Sidney Silveira
Assim como, no indivíduo, o desgoverno da sensibilidade exacerba todo um conjunto de paixões, que, por sua vez, exercem influxo narcotizante e embotador sobre a inteligência, o mesmo se dá com as sociedades: a predominância de manifestações artísticas que excitam, de forma demasiada, algumas partes da sensualitas humana acaba por induzir ou conformar o conjunto das pessoas a uma situação de cegueira coletiva, de hedonismo cru (e cruel), de individualismo materialista, de aversão à verdadeira espiritualidade. Daí a razão por que — ao abordarmos o tema da arte em quaisquer de suas manifestações — tentamos apontar, no restritíssimo âmbito de nossa atuação, a necessidade de se recuperar uma sensibilidade artística católica, ou seja: uma sensibilidade na qual tudo (inclusive a arte) é meio, é instrumento que se deve subordinar ao nosso fim último: Deus. Caso contrário, será inútil e daninho, ainda que estonteantemente belo. Esta foi, na prática, a motivação para o que, até o momento, o Nougué escreveu sobre arte e, particularmente, sobre música no Contra Impugnantes, cuja essência está consignada nesta entrevista por ele concedida, ano passado, ao Prof. Marcos Cotrim, da Universidade Católica de Anápolis (GO), da qual postamos agora a terceira parte.