Sidney Silveira
PESSOA não é o indivíduo dissolvido numa multiplicidade de atos mais ou menos conscientes, estanques entre si — e sim a substância espiritual possibilitante desses mesmos atos.
No homem, quanto mais o sentido de unidade prevalece, mais decisivamente pessoais são os seus atos; a despersonalização da alma humana, em contrapartida, tem sempre como vetor a derrota do uno para o múltiplo, da paz para a agonia, da luz para a sombra. Seja como for, mesmo nas doenças mentais mais aflitivas — em que a consciência pode quase apagar-se por completo — permanece a pessoa.
Em síntese, pessoa NÃO É a consciência: é o que subjaz aos atos conscientes.
Esta brevíssima postagem é em resposta a leitores que me indagaram acerca da clássica definição de "pessoa" em Boécio (individua substantia rationalis naturae) e me perguntaram se ela coincide com a noção de "consciência" de algumas psicologias contemporâneas.
Respondida a pergunta com uma cabal e definitiva negativa, acrescento:
Pessoa é a raiz metafísica da consciência. Identificar simpliciter ambas é erro para lá de primário.