domingo, 8 de fevereiro de 2009

Polifonia de Victoria


Sidney Silveira
O canto polifônico tem uma particular semelhança com a alma humana: a variedade de sutis matizes. No caso de uma composição verdadeiramente sacra — como esse belíssimo Kyrie de Tomás Luis Victoria —, trata-se de uma variedade que enleva, que conduz a alma a algo grandioso, santo, extasiante, como se presenciasse, em silêncio contemplativo, um transcendental amplexo entre o Bem e o Belo (assim, com maiúsculas mesmo!). Compartilho essa preciosidade com os leitores do blog, neste dia do Senhor.

Em tempo: Vale ressaltar que a beleza jamais é neutra, pois nos leva a assumir uma postura, já que ninguém consegue ser de todo indiferente a algo belo. No caso da música — como eu já ressaltara noutra ocasião —, parece-me boa a definição de Plotino: a música é uma persuasão sem conceitos. Isto é verificável pela simples observação de que há músicas que nos ajudam a concentrar as energias psíquicas em algo mais espiritual e elevado, enquanto há outras que exacerbam as nossas potências sensitivas, arrojam-nos no mundo da quantidade e da matéria. Ouvindo Victoria, como diz um amigo, a vontade que temos é de dobrar os joelhos e rezar.