Sidney Silveira
Apontar em privado um erro com educação, ponderação e espírito crítico é mais ou menos o que chamamos de correção fraterna — sobretudo se o engano se deu com relação a assunto de importância. Diz-se que, certa vez, Santo Tomás foi insultado por um aluno em sala de aula, mas não lhe deu nenhuma resposta; ficou em silêncio. Ao voltar para o mosteiro, seus confrades disseram mais ou menos o seguinte: “Frei Tomás, por que o senhor não deu uma lição naquele jovem?”. Teria então respondido o Boi Mudo: “Se eu tivesse feito isto na frente dos colegas dele, nós o teríamos perdido para a verdade”. No dia seguinte, chamou-o num canto, explicou a questão com santa paciência e ganhou um discípulo.
Pois bem. Pedro Sette-Câmara — que tem traduzido com competência vários livros, como por exemplo Coração Devotado à Morte, de Roger Scruton, para a Editora É —, após ler o texto publicado no Contra Impugnantes sobre a renúncia de Bento XVI tomou a iniciativa de me fazer, por e-mail, reparos no tocante a um tópico específico: a noção de consciência do teólogo Ratzinger. Torno este fato público porque o assunto é relevante, e também por respeito aos muitos leitores do blog.
Mea culpa. Com simplicidade, Pedro demonstrou-me que a noção de consciência do então Cardeal não consistia exatamente na que eu apresentara. Em verdade, naquele artigo, Ratzinger expunha a contraposição autoridade x consciência como dois pólos de um problema, e não considerava propriamente “infalível” a consciência, no sentido por mim aludido.
Em vista disso, refarei agora a parte do texto atinente a este ponto que lhe serviu de mote, cortando algumas passagens e inserindo outras. Quanto ao restante, ou seja, as questões canônicas, teológicas e morais implicadas na renúncia de Bento XVI, mantenho integralmente o que ali está — assim como os aspectos históricos implicados na renúncia de Celestino V. Tudo sem tirar nem pôr, com ênfase particular para o que simbolicamente representa — no mundo com a configuração do atual — a renúncia de um Papa pelos motivos alegados.
Fiquei particularmente feliz ao ser corrigido por uma pessoa com quem tenho divergências com relação à crise atual da Igreja. Tomo isto como uma lição, e agradeço a Deus. Portanto, muito obrigado, Pedro. Longe de me aborrecer, sou-lhe sinceramente agradecido pelo e-mail. Afinal, ser corrigido é o melhor favor que alguém nos pode fazer.
Em breve republicarei o texto, com a exclusão de uma parte dele e a inserção de outra.