Carlos Nougué
Pode-se dividir a história humana da seguinte maneira:
1) Adão e Eva no Éden;
2.1) Após a expulsão de nossos primeiros pais do Éden, as cidades humanas se tornam pastos para os demônios: é a era do paganismo, quando, porém, a Providência prepara, com a filosofia grega e o direito romano, a constituição futura da Cristandade.
2.2) Excetua-se então o povo judeu, que, como eleito de Deus e dotado da Lei Mosaica, está para o Cristianismo assim como a criança está para o adulto.
3) Cristo se vai e nos deixa o Cristianismo, que por sua vez se divide nos seguintes períodos:
a) o período dos mártires, que vai até a conversão do império com Constantino;
b) o período de Constantino à queda do império, no qual a Igreja, por uma debilidade intrínseca do império, governa até civilmente a cidade dos homens; funda-se então a Cristandade;
c) o período superior da Cristandade, que vai da cristianização dos bárbaros até o século XIII. Este século foi o ápice da história humana, com a filosofia de S. Tomás, as catedrais góticas, as universidades, o Rei São Luís (aliás, em quase todo o Medievo o poder civil se ordena ao poder eclesiástico: os estados católicos são então parte da Igreja);
d) o longo declínio da Cristandade, desde a bofetada dada em Bonifácio VIII até a revolução francesa, passando pelos nefastos humanismo, renascimento e reforma luterana; neste período pretende-se manter o bem e a moral sem o socorro da Graça nem a direção da Igreja, segundo a simples observância natural da Lei Natural.
4) O período que se inicia com a efetiva queda da Cristandade, e que prossegue até o Concílio Vaticano II.
a) Da revolução francesa ao romantismo e ao comunismo, vive-se o tempo em que se dá a efetiva separação entre poder civil e poder eclesiástico, em que o bem e a moral se tornam assuntos de foro íntimo individual, e em que se pretende, com o romantismo, manter uma beleza (dilacerada) sem o bem universal.
b) O liberalismo e sua democracia são a pá de cal da Cristandade, e geram seus abortos mais horrendos: o comunismo, que com o auxílio do próprio capital financeiro e das democracias liberais (vide o Acordo de Yalta) chega a dominar boa parte do mundo e torna a semear a terra com o sangue de novos mártires católicos; e o fascismo e o nazismo, votados, porém, a uma pronta derrocada. É um período, apesar de tudo, de renascimento católico: grandes papas; os Cristeros no México; a guerra santa liderada por Franco na Espanha; o governo do chanceler Dreifuss na Áustria (“o inimigo público número 1” de Hitler); o cristianíssimo governo de Salazar em Portugal; os muitos e muitos missionários que devotaram sua vida à conversão de povos de terras do Oriente e da África; etc., etc., etc.
5) Entramos num tempo que, teologicamente falando, parece o da Sétima Igreja. É o tempo final da história: o grosso da hierarquia da Igreja passa para o inimigo com o Concílio Vaticano II; o comunismo enquanto tal se derrui, e se mescla com o capitalismo, com a democracia liberal e com o “é proibido proibir” do Maio de 68 francês para plasmar um mundo relativista “sem fé, nem lei, nem rei”, governado por um poder global e sustentado por uma economia igualmente global ― com a fundamental ajuda de uma Roma que diretamente contribuiu (e segue contribuindo), ela mesma, para fazer ruir o pouco que restava de Cristandade.
Pois bem, o Partido dos Trabalhadores (PT) não é senão um rebento típico deste último período. Vejamos por quê.
1) Formado originalmente por sindicalistas independentes (como Lula), pelos católicos progressistas (teologia da libertação, etc.), por partidos de extrema esquerda (parte dos comunistas tradicionais só entrará mais tarde) e por militantes do “é proibido proibir” (abortistas, gayzistas, feministas, militantes negros, etc.), veio a tornar-se uma espécie de epítome do novo mundo descrito acima, no item 5.
2) Sobretudo após a expulsão ou afastamento das correntes mais à esquerda (trotskistas, os formadores do PSOL, etc.), o PT se tornou exatamente um espelho da confluência entre comunismo e capitalismo, liberalismo e gramscismo, democratismo e populismo. Não por nada é tão louvado internacionalmente.
3) Com efeito, comunista puro o PT não é. Diga-se mais: ele está mais para uma socialdemocracia “avançada”, ao estilo de um PSOE, que para um marxismo-leninismo ao molde cubano. Querem dizê-lo marxista-leninista porque, por exemplo, segundo a maneira do centralismo democrático, expulsa quem seja contra o aborto, etc. Mas trata-se de um engano: a Igreja anatematiza e afasta de seu seio os que são contra os dogmas divinos e fomentam heresias. Imaginem se um grupo político verdadeiramente católico, como La Cité Catholique, não afastaria de seu seio quem se dissesse a favor, por exemplo, do aborto...
4) A grande maioria do PT (incluídos Lula e Dilma) não quer a revolução de massas nem a revolução por foco guerrilheiro; tampouco quer acabar com o jogo ilusório e nefando do sufrágio universal (vejam as palavras, por exemplo, de S. Pio X e de Pio XII sobre a maldade intrínseca da democracia liberal e seu fundamento, o sufrágio universal). Ao contrário, quer manter-se no poder deste mesmo regime para levar à frente seu programa real: sob o amparo do grande capital financeiro e industrial, implantar no país toda a horrenda pauta do poder mundial: aborto, fim da família, controle da natalidade, casamento homossexual, pansexualismo livre, redução da religião a assunto, no máximo, de foro íntimo, controle ideológico e político mediante os media e segundo cânones populistas (pão [bolsa-família, etc.] e circo [esporte, televisão, sexo, etc.]), um mundo bem 1984 de Orwell.
