terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A rebelião dos imaturos



Sidney Silveira
TRECHO DO LIVRO "A RECUSA DE SER", de Alfredo Lage, no luminoso capítulo intitulado "A rebelião dos imaturos" — referente aos hippies dos festivais do rock do final dos anos 60, apresentados pela mídia bem-pensante de então como "revolucionários", próceres do mundo da nova cultura, blá, blá, blá...

Vejamos:

"As fotografias mostram um acampamento de ciganos escorraçados de alguma cidade, depois de longa caminhada, as fisionomias embotadas de cansaço. Lembram um exército desbaratado ou uma espécie de carnaval sinistro, um corso "figé" surpreendido por alguma catástrofe atômica, e aportado em massa, sem o saber, às paragens do Styx. Rostos fechados numa espécie de voluntária incompreensão, de dura recusa. Lateja-lhes por trás da máscara amuada um ódio surdo. Não se vê um só rosto clareado pela alegria, ou tocado por um halo de esperança, ou voltado para o futuro. Será que esses personagens representam uma coisa nova, valores novos, uma concepção diversa da vida? Trarão saída para os impasses do mundo moderno? Ou serão mais uma expressão da sua profunda negatividade? 

"(...) Tivessem os moços de Bethel, em vez de passar o tempo a tomar banho nus, a praticar o coito casual à beira da estrada, e a esticar os braços e as pernas extaticamente, ao ritmo do rock, tivessem eles começado a desdobrar e escalonar metas, a se organizar em grupos com finalidades diversas, conforme uma escala de meios, a atribuir determinadas funções e responsabilidades a alguns dentre eles, etc., estaríamos em face dum rudimento de sociedade (que poderia ser meramente recreativa, ou uma seita religiosa, ou talvez um partido). Para tanto era necessário que soubessem com certa nitidez o que pretendiam.

"(...) Imobiliza-os a sua própria ambivalência. Às vezes precipita-os a agressividade num furor destrutivo que põem a serviço do mais implacável materialismo condicionador e mecanizador do homem". 

DIGAMOS AGORA NÓS: começava, no final dos anos 60, um culto à juventude como nunca até então se vira — longo processo de adolescência da contemporaneidade, o qual promete não acabar antes do final dos tempos. 

P.S. O livro de Alfredo Lage é atualíssimo!