Sidney Silveira
Parodio o folclórico ex-jogador de futebol Dadá Maravilha para dizer o seguinte: tenho recebido e-mails e também mensagens "inbox" no Facebook exortando-me a integrar este ou aquele grupo político (e/ou também religioso).
Minha resposta, simples e direta, é a seguinte:
Por ora, não! Muito obrigado.
Não me julgo ungido pelos céus para apresentar ou propor fórmulas de ação política para o Brasil — mesmo porque creio firmemente não haver solução possível para uma sociedade chegada a tão elevado grau de corrupção moral, em todos os seus estratos e substratos.
Os círculos concêntricos abismais fecham-se em ritmo alucinante, e, não havendo autoridades espirituais com poder (nem vontade) de inocular vestígios de sanidade no corpo político, a tendência de eclosão dos mais diversos tipos de conflitos anticivilizacionais está decisivamente configurada.
Perdoem-me, amigos: entre o arremedo de direita liberal nascente e o cardápio das esquerdopatias que dominam o cenário brasileiro, no momento para mim não existe ponto de tangência.
A direita nunca, jamais, em tempo algum foi a solução contra os abusos da esquerda, mas no máximo o contraveneno que cura uma enfermidade cujo risco de morte é iminente para substituí-la por outra, de morte lenta — exatamente aquela que serviu de pano de fundo para chegar-se às calamidades atuais.
Meu olhar baseia-se numa premissa elementar: o comunismo e os socialismos de todos os matizes são filhos bastardos paridos no século XIX pelo liberalismo revolucionário que pulverizou de vez o sentido de unidade das nações — e as afastou da sombra benemerente das verdades evangélicas custodiadas pela Igreja. São efeitos próximos de uma causa comum.
Com relação a esta minha posição vale dizer que não a vejo como absenteísmo político, mas sim como o fruto maduro de um senso de realidade adquirido pela contemplação continuada do cenário contemporâneo à luz de alguns princípios universais colhidos da obra de três filósofos, em particular: Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino.
Quem assistiu ao minicurso "Manifesto das Sombras" — por mim ministrado em setembro deste ano —, sabe que ali propus três eras sequenciais e procurei inserir o quadro brasileiro num contexto histórico muitíssimo mais amplo: a Era da Perda da Fé (que vai do século XIV ao XVIII); a Era da Perda da Esperança (séculos XIX e XX, até o Concílio Vaticano II); e a Era da Perda da Caridade (do final do século XX em diante). E procurei explicar o vetor e os pontos de referência de cada um desses períodos históricos.
Um movimento declinante específico atravessou esses ciclos: o paulatino apartamento entre a política e os princípios espirituais que lhe dão real sentido tinha inexoravelmente de chegar ao atual momento — de agonia e sufocamento das possibilidades de cura social. O bem comum político divorciou-se do bem comum espiritual.
O caso brasileiro tem agravantes particulares, é verdade, mas se insere no contexto da nova ordem mundial dominada por elites globalistas bilionárias, ou seja: as diferenças são de grau, não de substância.
Sendo assim, em escala bastante modesta — superlativamente modesta! —, e sem quaisquer pretensões políticas megalômanas (que geralmente servem apenas para catalisar dinheiro de ricaços engambeláveis e iludir incautos milenaristas políticos), atuo na divulgação do pensamento medieval naquilo que nele vejo de atual, são, benéfico, seja espiritual ou politicamente.
E ponto.
Fazer diferente seria ferir a minha própria consciência.