Sidney Silveira
Diz São Tiago que “a amizade do mundo é inimiga de Deus”. E chama de “adúlteros” aos falsos amigos cuja amizade depende mais dos laços mundanos do que do amor a Deus: “Adulteri, nescitis quia amicitia hujus mundi inimica est Dei, quicumque ergo voluerit amicus esse sæculi hujus inimicus Dei constituitur” (Tg. IV, 4).
Diz São Tiago que “a amizade do mundo é inimiga de Deus”. E chama de “adúlteros” aos falsos amigos cuja amizade depende mais dos laços mundanos do que do amor a Deus: “Adulteri, nescitis quia amicitia hujus mundi inimica est Dei, quicumque ergo voluerit amicus esse sæculi hujus inimicus Dei constituitur” (Tg. IV, 4).
Comentando esta passagem da Sagrada Escritura, escreve o Padre Antônio Vieira (no Sermão da Primeira Sexta-Feira da Quaresma) não haver amizade mais inimiga do que esta: “(...) porque debaixo do nome de amigos são os mais cruéis inimigos, e não há amizade tão contrária, nem hostilidade tão feroz, tão nociva e tão inimiga como são estas amizades. (...) Por isso o Apóstolo quando lhes chamou adúlteros lhes chamou também ignorantes — Adulteri, nescitis — porque não sabem que o seu amor é aborrecimento, a sua união discórdia, a sua fidelidade traição, e toda a sua amizade o maior ódio. (...) Mas quem se quer mal e se faz mal porque se ama mal, não se pode querer bem, nem fazer bem, senão aborrecendo-se bem”.
Tais amizades representam uma apropriação indébita dos bens alheios, e dentre todos, do bem principal — sem o qual nenhuma amizade pode sustentar-se: a confiança, que é, nas palavras de Santo Tomás de Aquino, uma espécie de esperança. E não uma qualquer, mas uma esperança fortalecida por inabalável convicção. Ora, essas falsas amizades enfraquecem tal convicção e simplesmente aniquilam a confiança. E tudo isso não se dá sem uma profunda dor, porque, ao afastar-se de nós, o falso amigo deixa-nos sem o chão sob os pés. Mas, passado o primeiro momento, é o caso de dar graças a Deus, porque tal amizade era-o só de nome, e, como diz o mesmo Vieira num outro estupendo sermão, uma coisa é o nome, e outra a ação, e receber o nome de amigo não importa nada, se esse nome não se transforma em obras. Na prática, tais amigos roubam-nos o melhor de nós.
O que transforma esses amigos em verdadeiros compêndios de pusilanimidade? Os repeitos humanos. A amizade do mundo — essa mesma condenada por São Tiago Apóstolo. (...) “amicitia hujus mundi inimica est Dei” (...). Livrai-nos, pois, desses amigos do século, ó Senhor!