima, e, no caso católico, sem perder de vista que a oração litúrgica é partícipe da vida eterna e é, pois, conveniente e benéfico buscar a mínima compreensão das orações que integram o ano litúrgico, em seu ritmo pneumático ascensional. Ocorre que isto não se faz sem repeti-las interior e exteriormente, até gravarem-se no coração e na mente, e ouvi-las com espírito atento na Santa Missa, na qual dia a dia vão sendo lidas. Só assim a humildade da alma suplicante revela o seu real dinamismo de subida reverente a Deus.

Estaria redondamente enganado quem supusesse que, seguindo essa disciplina psallendi, como diz São Bento no capítulo XIX de sua Regra, segundo a qual deve buscar-se a concordância entre mente e voz, aludida no primeiro parágrafo do presente texto, não se possa ou não se deva dialogar livremente com Deus, expressar-Lhe dores e conflitos intransferíveis, o que requer fazê-lo mediante palavras de cunho pessoal, não necessariamente coincidentes com o texto da Escritura. Trata-se apenas de entender que a excelência maior da oração é ser esmagamento da vontade própria — no sentido de que esta tem valor se e quando se molda à vontade divina —, e Deus não é um serviçal dos nossos caprichos e desejos, mas deve ser a meta das nossas aspirações genuínas. Em palavras simples: ainda que se peça algo específico, pessoal, tópico, este não pode não coincidir com a vontade de Deus, a qual visa aos bens superiores e à salvação da alma. E a vontade divina no tocante ao homem está expressa nas proposições escriturísticas, em forma perfeitamente adequada ao nosso modo de conhecer a verdade, que é por meio de raciocínios.

Encerremos dizendo que, se o temor de Deus é um tipo de vigilância amorosa, a maldade é, por sua vez, a pior das fadigas humanas: essa filha maldita da soberba extenua a alma naquilo que esta tem de mais excelente, a potência de querer o bem e buscar a verdade.

A maldade tolhe o acesso ao sublime, mas o tamanho desse drama existencial só o compreende quem sabe rezar, ou seja, quem entende a importância de fazê-lo tendo como referência maior os textos sagrados e o Magistério da Igreja, regra próxima e abalizada da fé.


Abalizada por um carisma inapagável.

E impagável.


P.S. Quem puder e lembrar, reze por caridade pela minha saúde.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Tomás de Aquino x Averróis


Sidney Silveira
Indicação de leitura a quem pediu textos em que Sto. Tomás combate a Averróis e ao averroísmo.

A principal obra é, sem dúvida, a densa De Unitate Intellectus, constante desta edição francesa da Flammarion, que também traz outros textos representativos da fina-flor da teoria do conhecimento do Aquinate:

Thomas d'Aquin contre Averroès

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Brevíssimo exercício de teologia da história



SANTO ALBERTO, "in philosophia, magnus", rogai por nós!

Sidney Silveira

Aos amigos e inimigos católicos
Da série "DEDUÇÃO LÓGICA E TEOLÓGICA"

Aproxima-se rapidamente o momento em que se tornará impossível deixar de ver o Concílio Vaticano II e a obra seqüencial de todos os Papas desde então — de João XXIII a Francisco, sem exceções — em sua unidade demolidora, não havendo margem a dúvida senão entre aqueles cuja cegueira voluntária chegou ao ápice da ignorância culpável em forma de obediência beócia a autoridades que se voltam contra a fé.

Então, as águas estarão divididas para que se dê a derradeira perseguição, a qual não sabemos ao certo quando será, mas sabemos que será.

Mais do que nunca, como diz o Pe. Álvaro Calderón, notável tomista, é necessário defender a Autoridade de Cristo contra as autoridades eclesiásticas obstinadas em sua atuação formalmente contrária aos fins espirituais da Igreja.

Interessante é que muitos neoconservadores passarão a assumir uma postura mais ou menos tradicional, sem agradecer àqueles a quem hoje chamam pejorativamente "tradicionalistas", a saber, leigos e sacerdotes cuja atuação onerosa, corajosa e moralmente solitária tornou-se nos últimos anos o farol incômodo das verdades de fé — signo da candeia que permaneceu acima do alqueire, mesmo alvejada pela malícia de católicos "meia boca".

Porém Deus, cuja ciência omniperfeita metafisicamente a tudo abarca, saberá premiar a cada um conforme os seus méritos em matéria tão grave.

