Carlos Nougué e Sidney Silveira
É a FSSPX a principal coluna da Tradição. Ao contrário de constituir cisma nem nada parecido, ela foi criada para preservar, em sua integralidade, a fé, os sacramentos e o sacerdócio, e manter as notas próprias da Igreja ante a degradação causada nela pelo Concílio Vaticano II e sua doutrina. Esta é a sua heróica razão de ser. Portanto, em qualquer discussão que envolva o nome da FSSPX, não nos esqueçamos jamais disto: estando a fé em grave risco de perder-se, dada a radical inversão de vetor doutrinário implantada pelo Magistério conciliar, a FSSPX assumiu a tarefa — num momento dramático da história da Igreja — de preservar intacto o bem comum natural e sobrenatural do Corpo Místico, precisando apelar, a certa altura de sua trajetória, ao estado de necessidade (instituto reconhecido pelo Direito Canônico), para justificar sua existência e atuação.
Reiteremos: desde os seus primórdios, a FSSPX assumiu a grave tarefa de defender a doutrina de sempre contra uma espécie de câncer que atingira quase toda a Igreja, com frutos patentíssimos para quem quer que analise a história eclesiástica recente sem paixões. O câncer era o modernismo denunciado no começo do século XX por São Pio X na Pascendi, mas que aprendera a resistir a todos os remédios, até alcançar por metástase as mais altas esferas e ser “consagrado” nos documentos do Concílio Vaticano II — assim como em todo o Magistério que se lhe seguiu.
Observe-se bem: não dizemos que a FSSPX é a única coluna da Tradição. Mas, por sua história, ela é indubitavelmente a principal. Ainda hoje. Portanto, respeito para com ela é o mínimo que qualquer fiel amante da Tradição deve ter. Respeito para com a sua história. Respeito para com a nobreza de sua batalha, que, ao contrário do que insinuam alguns, não se restringe a questões litúrgicas e/ou pastorais, mas a algo muito, muitíssimo maior.
Este breve texto assinado em dupla é a propósito de vários argumentos ad hominem que alguns clérigos e grupos de leigos no Brasil têm usado para denegrir a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Argumentos contra pessoas, e que passam longe de qualquer aspecto doutrinal. O padre fulano é isso; o padre beltrano disse aquilo; o padre sicrano me ameaçou, roubou meu saco de pipocas... Santo Deus! Isto são argumentos teológicos? Isto é tratar a questão com a altura teológica que ela merece? Não! Decididamente, não. Pois bem, dirigimo-nos a estes leigos e clérigos para dizer o seguinte: se quiserem discutir doutrina, está-se à disposição para qualquer debate público. Mas, se quiserem fofoca, é melhor nem começar.
Neste momento, não podemos senão apoiar publicamente a FSSPX brasileira contra tais ataques, que em meio ao disse-me-disse apelam a argumentos teológica e religiosamente inconsistentes. Esses ataques parecem visar apenas a debilitar a luta da Tradição iniciada por D. Lefebvre e D. Antônio de Castro Meyer.
Não caiamos nesta armadilha. E pensemos bem: ou se está com o Magistério infalível pré-conciliar e com a Tradição, ou de algum modo se atua, ainda que inconscientemente, pelo advento do Anticristo.
Em tempo: Nenhum dos que assinamos esta breve nota pertence à FSSPX. Apoiamos a sua posição doutrinal e a sua luta, sim, mas não incondicionalmente. A única condição é, precisamente, ela manter-se fiel à Tradição, sem concessões doutrinárias de nenhuma ordem ao modernismo. Rezamos por esta intenção, para que a FSSPX jamais faça como Esaú, que trocou algo muito valioso por um simples prato de lentilhas (Gên. XXV, 29-34).