quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Bibliografia inicial do Curso de História da Filosofia



Carlos Nougué

Bibliografia mínima referente à aula inaugural do “Curso de história da Filosofia”(“Que é a História da Filosofia”, 3 de novembro de 2009)

I) A Metafísica de Aristóteles, Livros Primeiro (especialmente 1-2), Segundo, Quarto e Sexto.

Observação 1: A melhor tradução ao português é sem dúvida a feita da tradução ao italiano por Giovanni Reale (3 vols., bilíngüe, São Paulo, Edições Loyola, 2005). Observe-se, contudo, o seguinte:

a) Giovanni Reale, como ele mesmo o diz, não é aristotélico-tomista, mas platônico-plotiniano-agostiniano. Ora, isso deforma por vezes suas conclusões a respeito da relação entre Aristóteles e Platão; embora, reconheçamo-lo, também o leve a superar com correção alguns equívocos a respeito desses dois filósofos que se perpetuavam entre os tomistas. Para além de tudo isso, porém, e afora o fato de o trabalho do italiano ser maiúsculo em muitos sentidos, é inegável que não podemos alinhar-nos a parte razoável de suas conclusões com respeito às diversas correntes filosóficas. Vê-lo-emos ao longo do primeiro ano deste Curso.

b) Cuidado especial há que ter com a tradução de Giovanni Reale (e pois com a de seu tradutor brasileiro) dos seguintes termos:

● Onde tradicionalmente se usa “sabedoria” (σοφία, sophía), Reale usa “sapienza” e seu tradutor “sapiência”.

● Onde tradicionalmente se usa “prudência” (φρόνσις, phrónesis), Reale usa “saggezza” e seu tradutor “sabedoria”.

Parece-me um capricho, e devemos usar sempre os termos tradicionais, sob pena de descontinuidade, precisamente, da tradição filosófica.
Itálico
Observação 2: Pode-se recorrer também à tradução francesa da Metafísica de Aristóteles pela Sœur Pascale-Dominique Nau, op, encontrável em
http://docteurangelique.free.fr/ .

Observação 3: Cuidado especialíssimo se deve ter em quase todas as traduções de Aristóteles e dos gregos em geral (e em muitas de Santo Tomás de Aquino) quanto aos seguintes termos:

a) Ón (), que corresponde em latim a ens, entis; em francês a étant; e em português e espanhol a “ente”. Infelizmente, porém, grande parte das vezes é vertido por être ou “ser”. Trata-se porém de coisas distintas: “ente” é tudo quanto tem ser; mas não é o Ser, conquanto se possa dizer, analogicamente, que Deus (cuja essência é ser) é o Sumo Ente ou, melhor ainda, o Ente sem fieri.

b) Por sua vez, eînai (primeira pessoa do singular: eimí, “sou”), sim, é que corresponde a être e a “ser”. Ón é justamente o particípio presente neutro de eînai, assim como ens, entis é o particípio presente de esse, e étant o de être.

Veremos aprofundadamente tudo isso na hora certa; mas habituemo-nos desde já a esta correção terminológico-conceptual.

II) O Comentário de Santo Tomás à Metafísica de Aristóteles.

Observação 1: Encontra-se o texto latino integral em
http://www.corpusthomisticum.org/ (in Opera omnia S. Thomae, Commentaria, In Aristotelem, Sententia libri Metaphysicae).

Observação 2: Em
http://docteurangelique.free.fr/ , encontra-se uma tradução parcial (e desigual) ao francês.

III) De Réginald Garrigou-Lagrange, El realismo del principio de finalidad, dedebec/ediciones desclée, de brower, 1947, cap. IV (“Orden en que deben estudiarse las ciencias filosóficas”), pp. 185-200. Magnífico, como toda a obra deste que se deve reputar entre os maiores tomistas de todos os tempos.

Observação: Cuidado especial, porém, deve ter-se também aqui com o que se diz mais acima (Observação 3 de I) de ente e ser. Trata-se de um problema quase geral entre os tomistas, o qual nos grandes, como Garrigou-Lagrange, implica apenas certa confusão terminológica e maneiras algo mais obscuras de explicá-lo, mas em tomistas menores implica verdadeiro nó conceptual. Esta observação, todavia, não nos faz adeptos do P. Cornelio Fabro, que porém tanto insistiu corretamente na distinção entre ente e ser. Ao contrário, como veremos também na hora certa, o filósofo italiano parece-nos incorrer em certo “escotismo” no tratamento da “vontade”, o que, naturalmente, nos afasta dele. Sentimo-nos decididamente seguidores da tradição tomista em que está um Cardeal Caetano, um Padre Garrigou-Lagrange, o Padre Teixeira-Leite Penido de A Função da Analogia em Teologia Dogmática e outras obras, e um Padre Álvaro Calderón.


IV) Do Padre Álvaro Calderón, A Candeia Debaixo do Alqueire, Rio de Janeiro, Edições Mosteiro da Santa Cruz/Angelicum ― Instituto Brasileiro de Estudos Tomistas, 2009, Apêndice Primeiro (“Algumas Noções Teológicas”), pp. 275-280.