segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre imagens, meios e fins



Sidney Silveira
Uma sensibilidade forjada no Catolicismo pressupõe uma espécie de habitual "imersão" em formas artísticas que digam respeito, direta ou indiretamente, à fé e a seus mistérios — justamente porque (em qualquer ordem de coisas) os meios devem ordenar-se aos fins que lhes são próprios. O médico não perfura o peito do paciente que fará uma cirurgia cardíaca com facões de cozinha nem com “peixeiras” nordestinas, mas sim com o bisturi apropriado. Analogamente, uma música sensual e melosa que incite à imaginação de cenas igualmente sensuais e melosas é, e sempre será, algo de per si impróprio para a alma dos fiéis católicos, na exata medida em que se trata, na prática, de um convite aberto à dissipação e, também, a atos tão ou mais sensuais e melosos do que aqueles imaginados.

Noutro dia, um saudoso amigo (cujo nome não me cabe dizer, obviamente) contava-me o seguinte: certo padre, ao mostrar para os fiéis, após a Missa, a sua mais nova composição musical, disse expressamente ter sido ela inspirada por Deus enquanto ele se ensaboava ao tomar banho. Pois bem: concedamos que isto seja verdadeiro, a saber, que Deus, por uma moção especial de Sua libérrima graça, “inspire” alguém a compor uma música — por coincidência, melosa, de acordo com o abalizado conhecedor de música que meu deu este depoimento — enquanto se ensaboa, quem sabe sob a gostosa mornidão de um bom chuveiro... Mas cabe a pergunta: tal imagem (literalmente) nua e crua é adequada para ilustrar a moção da graça divina? Ou estará o padre a remeter as suas fiéis, ou talvez também alguns dos seus fiéis, à imagem da desnuda e ensaboada inspiração da pessoa consagrada que eles vêem diante de si? Não é preciso indicar uma resposta.

Deixemos agora o nosso sacerdote de lado, assim como o exemplo do médico e o da música. Estas prosaicas referências são apenas para expressar a minha perplexidade com um email que recebi há pouco do amigo Gederson Falcometa, que me informava do projeto de Oscar Niemeyer para a nova catedral de Belo Horizonte — cujo desenho vemos acima. Um curvilíneo templo sem a mais remota referência à Cruz. Cruz sem a qual, de acordo com o próprio Cristo, ninguém pode considerar-se seu seguidor. É porventura tal construção adequada para uma igreja católica? Remete ela a algum mistério da nossa fé? Não é preciso indicar uma resposta.

A nova catedral de Belo Horizonte, por sua vez, remeteu-me ao templo que foi erigido há poucos anos em homenagem ao Padre Pio de Pieltrecina: uma catedral em forma de espiral. Qual é, por acaso, o significado da espiral na simbologia cristã? Absolutamente nenhum! A espiral tem, isto sim, uma clara referência na simbologia maçônica, pois indica a dinâmica do cosmos sob as vistas do Grande Arquiteto Do Universo (G.A.D.U), assim como o caminho iniciático, em algumas lojas. Mas há mais: o interior do templo tem várias outras referências a símbolos utilizados pela maçonaria. Sob o inacreditável altar central, que em nada remete ao caráter sacrifical da Santa Missa, a imagem da Santa Cruz é simplesmente de arrepiar, pelas explícitas referências que faz (veja-se ela acima, abaixo do projeto da catedral de Niemeyer). O mesmo se pode dizer do batistério e de várias outras partes da igreja! A propósito, vale a leitura do pequeno livro La nuova Chiesa dedicata a Padre Pio – Tempio Massonico?, de Franco Adessa, com a colaboração do sacerdote Luigi Villa, o qual pode ser lido em partes neste link (uma procura paciente pela internet leva ao mesmo texto em francês e em inglês). A documentação, as imagens e as referências são assustadoras. O Youtube também nos remete a esse estranho templo. Aqui, também, não é preciso dar uma resposta acerca de se tais imagens são ou não são apropriadas para uma igreja católica.

Ao ver e ouvir todas essas coisas, não posso deixar de me lembrar do que diz o Padre Calderón num de seus livros: retire-se a Cruz do Evangelho, e o mundo cairá aos seus pés. Ou seja: não é à-toa que hoje as seitas cristãs se multiplicam ao infinito, mundo afora, pois trazem consigo um espírito prometéico altamente contrário à fé, na formulação de promessas de felicidade terrena sem sacrifícios pessoais de nenhuma ordem. Aliás, mesmo na Igreja há muitos que hoje preferem entrar pela porta larga sobre a qual nos alertou Nosso Senhor (Lc XIII, 24).

Que se pode esperar da religião cristã sem a Cruz?