Sidney Silveira
Acabo de ler isto aqui, e só posso dizer o seguinte: desisto, senhores. Voltarei, a partir de agora, a escrever sobre o Ser, o ente, a substância, os acidentes, o Magistério da Igreja, o bem, a verdade, Deus, a inteligência, a vontade, o arte, o belo, a política, o nosso curso livre de filosofia (que começa na próxima quarta-feira), etc. É muito melhor, pois a realidade está superando — com sucessivos recordes — os mais insanos devaneios que a imaginação do mais indômito escritor surrealista jamais poderia alcançar. É, simplesmente, i-na-cre-di-tá-vel. Eu, de minha parte, espero por um bom tempo não tocar neste assunto, apesar dos pedidos que tenho recebido, por email, para fazê-lo. Se o Nougué quiser, que o faça. Outra coisa: o que diria Santo Tomás, se vivo fosse, a respeito de tal situação, é algo que não consigo alcançar: a existência de um dado histórico inescrutável, intocável, absolutamente inquestionável — e que, pelo simples fato de ser abordado, torna um homem quase um criminoso. Fico com o poeta: "Mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo, vasto mundo, mais vasto é o meu coração".