terça-feira, 13 de maio de 2014

NO ENSINO, TOLERÂNCIA para com os próprios pequenos erros


Sidney Silveira

Somente quem já ministrou aulas longas sabe que podem acontecer lapsos no decorrer duma exposição. Condoer-se demasiado por eles é virar estátua de sal — e esterilizar-se no ato. 

Essas pequenas impropriedades numa fala expositiva são comuns. Apenas advirtamos que o bom professor, após identificá-las, as corrige. Mas nunca, jamais, em tempo algum comete o erro capital de jogar fora a criança com a água do banho, ou seja, não destrói o que de bom construiu por conta de excessivos escrúpulos. 

Errinhos em meio a uma floresta de acertos têm valor moralmente profilático: o de impedir que o bom professor se torne vaidoso, ao perceber que a sua memória não é infalível e a inteligência às vezes tropeça. O importante é que tais falhas não se dêem com relação à forma da coisa ensinada, mas apenas quanto a tópicos materiais — tendo em vista o professor que a matéria, em sentido metafísico, está para a forma assim como a potência está para o ato, os acidentes estão para a substância e a essência está para o ser.

Se perfeito é aquilo a que não falta nada para ser o que é, pensemos nós, os que amamos os estudos, o seguinte: esses pequenos tropeços são inevitáveis, razão pela qual devem servir como aprendizado. Não façamos deles barreiras intransponíveis. 

Não se trata de ter tolerância para com os erros, e sim de não fazer deles um monstro invencível. Afinal, a compreensão da falibilidade humana não é auto-indulgência.

Amor, paciência e constância, eis o que torna alguém perito em qualquer coisa. 

Mas a perfeição absoluta, só no céu.