O surgimento do homem ímpio, diz a Sagrada Escritura, precisa ser precedido da Grande Apostasia, ou seja: está prevista a déblâcle da doutrina sem a qual o mundo não estaria preparado para o Anticristo, como ensina Sto. Tomás de Aquino em seu Comentário a Telssalonicenses, ao dizer que muitos na Igreja o receberão de braços abertos.

Santo Alberto Magno, cuja imagem ilustra este breve texto, tenha piedade de nós e auxilie a todos com as suas luzes já em estado glorioso, para que enxerguemos o quanto antes, e da forma mais clara possível, os sinais dos tempos! Estes serão crescentemente marcantes no terreno da política, com a quase impossibilidade ontológica de existirem bens espirituais no seio das nações.

Na aparente vitória final do humanismo católico liberal espraiado para a instância política, pacifismo, ecumenismo, gayzismo, abortismo, ambientalismo, naturalismo em religião e satanismo explícito estarão irmanados numa aglomeração indômita, num pluralismo homicida, numa cegueira voluntária que aplaudirá de pé o delegado das trevas cujo reinado será curto porém avassalador, conforme a Escritura.

Se estes dias de fechamento à ordem da graça não fossem abreviados, nem os eleitos se salvariam...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A simulação “artística” do mal


Sidney Silveira
Dizer que a cultura contemporânea é difusora de incontáveis anomalias anímicas, mutilações espirituais e traumas psicológicos em escala jamais vista é fazer referência indireta a um princípio aceito por qualquer antropologia digna deste nome: há, no homem, uma aptidão radical a realizar em si mesmo o bem, a começar pelos bens a que tende a vida, os quais, no seu caso, abarcam todas as potências e apetites sensitivos que possui e culminam na esfera volitiva e intelectiva.[1] Do prazer da comida e do sexo ao êxtase místico ou à compreensão de elevadas verdades da ciência e da filosofia; do desejo ou avidez pelas coisas sensíveis, de per si boas, à fruição do inteligível, cujo ápice é o verdadeiro amor, que aguça a inteligência e abrasa a vontade.

Na cultura, passamos de um estágio de maldade a outro, nas últimas décadas: transitamos da hipocrisia ao escracho total, dos malefícios ocultos ou com aparência de bem às maldades escancaradas. Lembremos aqui que o hipócrita ainda possui certa preocupação de parecer bom, sinal de que ainda resta alguma medida moral no seu horizonte de cogitações, resquício de pudor natural que o impede de revelar-se completamente. Já o imoralista escrachado perdeu o vínculo com princípios e valores humanos universais, tal é a inversão das tendências constitutivas de sua psique.

No caso do rock, objeto deste brevíssimo texto, já vai muito longe o tempo em que a adesão ao mal era simulada. Já vai longe a época em que as mensagens satânicas eram mais ou menos cifradas, em músicas como Hotel California, da banda The Eagles, referência à sede da Church of Satan, ou então Sympathy for the Devil, dos Stones. E muitíssimas outras mais! De lá para cá, chegou-se a Marylin Manson, a Lady Gaga e a outros representantes de correntes satanistas absolutamente explícitas.

Pois muito bem: na noite de hoje, no Rock in Rio, foi a vez do grupo Ghost fazer as honras dos devotos da maldade. O show da banda sueca foi a literal simulação de uma missa negra, ou seja, de um culto a Lúcifer — que, na vida real, pode chegar a incluir sacrifícios humanos, embora na maior parte das vezes consista em blasfemar contra Deus e reafirmar ritualisticamente um compromisso com os piores tipos de maldade.

Ver as imagens destes literais pobres-diabos, com cruzes invertidas, máscaras sinistras, cálices, símbolos esotéricos satânicos, etc., não foi o pior. O mais triste foi constatar, uma vez mais, como o jornalismo degradou-se a ponto de abordar a coisa com reportagens em tom de cobertura “cultural”, sem nem sequer perceber o significado macabro de uma pretensa arte que se volta para o mal não mais simulando um bem, mas simulando o próprio mal, o que requer requintes de perversão.

O genial Aristóteles, muito antes de Cristo, já nos ensinava que o homem é um animal que imita, por isso não convém à arte dar destaque a maldades nem caricaturar o bem. Que diria então o grande filósofo grego de uma representação como esta senão que se trata duma espécie de loucura voluntária altamente culpável, signo gritante da mais profunda depravação psicológica?

Pobres jovens, que, se estão ali, adorando esta monstruosidade, já é sinal de não terem tido a providencial fortuna de encontrar quem lhes apresentasse outro caminho.

