sábado, 19 de dezembro de 2009

O Credo e suas maravilhas



Sidney Silveira
Na introdução de sua Exposição sobre o Credo, diz Santo Tomás que quatro são os bens que a fé produz:
  • : Pela fé a alma se une a Deus;
  • : Pela fé é iniciada em nós a vida eterna;
  • : Pela fé passamos a orientar toda a nossa vida;
  • : Pela fé vencem-se as tentações.
Sem a fé, portanto, não é possível a alma unir-se a Deus nesta vida, daí dizer Santo Agostino que “onde não existe o conhecimento da verdade eterna e imutável, a virtude é falsa até mesmo nas pessoas retas” (em De Fide et Symbolo). Referem-se os dois Santos Doutores, obviamente, à fé sobrenatural infusa por Deus na alma, e não a uma crença subjetiva em qualquer coisa acerca da natureza divina — ainda que acertada. É essa fé sobrenatural que impele a alma a dizer “sim” às verdades reveladas na Sagrada Escritura, aceitando-as integralmente e sem o mais ínfimo questionamento, pois Deus assim as revelou, para que crêssemos e nos salvássemos.

A vida eterna começa, aqui e agora, pela fé, ainda que na forma de uma semente que promete germinar esplendidamente. Como dizia uma estupenda máxima latina, gratia, inchoatio gloriæ (a Graça é o começo da Glória). Sem a graça, portanto, é impossível sequer termos uma pálida noção do que seja a verdadeira felicidade preparada para nós por Deus, desde a eternidade.

Também é fato que a fé, depois de assumida pelo cristão, passa a ser a balizadora de toda a sua vida. Essa orientação se dá no sentido de dizermos “não” a tudo o que, direta ou indiretamente, nos afaste da fé e, portanto, de Deus. Todos os bens assumem, pela fé, o seu real valor numa escala perfeita que culmina em Deus mesmo. E se muitas vezes caímos na tentação de escolher bens menores em detrimento daqueles que Deus quer que escolhamos, o fato de estarmos no horizonte da fé nos propicia a clara visão do erro — e, portanto, a oportunidade de o corrigirmos pelo arrependimento, que é precondição para o sacramento da Penitência.

Por fim, só a fé pode fazer-nos vencer as tentações que advêm da carne, do mundo e do demônio, e que muitas vezes têm como instrumentos os nossos hábitos viciosos. Se Aristóteles dizia que o homem, depois de depravar-se, cai num abismo do qual não há saída, decerto é porque não conhecia a fé — cuja fonte sobrenatural nos possibilita a emenda dos piores hábitos que tenhamos adquirido, seduzidos pelo gozo na prosperidade ou atemorizados por adversidades que, sem a fé, não podem ser aquilatadas em seu real valor. Ah, quantas vezes deixamos alguns medos tolos desviar toda a nossa vida!

Neste tempo do Advento, recomendo firmemente a leitura da Exposição sobre o Credo, de Santo Tomás. Os tesouros espirituais contidos nos símbolos da fé têm ali uma maravilhosa ponderação do Doutor Comum. Há duas edições em português facilmente encontráveis.