Sidney Silveira
O FATO DE A POLÍTICA NÃO TER FIM EM SI MESMA, mas subordinar-se a algo que lhe é superior e anterior — a saber: ao conjunto de valores universais pelos quais qualquer civilização se distingue de todas as formas de barbárie —, é, ou deveria ser, o indicador de que só está preparado para tratar com alguma competência das coisas políticas o homem alçado a um ponto teorético que lhe permita contemplar a Pólis a partir dos seus princípios conformadores.
Qualquer situação em que prevaleça politicamente a opinião do indouto sobre a do douto, a do estúpido sobre a do sapiente, a do malicioso sobre a do virtuoso ou a do cúpido sobre a do prudente aponta para um fato aterrador: o bem comum tornou-se uma impossibilidade ontológica, e de tal configuração não poderá advir outra coisa que não seja a mais dramática espiral de caos e violência. Este é o caso particular das democracias liberais, nas quais se consagra a cabal vitória do reino avassaladoramente tirânico da quantidade.
A propósito, ao contemplarmos a incapacidade até mesmo de articulação verbal básica de enormíssima parcela dos que hoje ocupam cargos legislativos no Brasil, ou seja, das pessoas responsáveis por criar e aprovar as nossas leis, de imediato somos levados a ver como a vaca está a mugir no brejo das almas.
Se porventura fossem inquiridos acerca do que seja a lei, em sua essência, os nossos parlamentares — ou boa parte deles — talvez fossem acometidos duma espécie de vácuo mental análogo ao das pessoas cognitivamente incapacitadas por causa de algum dano cerebral, físico.
Sem desdouro nenhum ao notável Tiririca como palhaço, o fato é que a sociedade brasileira merece tê-lo como alguém cujo ofício é aprovar leis.
Epítome da calamidade que resiste ao otimismo irresponsável dos idiotas que da política só conseguem ver, miopemente, os partidos.