quarta-feira, 13 de julho de 2011

O sacrossanto direito de resposta: o texto do Prof. Olavo de Carvalho

Sidney Silveira


O Prof. Olavo de Carvalho postou no Facebook o texto que transcrevo a seguir, na íntegra, numa resposta às minhas objeções ao um escrito seu em que se fala de “tomismo” e “neotomismo. Como não é homem de mandar recados, ele próprio enviou-me um email com o referido texto, pedindo-me para publicá-lo por aqui. É o que faço agora, e com muito gosto — porque se aprendi algo com os bons escolásticos foi que o contraditório, o disputador, o controversista antes de tudo nos faz um grande favor ao apresentar argumentos em contrário aos nossos, até porque o labor filosófico é, essencialmente, dialético. Se um sujeito não acolhe as objeções com toda a seriedade que merecem, olhando-as tanto quanto possível de forma desapaixonada, e sem tomá-las como farpas pessoais (ainda que de fato o sejam!), ainda nem deu os primeiros passos para o estudo da filosofia. Esta liçãozinha de Santo Tomás eu, um genuíno zé-ninguém, aprendi.


O mais brando que diz aí o Prof. Olavo sobre a minha pessoa é que seria caridade demais chamar-me de palhaço.


Amanhã, quando eu tiver um tempo, escreverei algo sobre esta resposta dele, pois cheguei exausto do trabalho e estou dando vazão a um mau hábito que a conversão não tirou de mim: ver um futebolzinho na TV! Mas não esperem os nossos leitores ataques pessoais, porque, sendo ou não eu um autêntico palhaço, aqui não é o picadeiro.


Eis a nota.


“PARA ALÉM DA PALHAÇADA


Olavo de Carvalho


No trecho que Sidney Silveira cita em seu artigo, a distinção que faço é entre tomismo e neotomismo, não entre a filosofia pessoal de Sto. Tomás e “os demais tomismos”. Minhas palavras não poderiam ser mais claras nem menos propícias a confusões. “Tomismo” é o nome de uma tradição inteira de exegese da obra de Sto. Tomás, é portanto, na intenção expressa de seus porta-vozes, a própria filosofia de Sto. Tomás explicada e trocada em miúdos, não uma nova e distinta filosofia. “Neotomismo” é o nome de uma moda que, partindo de uma instrução acertadíssima de Leão XIII, acabou por levar a conclusões que Sto. Tomás jamais aceitaria e por entronizar como seu máximo representante o perverso e mentiroso Jacques Maritain, contribuindo decisivamente para a autodestruição da Igreja Católica.


Note-se que mesmo ao falar do período histórico correspondente ao “neotomismo”, ressalvei e enalteci muitas vezes a obra de intérpretes categorizados do ensinamento de Sto. Tomás, como R. Garrigou-Lagrange e A. D. Sertilllanges, aos quais, por isso mesmo, preferi chamar “tomistas” em vez de “neotomistas”.


Sidney Silveira falsifica completamente o sentido da minha afirmação, fingindo que coloquei os grandes tomistas do passado, como Caetano e o Ferrariense, no mesmo saco junto com Maritain e seus acólitos. É o velho truque erístico do “espantalho”: construir um boneco de palha, destruí-lo a porretadas e cantar vitória sobre um adversário de carne e osso. Inventar uma idéia absurda, atribuí-la a quem nunca a defendeu e, demolindo-a com a maior facilidade, jurar que passou como um trator sobre a cabeça do infeliz.


Silveira não faz isso para defender uma tradição que nunca ataquei, mas para exibir-se a um estupefato mundo como católico mais puro, mais santo do que eu, e assim criar uma barreira de preconceitos que me tornem suspeito aos olhos dos fiéis.


Uai, nada mais fácil, no meu entender, do que ser mais santo que eu. Mas não por esses meios. A intriga e a difamação não são práticas ascéticas consagradas na doutrina católica.


Sidney Silveira é um desses inumeráveis “intelectuais católicos” que, por falta de talento pessoal, assumem ares de importância mediante a imitação do tom magisterial dos decretos papais e alocuções cardinalícias, para dar a impressão de que, quando abrem a boca, é a Igreja que fala.


Um sujeito desses não filosofa jamais. Passa pito, de dedinho em riste, usurpando uma autoridade que não lhe pertence e que não representa de maneira alguma.


Um autêntico filósofo católico nunca fala “em nome da Igreja”. Fala em seu nome pessoal, raciocinando sobre o que sabe e o que viu, orando para que suas conclusões não se afastem, no essencial, do ensinamento da Igreja, e sabendo que não pode arrogar-se a autoridade do magistério.


Se Sidney Silveira macaqueasse o tom da autoridade eclesiástica com a melhor das intenções, seria apenas um palhaço, um exibicionista. Como, no entanto, ele usa desse expediente no intuito de difamar quem nunca lhe fez mal algum, seria caridade demais chamá-lo apenas de palhaço”.