“Estais, pois, de sobreaviso, para que ninguém vos engane com filosofias e vãos sofismas baseados nas tradições humanas, nos elementos do mundo e não em Cristo”.
São Paulo (Epístola aos Colossenses, II, 8)
São Paulo (Epístola aos Colossenses, II, 8)
Sidney Silveira
As Patrísticas grega e latina tinham em alta conta essa advertência paulina contra o perigo da assimilação espúria de elementos filosóficos que, na raiz, fossem contrários à Fé. Os Padres são useiros em admoestações e palavras de condenação à filosofia e à literatura pagãs em geral, ao tipo de saber representado por aquilo que Tertuliano chamava, pejorativamente, de Athenae, linguata civitas. Para o cristão, a filosofia deveria ordenar-se a algo muitíssimo superior às coisas mundanas, superior às coisas da Pólis — embora ele pudesse servir-se destas como instrumentos para a aquisição de um conhecimento de muito maior envergadura. E tal conhecimento era nada menos do que a Cruz, a qual, como se disse alhures, é o amor em seu ápice pletórico insuperável, fonte de todo conhecimento certo, verdadeiro e útil.
Hoje, a hermenêutica liberal predominante nos estudos patrísticos quer fazer-nos crer em duas coisas:
1ª. que as condenações veementíssimas dos Padres limitavam-se a um posicionamento essencialmente teórico, mas não prático (valha-me Deus!);
2ª. que as cristalinas palavras de São Paulo em sua Epístola aos Colossenses referiam-se não a algo universal, mas sim a uma coisa contingente: à situação histórica em que o Apóstolo escreveu e à comunidade colossense a que se dirigia.
O que não faz a malícia moderna para minimizar e desvirilizar tudo o que o Cristianismo tem de firme, sólido, universal!
A verdade é, no entanto, bem outra: não apenas durante a Patrística, mas no decorrer de toda a história da Igreja, tanto o Magistério como os teólogos e Doutores sempre postularam a absoluta necessidade de afastamento de quaisquer idéias contrárias (ou mesmo pouco afins) à Fé. O estabelecimento do Index Librorum Prohibitorum, a partir do Concílio de Trento, não é nada mais, nada menos do que o ato de tornar canônica esta condenação formal, esta crítica acerba a tudo que afaste o homem da Verdade revelada. A Tradição, os mártires (como Justino, cuja imagem ilustra o presente texto) e a história dos Dogmas e das heresias estão aí para confirmar isto. Basta tomar conhecimento deles, para ver o quanto essa condenação é universalmente ininterrupta, no decorrer dos séculos.
Quando Irineu, por exemplo, escreve o seu Contra as heresias, é na verdade contra vários tipos de filosofias gnósticas que se bate, como por exemplo as que afirmavam que a matéria foi formada a partir de certas afeições da Sophia, tese à qual ele responde com a teoria da criação a partir do nada, que já tinha sido enfatizada por Teófilo de Antioquia e que sempre foi de senso comum na Igreja, com base escriturística no livro do Gênesis. O mesmo se pode dizer, analogamente, da obra de Orígenes Contra Celso; dos diferentes escritos de Agostinho contra os pelagianos e semipelagianos e contra gnósticos de diferente estirpe; de Santo Tomás contra os averroístas e contra os impugnantes do culto de Deus e da religião; etc. Além, é claro, da condenação formal de heresias de todos os tipos, pelo Magistério.
O que vivemos hoje é, portanto, algo inédito. Um otimismo irreal, sem qualquer fundamento, leva muitos a praticar um catolicismo aberto a tudo e a todos, à assimilação de uma gama variadíssima de pensadores que, ao fim e ao cabo, representam um enorme perigo para as almas. Em vários seminários hoje se estudam o criticismo kantiano, a fenomenologia husserliana, o historicismo hegeliano, o Dasein heideggeriano, etc., sem o menor espírito crítico e sem que se lhes anteponha a síntese abarcadora de Santo Tomás. Estuda-se teologia moral com critérios de um relativismo historicista altamente daninho. Ademais, minimizada a autoridade do Magistério nos últimos 40 anos, perdemos critérios objetivos e nos desvirilizamos espiritualmente; tornamo-nos, pois, ineptos para a luta contra o mundo, contra a carne e contra o demônio — três inimigos ferozes da nossa salvação.
Como o Magistério não mais se manifesta solenemente com relação a tantos elementos da cultura e da filosofia contemporâneas que são, em si mesmos, nefastíssimos, mais do que nunca o católico deve buscar orientação nos Santos Doutores, no estudo do Magistério bimilenar, na constante leitura do Evangelho e, enfim, em tudo o que a sabedoria de Cristo fez luzir nos homens da Igreja. E, se tem pendor filosófico, deve estudar o Doutor Comum: Santo Tomás de Aquino.
