segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A licitude da leitura sóbria dos sinais dos tempos



Sidney Silveira
É absolutamente lícito a um católico — leigo ou clérigo — especular, à luz dos sinais dos tempos, se se aproxima ou não o momento prévio à manifestação do Anticristo, prevista na Escritura. Isto foi feito no passado e continuará a ser feito ao longo do tempo, enquanto o tempo durar. Não há novidade nenhuma! A propósito, uma das características do espírito católico é justamente a vigilância, à qual todos os fiéis são chamados ao contemplar a parábola das cinco virgens néscias (Mt. XXV, 1-3), que, em razão duma culpável imprevidência, não levaram azeite em suas vasilhas para acender as lâmpadas, e, quando deram por si, viram-se sem luz, perderam as bodas e receberam a duríssima palavra do Senhor:

— Em verdade vos digo que não vos conheço.

E acrescenta Cristo, ao fim desta parábola, aos discípulos:

— Portanto vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora.

Em síntese, as palavras do Verbo Encarnado reforçam, com extrema gravidade, o convite à prontidão no tocante à Sua segunda vinda, pois o azeite simboliza justamente o Espírito Santo, o amor de Deus espraiado à criação. Esquecer o azeite, como fizeram as virgens néscias, é deixar por último o mais importante; é tresloucadamente desconsiderar a ordem de importância das coisas; é perder a noção da hierarquia dos bens integrantes do mundo real, a ser considerada em cada ato propriamente humano.

Ora, tal hierarquia é bastante simples: o espiritual está acima do material, e este é ordenado àquele.

Lembremos que a conclamação para que cada fiel esteja atento aos sinais dos tempos é veemente e inequívoca em incontáveis passagens da Sagrada Escritura. Pesemos bem as palavras de São Paulo na "Epístola aos Tessalonicenses", para ficarmos apenas com um exemplo...

Assente-se, pois, a absoluta licitude da interpretação dos sinais dos tempos À LUZ DO MAGISTÉRIO DA IGREJA, sobretudo quando tais sinais são duma eloqüência insofismável, visto que as plúmbeas nuvens da atual crise eclesiástica foram sendo denunciadas ao longo dos últimos duzentos anos pelos Papas, de maneira solene — seja no Magistério ordinário, seja no extraordinário.

Este breve texto é, pois, a resposta a dois amigos católicos que me indagaram acerca da “licitude moral” do curso “O Papa do fim do mundo? — Francisco e os sinais dos tempos”.

A cada um deles eu simplesmente disse:

> Você crê na Segunda Vinda de Cristo?
> Você crê que haverá a grande apostasia mencionada por São Paulo?
> Você crê que haverá um curto reinado do Anticristo?
> Você crê que, quando a abominação da desolação chegar ao lugar santo, próxima é a vinda do Senhor?
> Você crê no Juízo Final?
> Você crê na marca da Besta, que, segundo abalizados intérpretes, é o signo da tirania e do alcance do governo do Anticristo?
> Você crê nas profecias ratificadas pelo Magistério da Igreja, como a de La Sallete, em cujo texto se diz que no final dos tempos os clérigos serão “cloacas de impureza”?
> Você crê nas palavras dos Doutores da Igreja, como por exemplo Tomás de Aquino (o Doutor dos doutores), para quem muitos na própria Igreja acolherão de braços abertos o Anticristo?

Se você crê nestas e noutras coisas, é sinal de que está na fé e, portanto, deve manter-se vigilante, principalmente ao constatar a prevaricação generalizada dos homens do primado espiritual. A atitude contrária é, por sua vez, condenável: a pasmaceira perante escândalos em monstruosa escala, seja na perspectiva magisterial, seja na propriamente teológica, seja na perspectiva moral.

Feitas estas advertências, digamos o seguinte: no curso “O Papa do fim do mundo?” NÃO SE FARÁ nenhum exercício de adivinhação catastrofista, até porque não recebemos o dom da profecia, o qual, segundo Tomás de Aquino, é a participação da presciência divina à mente do profeta. Apenas será feito um exercício de teologia da história, o que, como se disse acima, não implica novidade alguma no mundo católico.

A novidade é a obediência cega por parte de muitos justificadores de plantão, sempre céleres e prestimosos em explicar o inexplicável, em buscar sentidos improváveis para ditos e feitos temerários. A novidade é a recepção acrítica de todos os atos das autoridades eclesiásticas, como se a obediência católica fosse um bem em si, ou algo para cuja realização o fiel precisasse jogar no lixo a sua própria capacidade hermenêutica, tão essencialmente característica de qualquer inteligência.

É evidente que, neste esforço interpretativo (reiteremos: lícito e nunca condenado pelo Magistério da Igreja), estará implicada uma visão pessoal que não prima pelo otimismo falsamente ingênuo com o qual muitos querem manter-se de olhos fechados.

Ditas estas palavras, posto aqui novamente o link com as informações para a inscrição no referido curso "O Papa do fim do mundo?":


Alguns vídeos e textos ainda serão postados antes de se encerrar o período de inscrições.