Sidney Silveira
A história do Novus Ordo Missæ promulgado por Paulo VI pode ser chamada de “a culminância do longo caminho de tentativas de protestantização da Missa Católica”. Disto sabemos muito bem, todos os que estudamos o assunto. Já Lutero estava ciente de que a máxima lex orandi, lex credendi (a norma da oração é a norma do que se crê) era certíssima, e, portanto, se destruísse a sublimidade da oração da Igreja na Missa, atacaria o âmago da fé. Ocorre que vários heréticos e herasiarcas que tentaram esse ataque foram ao longo dos séculos reprimidos de forma inapelável pela autoridade da Igreja, e tiveram rechaçados todos os seus intuitos — mas as suas sementes se foram espalhando, aqui e ali.
Como muitas pessoas não têm acesso à bibliografia sobre o tema, nem aos documentos da Igreja que, ao longo de 600 anos, anatematizaram as tentativas de alterar o cerne da Missa, é muitíssimo instrutivo esse vídeo (dividido em 10 pequenos trechos), em que se conta de maneira sintética esta incrível história. Assistam-no com toda a atenção, pois a coisa é simplesmente de arrepiar.
Faço apenas uma advertência importantíssima: após uma longa exposição do problema, só não se pode concordar com a conclusão água-com-açúcar, que afirma que todos esses heresiarcas e heréticos, em sua obstinada desobediência à autoridade da Igreja, estavam imbuídos das melhores intenções*, assim como o fato de que o Concílio Vaticano II, ao que dá a entender o vídeo, nada teria a ver com tais mudanças, etc.
Apesar deste tristíssimo malogro ao final e, também, em alguns trechos, (o que me impressiona muitíssimo, pois é como não querer concluir um silogismo cujas premissas são todas evidentes), vale a pena assistir a este trabalho e ver que a coisa vem de longe, com a diferença de que era combatida solene e firmemente pela Igreja, e hoje é referendada por sua Hierarquia. O vídeo começa com as duas Missas postas lado a lado (a Tridentina e o Novus Ordo), mas eu mencionei acima a 5ª parte, em que a história já está no século XIX, apenas para dar-nos uma perspectiva histórica mais próxima dos dias atuais.
Comecem por onde acharem melhor; depois, é só buscar no próprio Youtube os outros trechos.
* Mesmo a Igreja só julga de foro externo, pois a nenhuma pessoa humana é dado penetrar o íntimo das almas. Portanto, só nos cabe julgar as ações destes homens tremendos pelo que nelas está manifestamente expresso — assim como o fato de que todos eles mantiveram obstinadamente as suas opiniões mesmo após ser advertidos pelo Magistério, numa época em que a Hierarquia ainda não se havia afrouxado pelo princípio da colegialidade, que após o Concílio Vaticano II minou totalmente a autoridade monárquica do Papa...
Em tempo: Alguns dos dados históricos mais importantes desta mudança radical no sentido da Missa Católica estão no vídeo. Quando, na conclusão, o narrador lembra-nos que o Novus Ordo não foi invenção do Vaticano II, diz uma meia verdade, pois ele mesmo antes lembrara que o movimento progressista tomou de roldão o Concílio e possibilitou, por meio de uma política bem organizada, todas as mudanças que, até então, eram condenadas formalmente pela Igreja. A conclusão lembra muito a de católicos neoconservadores que, ao fim e ao cabo, não juntam as premissas do silogismo... Mas os dados históricos estão aí para quem souber (e quiser) ver.