quarta-feira, 24 de julho de 2013

A presidenta, o Papa e o meu vaso sanitário de estimação

A Sérgio Pachá,
lexicógrafo miseravelmente
defenestrado da Academia Brasileira
de Letras por opor-se à feiúra
sem acento gráfico no “u”.
Sidney Silveira
Devido a um fenômeno paranormal ainda não explicado, toda vez que ouço os discursos políticos de D. Dilma sinto a incoercível vontade de acocorar-me e expelir dois ou três quilos de dejeto cru. É uma espécie de súbita incontinência fecal, absolutamente espontânea, distinta dos casos de possessão diabólica clássica — nos quais se observam contorções somáticas contrárias às leis da física e da fisiologia, força hercúlea, levitação, fluência em línguas antigas desconhecidas pelo endemoniado, entre outras coisas mais ou menos horripilantes.
Explica-me com santa paciência o meu exorcista particular que os verdadeiros possessos têm aversão a coisas sagradas, e não a atos profanos revestidos de robótico gestual, como no caso em questão. Adverte-me também o sacerdote que os pobres homens controlados pelo demônio são acometidos de momentos de fúria e agitação insólita, e eu, ao sentar-me na privada para dar vazão à diarréia, mantenho a placidez invencível de um monge do deserto. Seja como for, confesso: sem desfazer da opinião do especialista, ainda indago se as minhas voluptuosas defecações têm causa preternatural ou não. O diabo é astuto e sabe enganar as pessoas; é capaz de fazê-las expressar com bolor intestinal o horror que sempre deveriam ter ao que é feio e infame.
Tão estranha patologia pode acarretar-me o sério problema de sujar as calças em momentos indevidos. Foi o que quase me aconteceu no dia da chegada do Papa Francisco ao Brasil, ao ver alguns personagens da comitiva presidencial ferrenhamente anticatólicos a sorrir com languidez demagógica para o Pontífice, a agraciar-lhe com apertos de mão piores que o beijo de Judas. Mas o mais aflitivo veio depois: o discurso da presidenta, com os indefectíveis jargões e cacoetes mentais e semânticos da Novilíngua petista, como “anseio de nossos povos (sic.) por justiça social”, “dignidade cidadã”, “oportunidade para todos”, “convivência com a diferença”, etc. Isto para não falar dos “extraordinários resultados alcançados pelo Brasil na superação da miséria”, durante o pontificado da ideologia atualmente no poder.
[Pausa forçosa, para ida às instalações sanitárias]
Na prática, a fala da excelentíssima governanta — com menção ao “Bolsa Família”, como não poderia deixar de ser — foi um exame de próstata com dedo de gigante a invadir o ânus dos homens de boa vontade, e também o dos de má. Ensinamento de como não se deve fazer diplomacia. Aula de oportunismo político de baixo coturno. Coisa feia, porém representativa do momento histórico no qual a política se transformou numa pantomima intragável, o que necessariamente acontece quando ela se torna um fim em si mesma. A propósito, para alguns políticos não seria má pena ouvir eternamente, no inferno, os seus próprios discursos, proclamados com solenidade histriônica durante o tempo que lhes foi dado viver neste mundo. Mas não desejemos tamanho mal a quem nos faz mal.
Como católico não é meu propósito, no presente texto, abordar o caráter mundano dessas “Jornadas”, inseridas litúrgica, doutrinal e esteticamente no contexto da Igreja pós-conciliar. Apenas registro ser impossível não ver a recepção dada pelas autoridades brasileiras ao Papa — no momento em que se prepara no país a aprovação do aborto, assim como a da chamada “lei da mordaça gay” — como um filme de terror trash, sob a bandeira do ecumenismo e do laicismo, também presentes na fala da atual ocupante do Palácio da Alvorada, sem que o Romano Pontífice se pronunciasse acerca delas.
Pelo andar da carruagem viverei feliz, nos próximos anos, agarrado ao meu vaso sanitário de estimação, se este inusitado mal das tripas não me abandonar. Seja como for, se você — querido e nobre leitor — não entendeu que usei os termos “presidenta” e “governanta” apenas para fazer jus ao padrão do protocolo oficial da mandatária da Nação, informo com pesar: você circunstancialmente assemelha-se ao produto final do meu intestino recalcitrante.
Mas não percamos a esperança: hoje irmanados au milieu de la merde, quem sabe um dia todos veremos novamente a luz?