Pobres vidas que se voltam contra a vida! O seu futuro é a agonia, a angústia existencial, o desespero, o ódio. 

A menos que se dê um milagre.

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1- O tomista argentino Martín Echavarría, psicólogo e filósofo, possui alguns trabalhos em que aponta com grande acerto para o caráter patógeno da cultura contemporânea.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Nova chamada para o curso de latim do Insituto Angelicum



Desta vez, o próprio William Botazzini fala sumariamente do método a ser empregado no curso.

As inscrições continuam pelo e-mail contato@institutoangelicum.com, com Lissandra Lopes de Oliveira, ou com ela própria pelo Facebook, onde há várias outras informações sobre este curso de dois anos, em: 


O método de Hans Orberg, quando adotado por um professor de talento, produz frutos excepcionais em tempo relativamente curto, para quem queira aprender de verdade o latim.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Exercicio de Teologia da História: a Igreja durante a Grande Apostasia


Sidney Silveira
O que diz Sto. Tomás de Aquino acerca do curto reinado do Anticristo e da situação da Igreja quando ele cumprir-se?

Vídeo extraído de um pequeno trecho de aula do curso "Manifesto das Sombras", do Instituto Angelicum

Quem tiver interesse em ler o Comentário de Sto. Tomás citado no vídeo, veja-o em: 


A Urgência de uma Filosofia Tomista - TERCEIRO VÍDEO DE APRESENTAÇÃO


Sidney Silveira
Informações para este curso do meu amigo Carlos Nougué no blog Estudos Tomistas.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Por uma filosofia tomista

Sidney Silveira
Neste link, o informações sobre o curso do meu querido amigo Carlos Nougué!

Penso que é chegada a hora de estas iniciativas ganharem maior terreno no Brasil, em prol de uma formação verdadeira, que vá além da mesquinhez predominante entre nós.

CURSO DE LATIM - INSTITUTO ANGELICUM


CURSO DE LATIM
Instituto Angelicum

Para uma formação cultural e intelectual sólida, é fundamental o estudo da cultura clássica naquilo que ela nos legou de mais precioso. Diversas são as disciplinas que fazem parte de uma legítima formação clássica: a filosofia, os mitos, a história da civilização greco-romana, a literatura, entre outros. Mas nenhuma delas pode ser verdadeiramente compreendida sem o estudo daquela língua que foi o instrumento de criação de muito destes saberes e que hoje é a chave-mestra para uma interpretação mais acurada do que o tesouro dos clássicos pode oferecer-nos. Esta língua é o latim. Saber latim é ter diante de si a possibilidade de um enriquecimento cultural e intelectual ímpar. É poder dialogar com mais de dois mil anos do melhor da cultura ocidental: Cícero, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Tito Lívio, Virgílio, César Barônio, Plauto, Fedro, e muitos outros.
Para levar o aluno à fluência na leitura dos clássicos, trabalhamos com um material de excelente qualidade, utilizado nos melhores centros de estudos latinos do mundo, que dispensa o uso do vernáculo, isto é, os textos são inteiramente em latim desde a primeira aula. O método não se restringe apenas à formação linguística, mas é enriquecido com diversos elementos culturais do mundo greco-romano.
Na verdade, não se trata apenas de um curso de latim: é um também um curso de cultura clássica dado na língua latina que, por sua vez, será apresentada paulatinamente aos alunos no decorrer do curso. Nada de decorar tabelas e traduzir frases sem sentido, descontextualizadas.
Aprenda latim de verdade, com textos informativos e ricos de significado.
Faça sua matrícula! Vagas limitadas.

·         O curso será ministrado pelo prof. William Bottazzini que leciona latim há sete anos e já traduziu diversas obras, além de ser um dos poucos no Brasil que utiliza o latim como língua viva.

EMENTA DO CURSO
CURSO DE LATIM – Instituto Angelicum
Prof. William Botazzini
1º semestre
Gramática
- Os seis casos no singular e no plural (nominativo, acusativo, genitivo, ablativo, dativo e vocativo)
- As duas primeiras declinações (gen. sing. em –ae e –i)
- Adjetivos da 1ª classe - partículas interrogativas -ne, num, nonne.
- Pronomes quis/qui, quae, quid/quod; hic, haec, hoc ; is, ea, id
- Os quatro grupos verbais nas terceiras pessoas (voz passiva e voz ativa)
- Imperativo presente (singular e plural) - locativo - as preposições de acusativo e de ablativo - ablativo de instrumento e ablativo de preço.
- Conjunções
Cultura
- O império romano, suas províncias e aspectos hidrográficos elementares
- As villae romanas
- As estradas romanas
- A estrutura familiar romana

