Sidney Silveira
Hoje abundam nos seminários católicos papagaios filosóficos e teológicos de todos os tipos, e para todos os gostos: kantianos, gadamerianos, heideggerianos, blondelianos, rosminianos, husserlianos, ricouerianos, espinosistas, etc. Ora, se a formação dos sacerdotes fosse orientada à profissão de historiador das idéias filosóficas ou religiosas/teológicas, menos mal. Ocorre que eles recebem (ou deveriam receber) formação para algo muito distinto — um ofício divino: perdoar os pecados in persona Christi e ministrar os sacramentos, assim como para as atividades doutrinais e pastorais que a estas estão subordinadas. A formação filosófica e teológica dos padres, portanto, jamais poderia ser regida pelo ecletismo, e sim pela doutrina perene da Igreja, com o conseqüente combate a tudo quanto a ela se oponha, pelo bem das almas. Como sempre se fez, até o modernismo varrer tudo o que é tradicional para baixo do tapete.
Em um momento da história eclesiástica tão dramático como este, portanto, nunca foi tão necessário simplesmente repetir, para os católicos (principalmente seminaristas e padres, mas também para os leigos), a doutrina tradicional, sobretudo a obra do Doutor Comum: Santo Tomás de Aquino. Trata-se de um grande serviço, e é o que faz o Prof. Carlos Nougué neste trecho de aula sobre a Realeza de Cristo, no qual menciona, entre outras coisas, a omniabrangência dessa Realeza, e que Cristo é Rei a um triplo título:
> Por divindade, implicadas aqui a geração eterna do Filho e a Sua consubstancialidade com Deus Pai. Ou seja: Ele é um com Deus. É Deus. E a realeza de Deus não pode senão ser total.
> Por (dupla) natureza, implicada aqui a união hipostática, ou seja: Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Ora, sendo Ele a divindade visível para os homens, isto implica que, como criaturas racionais, devemos reconhecer em Cristo o seu império absoluto sobre as nossas vidas. Império que, a propósito, se estende também àqueles que não O aceitam, pela fé, como o Senhor nosso.
> Por mérito. Ou seja, a efusão do sangue de Cristo na Cruz é causa meritória da salvação. Ele tem, pois, o mérito sobrenatural de redimir todo o gênero humano, e, portanto, tudo quanto é humano deve ordenar-se a esta supremacia absoluta de Cristo, de quem somos eternamente devedores.
Como se verá, Nougué nesse trecho lembra da tríplice analogia feita por Santo Tomás para explicar a Realeza de Cristo. Vale a pena assistir. A propósito, a aula inteira encontra-se no blog do SPES.
P.S. Agradeço ao pessoal do Frates in Unum por esta divulgação do evento Santo Tomás, médico da alma.