Sidney Silveira
Em seu estupendo Comentário ao Prólogo do Evangelho de S. João, o Aquinate diz que a contemplação do evangelista para escrever aquelas reveladas palavras lidas ao final de toda Missa no rito tridentino (in principio erat Verbum et Verbum erat apud Deum et Deus erat Verbum) foi ampla e perfeita. Ampla porque a contemplação é ampla quando alguém considera todos os efeitos da causa na própria causa. A saber: quando conhece não apenas a essência da causa, mas também a sua virtude, pela qual a causa se estende a muitas coisas. A contemplação joanina foi também perfeita, de acordo com Santo Tomás, porque a contemplação é perfeita quando o que contempla é conduzido e elevado à altura da realidade contemplada. Assim, se João permanecesse em seu ínfimo nível humano, por muito altas que fossem as realidades contempladas por ele, não haveria contemplação perfeita.
Podemos dizer, em sentido análogo, exatamente para o que serve uma grande filosofia: para elevar-nos à contemplação das causas universais do ser e tentar ver tudo nelas, ou a partir delas. Neste sentido é que reiteradas vezes frisamos no Contra Impugnantes a importância da metafísica, sem cujo estudo continuado a filosofia acaba transformando-se numa má gnosiologia, numa antropologia capenga e numa lógica esquizofrênica. E mais: numa teologia abstrusa, como é o caso de todos os modernismos que há 50 anos dominam a cena eclesial. Neste contexto, toda vez que vou a Tomás e volto à nossa realidade, sou tomado por um sentimento de tristeza, ou melhor: pela triste compreensão da situação atual...