2º semestre
Gramática
- Terceira, quarta e quinta declinações no singular e no plural (gen. sing. em –is; -us; -ei respectivamente).
- Ablativo de modo, ablativo de tempo, ablativo de diferença
- Introdução à formação de palavras (preposição + verbo)
- Comparativo e superlativo
- Acusativo com infinitivo
- Numerais ordinais e numerais cardinais
- Dativo de interesse
- Particípio presente
- Conjugação verbal completa no presente do indicativo das vozes ativa e passiva - Declinação dos pronomes pessoais e possessivos
- Verbos depoentes
- Verbos impessoais
- Formação de advérbio
- Numerais multiplicativos
Cultura
- O exército romano
- Introdução à mitologia
- O calendário romano
- Introdução à medicina na antiguidade
- A rotina no mundo romano
- A vida escolar na Roma antiga
- Sistema monetário romano

3º Semestre
Gramática
- Pretérito imperfeito do indicativo, voz passiva e voz ativa.
- Futuro do indicativo (voz passiva e voz ativa)
- Pretérito perfeito do indicativo, voz passiva e voz ativa.
- Supino (ativo e passivo)
- Estilo epistolar
- Ablativo absoluto
- Particípio e infinitivo futuro
- Mais que perfeito do indicativo, voz passiva e voz ativa.
- Imperativo dos verbos depoentes
- Gerúndio
Cultura
A vida conjugal na Roma antiga Introdução às fábulas (mitos de Teseu e o Minotauro e de Dédalo e Ícaro).

4º semestre
Gramática
- Presente do subjuntivo (ativo e passivo)
- Imperfeito do subjuntivo (ativo e passivo)
- “ut” e “ne” + subjuntivo
- Futuro perfeito do indicativo (ativo e passivo)
- Gerundivo
- Perfeito do subjuntivo (ativo e passivo)
- Mais que perfeito do subjuntivo (ativo e passivo)
- Métrica latina (trochaeus, iambus, dactylus, spondeus)
- Imperativo futuro
Cultura
- Introdução à Vulgata
- Introdução à poesia latina.

Faça a sua inscrição aqui.

Veja o material didático e outras informações no evento do curso no Facebook, com Lissandra Lopes.


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sublime comunhão de trapaceiros, vestíbulo do Anticristo


Sidney Silveira
A civilização pós-cristã contemporânea sepultou a idéia de virtude, seja no plano individual, seja no coletivo. Após as violentas assertivas de Nietzsche, Freud e Marx — e, posteriormente, de seus epígonos filosóficos e ventríloquos universitários ao longo do século XX —, o bom caráter acabou por tornar-se uma espécie de impossibilidade sociológica, cultural. Os parâmetros estabelecidos à luz da obra desses mestres da prestidigitação teorética, e também da de alguns dos seus antepassados, como Hobbes e Maquiavel, passaram a ser sobretudo três: o insaciável império da vontade, o governo tirânico e libidinoso do inconsciente e a luta entre grupos vetorizados pelo critério material. De maneira decisiva e em nível até então inimaginável, a arte perdeu o vínculo com o belo e a política com o bem, dois transcendentais do ser.

Tornamo-nos sociedades de tarados impacientes, pessoas que exigem sem demora o cumprimento estrito de absolutamente todos os seus caprichos, pondo a culpa de qualquer infortúnio pessoal ou desejo insatisfeito nas injustiças sócio-políticas, nas desavenças de classe e no “preconceito”, palavrinha mágica hoje capaz de auferir benesses estatais vultosíssimas em favor de quem a souber manipular — sempre a título do pagamento de dívidas atávicas que podem remontar ao paraíso adâmico. A máxima sartreana erigiu-se em norma pétrea: o inferno são os outros, mas numa conformação em que a tolerância à adversidade é zero. Em síntese, não apenas desacreditamos da virtude, mas lhe pusemos gigantescos obstáculos políticos, impedindo que aflore no tecido social, com as cada vez mais honrosas e miraculosas exceções.

Criamos uma cultura patógena, ou seja, fomentadora de enfermidades psíquicas em larga escala, como costuma afirmar o filósofo tomista Martín Echavarría, prolífico autor contemporâneo de importantes estudos na área da psicologia. Por sua vez, o espírito liberal engendrou no Ocidente um cenário no qual a norma é aprovar leis multiplicadoras dos confrontos entre grupos e indivíduos, na prática um fomento legislativo à inimizade, à divisão das sociedades em minorias cada vez mais numerosas que se odeiam com monolítica reciprocidade.

