sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Orlando Fedeli, etc.


Vi pessoalmente o Prof. Fedeli apenas uma vez — quando poucos meses antes de morrer pernoitou em minha casa e ficamos a conversar até altas horas da madrugada, após um divertido e agradável jantar com o meu amigo Carlos Nougué e o jovem Guilherme Chenta.

Lembro de lhe ter dito na ocasião o seguinte: "Prof. Orlando, há entre nós divergências tópicas e convergências utópicas". Com relação às primeiras, entre outras coisas referia-me eu ao Papa Bento XVI, sobre cuja atuação pontifícia não é meu propósito escrever aqui.

Antes de dormir, rezamos diante do crucifixo e do belo ícone de Nossa Senhora que tenho em minha sala, e a impressão que me ficou foi a de um homem piedoso, apaixonado, culto, corajoso e conhecedor do Magistério da Igreja.

Ele morreu num dia 9 de junho e foi enterrado no dia 10. Era meu aniversário, porém fiz questão de pegar a primeira ponte aérea que pude e assistir em São Paulo à Missa de corpo presente e ao seu sepultamento, pois tinha para com o falecido uma dívida de gratidão: aprendi com ele a combatividade em defesa da fé — num momento em que a Igreja deixara quase totalmente de lado a apostolicidade — e tive acesso a textos preciosos sobre outras religiões com abordagem salutarmente antiecumênica, a mesma que eu via nos Doutores, filósofos notáveis e grandes teólogos cujas obras extraordinárias tive a felicidade de ler.

Jamais fiz parte da Montfort nem de qualquer grupo católico. Por prudência, desde a minha tardia conversão preferi manter a independência e não ser gregário: optei por tentar extrair o que de bom via aqui e ali, deixando de lado o que não me interessava. E, obviamente, ter vida sacramental e esforçar-me por cumprir os preceitos.

A partir daquela época ouvi fofocas e histórias escabrosas não apenas sobre a Montfort, mas também a respeito da FSSPX brasileira, do Opus Dei, da TFP, das chamadas "comunidades amigas da Tradição" e, por fim, da Administração Apostólica S.J.M. Vianney. Se eu tivesse uma membrana nos ouvidos a fecharia para não ouvir esses presumíveis fatos que não me dizem respeito — nem próxima nem distantemente.

Em breves palavras, estas coisas não me interessam! Ademais, como jamais terei condições de aferir com os próprios olhos a imensa maioria do disse-me-disse que ouvi, há algum tempo peço às pessoas que evitem transmitir-me tais supostos acontecimentos.

Uma coisa é certa — a crise eclesial é gigantesca, ao ponto de hoje posições distintas, não raro conflitantes, serem razoavelmente defensáveis. Em tal contexto, o mínimo que o católico consciencioso deve procurar pôr em prática parece-me o seguinte: mostrar certa caridade nas divergências, saber calar e meditar muito antes de falar. 

Rezemos uns pelos outros e tenhamos a prudência de não emitir publicamente juízos temerários contra pessoas ou grupos, sempre levando em conta o fato de que responderemos por absolutamente tudo — pelo bem e pelo mal que fizermos.

Escrevo este breve texto porque recebi hoje, por conta de uma postagem de Facebook na qual fui citado, mais de 30 mensagens de pessoas contra e a favor do Prof. Fedeli. Eis aqui, portanto, a minha resposta, e se a dou em público é porque o conselho prudencial deste texto parece-me bastante útil para todos nós.

Saudações,
Sidney Silveira

P.S. Uma vez vi-me compelido a reconhecer de público alguns méritos do Prof. Orlando, e lembro-me da comovida resposta que me deu