Sidney Silveira
"Dotado de faculdades intelectivo-volitivas, o homem é naturalmente vocacionado à beleza — definida por Santo Alberto Magno na obra De Pulchro et Bono como fulgor comunicado pela forma às partes quantitativas da matéria.[1] A beleza desperta o amor, ato sublime da vontade, e aguça a inteligência na inquirição do mundo real. Diante de algo objetivamente belo, assimilado e compreendido da maneira adequada pelas potências superiores de sua alma, o homem alcança um particular tipo de êxtase abarcador de contrários: saciedade e apetite, contemplação e ação, repouso e ardor. Convém chamá-lo por seu nome próprio — felicidade.[2]
Ressalte-se que a noção metafísica de beleza aqui aludida está para muito além da dimensão estética, e portanto sensitiva, a que os modernos desde Baumgarten nos acostumaram, ao confundir o problema do belo com o da arte. Noutras palavras, o caráter fugidio dos dados sensitivos deveria ser a cabal evidência de que a felicidade não pode estar em nenhum tipo de prazer que se fixe no âmbito dos sentidos.[3] Em suma, ser feliz é ato próprio da inteligência, que assimila imaterialmente os transcendentais do ser, entre os quais se encontra o Belo. Quanto mais a inteligência adensa a sua apreensão intencional dos entes, mais cresce no entendimento da escala de belezas que há na realidade, até perceber o seguinte: desde a matéria primeira até Deus, as coisas são gradativamente belas, em linha ascendente".
(...)
[Trecho inicial do texto preparado para ser comentado em minha aula desta terça-feira, 25/03, no curso "A Beleza na História Cultural", do Instituto Angelicum].
P.S. Fotos tiradas do meu celular no bairro de Santa Teresa, no Rio, em fevereiro deste ano.
P.S.2 Há algumas vagas, para quem ainda quiser inscrever-se no site do Instituto, em :
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1- Alberto Magno.
“De Pulchro et Bono”, Q. 1, Art. 2. Por muito tempo se pensou que este opúsculo
fosse de Santo Tomás, por haver nele o autógrafo do Doutor Angélico. Hoje, após
o minucioso trabalho do padre italiano Roberto Busa — grande idealizador do
léxico da obra de Tomás de Aquino no século XX —, é consenso entre os
especialistas que, em verdade, se trata de um comentário de Santo Alberto Magno
ao livro “Sobre os Nomes Divinos”, do Pseudo Dionísio Areopagita. O texto
latino encontra-se na Opera Omnia do Aquinate mantida na internet pelo Prof.
Enrique Alarcón, no seguinte link: http://www.corpusthomisticum.org/xdp.html
2- A felicidade, como veremos, é um conceito analógico. Na definição de Santo Tomás, trata-se do “bem perfeito das naturezas intelectivas” (“bonum perfectum intellectualis naturae”, cfme. “Suma Teológica”, I, q. 26, art.1). Em resumo, sendo a operação mais perfeita das criaturas dotadas de inteligência, a felicidade é também uma literal imersão na beleza — uma das propriedades transcendentais do ser. No caso, imersão na beleza d'Aquele em quem reside a suprema “ratio pulchri”: Deus.
2- A felicidade, como veremos, é um conceito analógico. Na definição de Santo Tomás, trata-se do “bem perfeito das naturezas intelectivas” (“bonum perfectum intellectualis naturae”, cfme. “Suma Teológica”, I, q. 26, art.1). Em resumo, sendo a operação mais perfeita das criaturas dotadas de inteligência, a felicidade é também uma literal imersão na beleza — uma das propriedades transcendentais do ser. No caso, imersão na beleza d'Aquele em quem reside a suprema “ratio pulchri”: Deus.
3- Cfme. Tomás de Aquino. “Suma
Teológica”, IªIIª, q. 2, art. 5 e 6..