sábado, 12 de dezembro de 2009

A fecundidade dos Santos


Sidney Silveira
Como sabemos, Cristo amaldiçoou a figueira que não deu frutos (Mt. XXI, 18-19). E, conforme acentua o Magistério da Igreja e uma incomensurável gama de teólogos, Doutores e Santos, ai de nós se não dermos os frutos que Deus espera e para os quais nos criou — pois seremos como o sal que não salga e, por isso, será lançado fora e pisado pelos homens (Mt. V, 13).

A abundância de frutos, por sua vez, é o sinal seguro da árvore boa. Hoje, quantos talentos se perdem em razão da inércia hedonística que freia as suas boas obras! Isto é particularmente claro quando o assunto é estudo. Deus do céu! Quantos jovens deixam de lograr as suas reais possibilidades porque se perdem em minudências desimportantes, fomentadas por doutrinas errônas que, muitas vezes, são apenas a justificação intelectual para uma vida devotada ao pecado e à difusão de erros! Uma vida vivida a esmo, sem qualquer dilema de ordem superior. Uma vida de meias tintas, de acomodação, de covardia.

Ao pensar nisto, vem-me à mente o quanto produzem os Santos, quando se põem a trabalhar para a glória de Deus e o bem das almas. Olhemos, por exemplo, para o nosso amado Tomás de Aquino. Entre 1252 e 1274, o Aquinate escreveu nada menos do que o seguinte, conforme nos informa Santiago Ramírez num dos seus livros:

891 lições sobre obras de Aristóteles
803 lições sobre a Sagrada Escritura
850 capítulos sobre o Evangelho na Catena Aurea
463 capítulos na Suma Contra os Gentios
2.931 artigos sobre o Mestre das Sentenças, Pedro Lombardo
1.200 capítulos espalhados por opúsculos de índole diversa
510 artigos copiosos em Questões Disputadas
260 questões de Quodlibet
2.652 artigos da Suma Teológica (com solução para mais de 10 mil argumentos!)

São volumes e mais volumes de uma produção não menos que miraculosa — não apenas pela quantidade incomensurável de escritos, mas sobretudo se considerarmos a resolução filosófica a que chegou o Doutor Comum em todas essas obras, que versavam sobre os assuntos mais variados: teodicéia, gramática, metafísica, política, psicologia, moral, homilética, exegese, liturgia, mística, casuística dogmática, composição de orações, etc.

Fecundidade extraordinária e labor incansável unidos a uma inteligência poderosa e uma memória de cair o queixo, de acordo com os seus primeiros biógrafos — que privaram da intimidade de frei Tomás. Muito talento somado a muito esforço: Guilhermo de Tocco, por exemplo, nos informa que a rotina de trabalho do Santo chegava a 16 horas.

Decerto muito poucos são chamados a realizar uma obra de tal magnitude, mas, se formos observar a vida daqueles que a Igreja nos propõe como modelos, ou seja, os veneráveis Santos, veremos que isto é bastante comum: frutuosas obras e muito, muito trabalho. Pensemos numa Teresa de Ávila, num Santo Antônio de Lisboa, num São Francisco de Sales, num São Francisco de Assis, num Santo Afonso de Ligório, num São Bento, num São Gregório Magno, num São João Crisóstomo, num Santo Agostinho, num Santo Alberto Magno, etc. E, para dimensionar tais obras, vale lembrar que, em boa parte desses casos, elas foram levadas a cabo em meio a uma vida de tribulações, de perseguições (não raro pela própria Igreja ou por alguns de seus membros), de luta do início ao fim, às vezes coroada pelo martírio.

Esses exemplos nos servem para meditar sobre o que um homem é capaz de fazer quando se abre ao influxo da Graça. Quando se deixa guiar pela vontade de Deus, justamente porque medita sobre ela e busca-a.

Quem ousaria acusar esses homens de trabalhar vaidosamente para a sua própria glória pessoal propondo-se esforços quase desumanos, se os seus frutos são tantos e tão excelentes?