Aí sim, terá critérios objetivos para pôr a nu os sofismas modernos — herdeiros da visão liberal que impregnou o mundo com o seu bafio — e orientar-se pela verdadeira sabedoria.
Perderá amigos, com isto. Mas e daí?
As Patrísticas grega e latina tinham em alta conta essa advertência paulina contra o perigo da assimilação espúria de elementos filosóficos que, na raiz, fossem contrários à Fé. Os Padres são useiros em admoestações e palavras de condenação à filosofia e à literatura pagãs em geral, ao tipo de saber representado por aquilo que Tertuliano chamava, pejorativamente, de Athenae, linguata civitas. Para o cristão, a filosofia deveria ordenar-se a algo muitíssimo superior às coisas mundanas, superior às coisas da Pólis — embora ele pudesse servir-se destas como instrumentos para a aquisição de um conhecimento de muito maior envergadura. E tal conhecimento era nada menos do que a Cruz, a qual, como se disse alhures, é o amor em seu ápice pletórico insuperável, fonte de todo conhecimento certo, verdadeiro e útil.
Hoje, a hermenêutica liberal predominante nos estudos patrísticos quer fazer-nos crer em duas coisas:
1ª. que as condenações veementíssimas dos Padres limitavam-se a um posicionamento essencialmente teórico, mas não prático (valha-me Deus!);
2ª. que as cristalinas palavras de São Paulo em sua Epístola aos Colossenses referiam-se não a algo universal, mas sim a uma coisa contingente: à situação histórica em que o Apóstolo escreveu e à comunidade colossense a que se dirigia.
O que não faz a malícia moderna para minimizar e desvirilizar tudo o que o Cristianismo tem de firme, sólido, universal!
A verdade é, no entanto, bem outra: não apenas durante a Patrística, mas no decorrer de toda a história da Igreja, tanto o Magistério como os teólogos e Doutores sempre postularam a absoluta necessidade de afastamento de quaisquer idéias contrárias (ou mesmo pouco afins) à Fé. O estabelecimento do Index Librorum Prohibitorum, a partir do Concílio de Trento, não é nada mais, nada menos do que o ato de tornar canônica esta condenação formal, esta crítica acerba a tudo que afaste o homem da Verdade revelada. A Tradição, os mártires (como Justino, cuja imagem ilustra o presente texto) e a história dos Dogmas e das heresias estão aí para confirmar isto. Basta tomar conhecimento deles, para ver o quanto essa condenação é universalmente ininterrupta, no decorrer dos séculos.
Quando Irineu, por exemplo, escreve o seu Contra as heresias, é na verdade contra vários tipos de filosofias gnósticas que se bate, como por exemplo as que afirmavam que a matéria foi formada a partir de certas afeições da Sophia, tese à qual ele responde com a teoria da criação a partir do nada, que já tinha sido enfatizada por Teófilo de Antioquia e que sempre foi de senso comum na Igreja, com base escriturística no livro do Gênesis. O mesmo se pode dizer, analogamente, da obra de Orígenes Contra Celso; dos diferentes escritos de Agostinho contra os pelagianos e semipelagianos e contra gnósticos de diferente estirpe; de Santo Tomás contra os averroístas e contra os impugnantes do culto de Deus e da religião; etc. Além, é claro, da condenação formal de heresias de todos os tipos, pelo Magistério.
O que vivemos hoje é, portanto, algo inédito. Um otimismo irreal, sem qualquer fundamento, leva muitos a praticar um catolicismo aberto a tudo e a todos, à assimilação de uma gama variadíssima de pensadores que, ao fim e ao cabo, representam um enorme perigo para as almas. Em vários seminários hoje se estudam o criticismo kantiano, a fenomenologia husserliana, o historicismo hegeliano, o Dasein heideggeriano, etc., sem o menor espírito crítico e sem que se lhes anteponha a síntese abarcadora de Santo Tomás. Estuda-se teologia moral com critérios de um relativismo historicista altamente daninho. Ademais, minimizada a autoridade do Magistério nos últimos 40 anos, perdemos critérios objetivos e nos desvirilizamos espiritualmente; tornamo-nos, pois, ineptos para a luta contra o mundo, contra a carne e contra o demônio — três inimigos ferozes da nossa salvação.
Como o Magistério não mais se manifesta solenemente com relação a tantos elementos da cultura e da filosofia contemporâneas que são, em si mesmos, nefastíssimos, mais do que nunca o católico deve buscar orientação nos Santos Doutores, no estudo do Magistério bimilenar, na constante leitura do Evangelho e, enfim, em tudo o que a sabedoria de Cristo fez luzir nos homens da Igreja. E, se tem pendor filosófico, deve estudar o Doutor Comum: Santo Tomás de Aquino.
Aí sim, terá critérios objetivos para pôr a nu os sofismas modernos — herdeiros da visão liberal que impregnou o mundo com o seu bafio — e orientar-se pela verdadeira sabedoria.
Perderá amigos, com isto. Mas e daí?