Sidney Silveira
Com relação ao texto publicado ontem no blog (Meandros do ignorância), cabe um pequeno esclarecimento.
Todos os nossos leitores estão carecas de saber que eu e o Nougué estamos totalmente afinados com a sólida posição doutrinal da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que não aceita as novidades introduzidas pelo Vaticano II e pelo Magistério pós-conciliar em todos os setores da vida cristã — sem cair no sedevacantismo. Portanto, ao citarmos autores que publicaram textos antes e depois do Concílio, às vezes é necessário fazer uma advertência, pois muitos intelectuais de boa formação não tiveram a clara visão, nos momentos imediatamente posteriores ao Concílio, da verdadeira revolução que acabaria por reduzir drasticamente o número de vocações sacerdotais, que abriria espaço para transformar a Missa em show (de péssimo gosto), reduziria a piedade, transformaria a castidade entre clérigos em um mito quase inalcançável (cada vez mais, fico sabendo de histórias tristes e gravíssimas), pulverizaria a noção de sobrenatural, introduziria o sensualismo no matrimônio, com a mudança da doutrina tradicional (pondo a “comunhão dos esposos” no mesmo plano da criação e educação da prole na vida cristã), traria o democratismo para o cume da Hierarquia, com o novo conceito de colegialidade, desceria o nível da formação nos Seminários a um ponto antes inimaginável, e, enfim, muitíssimas outras coisas sabidas por todos.
Um exemplo é o Padre Julio Menvielle, cujos escritos de antes e de depois do Concílio parecem obra de duas pessoas diferentes, tal a mudança de paradigma. E este é, também, o caso de Antonio Royo Marín, mencionado no texto de ontem. Na verdade, quando eu disse “autor de clássicos estupendos”, na verdade citei mal, pois, dos três livros mencionados apenas um (Teología Moral para Seglares, escrito por volta de 1955), pode-se dizer não contaminado por doutrinas ou idéias pós-conciliares. Os outros dois, embora mantenham posições tradicionais em vários tópicos da doutrina, deixam a desejar em muitos outros, como é o caso do também citado Espiritualidad de los Seglares, um verdadeiro híbrido.
Achei por bem fazer essa advertência, mesmo que com um dia de atraso, após reler trechos desses livros e ver entre eles, por exemplo, elogios descabidos ao dominicano ultramodernista Yves Congar, além de uma interpretação do Vaticano II indefensável, semelhante à dos conhecidos “hermeneutas da continuidade”...