5) O que o diferencia dos PSDBs da vida? O grau de organização e de truculência, tão somente (cf. abaixo, o adendo “PSDB [quase] = PT”). Mas o PT não tem aliança com Chávez e outros que tais? Tem; mas isso não quer dizer que pretenda adotar para o país o modelo deles (internacionalmente muito minoritário). Tem-na com o Irã? Os EUA de Bush tinham (e continuam a ter) aliança com a igualmente tenebrosa Arábia Saudita. Mas o PT não é aliado de numerosos países da Europa, quer sob governo socialdemocrata, quer sob governo mais liberal? Também. E suas relações com os Estados Unidos, desde Bush, sofreram alguma fissura séria, mais do que sofreram, por exemplo, as dos países europeus com os mesmos EUA? Na mais recente tensão entre a Colômbia e a Venezuela, posicionou-se claramente o PT a favor de Chávez? Trata-se precisamente, pois, ao que parece, do que se diz mais acima: o PT é um espelho da confluência entre comunismo e capitalismo, liberalismo e gramscismo, democratismo e populismo.
6) Bem sei que até católicos sinceros têm certa simpatia pelo PT porque, de algum modo, ele combateria as injustiças sociais. Há nessa simpatia, contudo, dois erros basilares:
a) Antes de tudo, se é verdade que clama ao céu por vingança, como diz a doutrina católica, o não pagar o salário ao trabalhador e a opressão dos humildes (sobretudo órfãos e viúvas), por outro lado não é verdade que o PT queira mais uma justiça social que qualquer partido socialdemocrata, como o PSDB, ou, sobretudo, que queira uma real e efetiva justiça social, aquela que se ordena a Deus (mas este é assunto para outro[s] artigo[s]).
b) Não se deve confundir desigualdade com injustiça. O universo inteiro, dos anjos aos átomos, é harmônico porque composto de desigualdades, numa harmonia de desigualdades querida por Deus para ser um espelho, uma imagem (imago Dei) de sua mesma infinitude. É-o igualmente a Igreja, como diz São Paulo, em sua hierarquia harmônica que vai do Papa ao ínfimo fiel. E o é também a sociedade mais sã, como a medieval, com sua harmônica hierarquia que ia do rei ao ínfimo dos servos. Por outro lado, as desigualdades não terminam numa sociedade liberal ou numa comunista, muito pelo contrário: nunca houve em toda a história uma desigualdade como a que há entre Bill Gates e um lixeiro americano, nem entre Fidel Castro (o quinto homem mais rico do mundo) e um biscateiro de Havana. O servo medieval se sentava na mesma mesa de seu senhor, e pagava 10% de corvéia, enquanto hoje o brasileiro paga de impostos 45% de sua renda! E há, sim, uma profunda diferença entre a desigualdade na Cristandade e a que se dá no mundo moderno: aquela era harmônica e se ordenava a Deus, enquanto esta é desarmônica e se ordena ao inferno.
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PSDB [quase] = PT
Quer-se uma prova mais que contundente de que não há nenhuma diferença significativa entre PT e PSDB? Mais ainda: que um é, em verdade, continuação do outro, sendo suas diferenças apenas diferenças (pequenas) de grau?
Pois bem, o famoso PNDH3, do PT, não é senão uma continuação do PNDH2, do PSDB. Vejam parte da apresentação deste, escrita por ninguém menos que FHC:
“O PNDH II será implementado, a partir de 2002, com os recursos orçamentários previstos no atual Plano Plurianual (PPA 2000-2003) e na lei orçamentária anual. Embora a revisão do Programa Nacional esteja sendo apresentada à sociedade brasileira a pouco mais de um ano da posse do novo governo, os compromissos expressos no texto quanto à promoção e proteção dos direitos humanos transcendem a atual administração e se projetam no tempo, independentemente da orientação política das futuras gestões. Nesse sentido, o PNDH 2 deverá influenciar a discussão, no transcurso de 2003, do Plano Plurianual 2004-2007. O Programa Nacional servirá também de parâmetro e orientação para a definição dos programas sociais a serem desenvolvidos no País até 2007, ano em que se procederia a nova revisão do PNDH.”
Alguns itens do programa tucano:
1) “Orientação Sexual
114. Propor emenda à Constituição Federal para incluir a garantia do direito à livre orientação sexual e a proibição da discriminação por orientação sexual.
115. Apoiar a regulamentação da parceria civil registrada entre pessoas do mesmo sexo e a regulamentação da lei de redesignação de sexo e mudança de registro civil para transexuais.”
2) Regulamentação da profissão de prostituta(o):
“185. Apoiar programas voltados para a defesa dos direitos de profissionais do sexo.”
3) E quanto ao aborto?
O PNDH-2 propunha alterar o Código Penal para o “alargamento dos (casos) permissivos para a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma de Ação de Pequim”. E falava da necessidade de “considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde para os casos previstos em lei”.
Para quem ainda tiver dúvidas, leia-se, aqui, na íntegra o Programa assumido pelo PSDB
Não nos deixemos rebocar pelos inimigos de Deus, não importa sua fantasia do momento.
P.S.: Mais ainda: o PNDH 3, assumido pelo nefando PT, foi resultado de propostas aprovadas na 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos (2008) e por encontros estaduais preparatórios para ela. O de São Paulo, veja-se bem, foi convocado por decreto de ninguém menos que Serra quando governador de São Paulo... Ademais, como esquecer que o governador Serra fundou, no Estado de S. Paulo, a primeira escola gay para adolescentes?!... Tudo isso, nunca o percamos de vista, clama ao céu por vingança (cf., por exemplo, São Pio X, Catecismo Maior).