sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Pieper, tomismo e Pacheco Salles

Sidney Silveira
É bastante conhecido (até mesmo por principiantes no estudo da obra de Santo Tomás) o texto de Josef Pieper no qual ele diz que, em sentido próprio, não existe realmente um tomismo. É um texto bonito, se for encarado como uma metáfora, uma imagem da riqueza magnífica da obra do Angélico Doutor — ou seja: na medida em que nos aponta que ela não pode ser reduzida a um “ismo” qualquer, tão grandiosa que é. Mas tomá-lo como a literal expressão de uma pétrea verdade (ou seja: a de que o tomismo realmente não existe) é algo que não passa pela cabeça de quem conheça, minimamente, a história dos 700 anos em que incontáveis filósofos e professores dedicaram a sua vida intelectual ao estudo e à difusão da obra do grande mestre medieval — com diferentes e, não raro, conflitantes interpretações.

Pois bem: textos de estudiosos (tomistas!!) como Pieper — homens sérios, equilibrados — merecem ser discutidos, sobretudo porque são indubitavelmente autores importantes. Mas também merecem ser lidos e discutidos textos de homens mais extremados, como é o caso do cultíssimo Pacheco Salles, que acabou descambando para um dos tipos de sedevacantismo abordados pelo Nougué, na série que ainda promete muitos textos. Nós, mais adiante, exporemos aqui alguns desses textos, como exemplo de quão variado é o uso que muitos fazem dos instrumentos filosóficos aprendidos com Santo Tomás. Afinal, personagens como Pacheco Salles também fazem parte da história do tomismo, de alguma forma. E, se chegaram a certa estatura, seus escritos merecem ser analisados por nós, simples amantes de tudo que diga respeito a Santo Tomás.

Aguardem um pouco, amigos, com a mesma paciência com que nós lemos, por aí, as maiores diatribes, apaixonadas diatribes, tolas diatribes, irônicas diatribes... Mas aproxima-se a hora de a onça beber água, pois estão a cutucá-la com a vara curta, muito curta, e não por motivos nobres.