Como não poderia deixar de ser à vista do acima exposto, o homem contemporâneo é tribal, precisa afirmar-se nalgum agressivo grupo identitário excludente de todos os demais, com o luxuoso apoio do Estado. A um só tempo, ele é espiritualmente emasculado, moralmente tíbio e fisicamente violento. Sobretudo o homem da geração neta do “é proibido proibir”, expressão parida, formulada, concebida na nunca assaz incensada anarquia do Maio de 68. A propósito deste evento de falsas intenções libertárias, dizia Raymond Aron que o seu propósito era, acima de tudo, criar uma máquina de guerra para destruir as universidades como centros de ensino e atacar a ordem social inteira. Um radicalismo itinerante que hoje reencarna no Brasil, na pele dos grupos de “manifestantes” financiados indiretamente pelo governo federal para galvanizar toda a política e evitar o nascimento de qualquer verdadeira oposição.

Ora, retirado do sofrimento humano o seu sentido transcendente, que o cristianismo tão benevolamente trouxera ao mundo, não restam senão desespero e agonia, cupidez e desordem, maldade e desonra. Extirpada do horizonte social a noção de culpa, assim como as virtudes teologais — fé, esperança e caridade —, substituídas pela revolucionária tríade fraternidade-igualdade-liberdade, as pessoas tendem a criar mecanismos de autocomiseração e desculpar-se previamente a si próprias, arrolando estapafúrdias justificativas para os mais hediondos atos, sempre tendo à mão algum intelectual, jurista ou parlamentar para lhes dar suporte.

Em verdade, a marcha da insanidade é, na acepção do termo, política: o Estado transformou-se no difusor maior da maldade, na medida em que ele próprio se pretende normatizador do certo e do errado moral, bem ao modo hegeliano. Ele é babá de caprichos e taras potencialmente multiplicáveis ao infinito, garantidor do fundamental direito de jogar todos contra todos e indomável inimigo dos resquícios de cristianismo — principalmente do cristianismo católico tradicional, aquele que defende dogmas bimilenares e a exclusividade salvífica da Igreja.

Na Nova Ordem Mundial, só um arremedo de religião ecumênica poderá ter lugar, e a própria Igreja pós-Vaticano II ajudou a erigir o presente estado de coisas, com gravíssimas omissões políticas e um neomagistério dialogado feito de encomenda para não ferir susceptibilidades. Mas se — como diz Santo Tomás de Aquino no clássico De Maloum pecado é tanto mais grave quanto maior é o bem a que se opõe, quão enorme culpa têm essas autoridades eclesiásticas prevaricadoras do seu múnus espiritual! Descumpridoras da norma segundo a qual, como dizia Leão XIII, o Estado sem a Igreja é um corpo sem alma. Ou, noutras palavras: a matéria sem um espírito que a vivifique é decomponível de per si.

Se a política é hoje esta sublime comunhão de trapaceiros cujo objetivo é manter-se no poder a qualquer custo, tenhamos em vista que a natureza não dá saltos e que para chegarmos a este padrão de degradação foi preciso transformar a política em algo com princípio e fim em si mesma. Desvinculá-la de quaisquer pilares espirituais.

Coisa inédita desde a Antiguidade mais remota.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Caridade e Paz segundo Tomás de Aquino


Sidney Silveira
EIS UM TRECHO da última aula do curso "Manifesto das Sombras".
Agradeço a todos os participantes pelo apoio e também pela paciência para com as imperfeições do professor.
Um pouco mais à frente, transformaremos o curso em DVDs do Instituto Angelicum; quem quiser adquiri-lo também poderá optar por comprar os arquivos. 
Saudações cordiais.
P.S. Ao dizer que "o participante está para o participado assim como o ato está para a potência", estou, literalmente, fazendo uso de uma analogia de proporcionalidade. E, ao dizer que a fé precede a caridade — ambas virtudes teologais infusas —, Sto. Tomás tem em vista que o objeto material da fé é a Sagrada Escritura, ou seja: as verdades reveladas na "Sacra Pagina", e que a fé existe EM ORDEM à caridade nesta vida. E mais: crer é um ato do entendimento ("credere est actu intellectus assentientis veritati divinae"). 
No céu, não haverá mais fé porque já estaremos no conhecimento "per visio", ou seja, na glória da visão beatífica da essência divina.


domingo, 1 de setembro de 2013