Sidney Silveira
Pergunta-se Santo Tomás na Suma Teológica (I, q. 22, a. 2) se todas as coisas estão submetidas à Providência Divina. E a primeira objeção (que depois o Santo refuta) é a seguinte:
“Nada previsto é fortuito. Portanto, se tudo é previsto por Deus, nada seria fortuito. Conseqüentemente, tanto a causalidade quanto o acaso desapareceriam”.
Em síntese, o acaso pressupõe que o agente, ao agir, não contava com tal ou qual sucesso. Por exemplo: como sucederia a alguém que, indo enterrar uma pessoa da família, de repente batesse com a pá num baú cheio de ouro que estava enterrado no local. Ora, neste caso, encontrar o ouro foi, literalmente, ocasional porque não estava na intenção daquele que o encontrou.
Pois bem, não interessa aqui escarafunchar o conceito de acaso em toda a sua amplitude, mas apenas para lembrar que ele não se aplica a Deus. Nada é fortuito ou ocasional para Deus, como menciono neste trecho de aula na “TV” Contra Impugnantes. Em suma: não existe acaso para Deus, pois, como brilhantemente afirma o Aquinate, Deus sabe o que é, o que foi, o que era, o que será e o que seria; a sua omnsciência elimina qualquer possibilidade de que algo Lhe seja ocasional. Devemos, pois, meditar sobre a Providência Divina, que orienta tudo ao seu optimum, inclusive as coisas que sucedem em nossas vidas.
A propósito, pensando nela, que tristeza ver tantas pessoas católicas apostar as suas fichas nos negócios humanos e deixar de lado o que a Providência Divina dispôs para que elas não se afastassem do que é conveniente para a sua salvação! Quantos querem a segurança terrena, ainda que descuidando das coisas que Deus proveio para a única segurança verdadeira, que é esforçar-se para fazer a Sua vontade! A começar por não impugnar a verdade conhecida da própria fé em alguns dos seus pontos essenciais, às vezes em troca de um título, de um favor, de uma conveniência pessoal ou política...