"VIRTUOSO NÃO É QUEM mais luta para conseguir agir bem, mas justamente o contrário: é quem — por ter a virtude já formada, quer dizer, certa conaturalidade [psíquica] com o bem — possui menor dificuldade para agir retamente".
Martín Federico Echavarría, filósofo e psicólogo tomista
Sidney Silveira
O Prof. Martín Echavarría — ao comentar o modo de superioridade da temperança em relação à continência, no livro "La Formación del Carácter por las Virtudes" — refere-se a uma passagem de Santo Tomás na IIªIIª da "Suma Teológica.
Em síntese, uma virtude é principal (no caso, cardeal) não em razão da matéria de que trata, nem do seu sujeito, mas do modo de ordenar os atos humanos em vista do bem. Cada virtude cardeal abarca virtudes auxiliares ou partes potenciais de uma mesma virtude.
Não por outro motivo, a TEMPERANÇA tem subordinadas a si, entre outras:
> a MANSIDÃO, moderadora do apetite de vingança;
> a CLEMÊNCIA, moderadora do apetite de aplicação dos castigos, ainda que sejam justos;
> a ESTUDIOSIDADE, moderadora do apetite de saber, no sentido de que este não se desordene nem se desvie para temas inúteis e nocivos, como geralmente ocorre com o mero curioso imiscuído nas coisas filosóficas;
> a MODÉSTIA, moderadora de atos exteriores relacionados ao corpo;
> a EUTRAPELIA, moderadora das ações levadas a termo no tempo livre, relativas a jogos e distrações em geral, virtude que preserva o homem de qualquer tendência aos excessos (como, a propósito, ocorre com o Brasil inteiro quando se trata de Copa, ocasiões em que imperam o destempero e a desrazão);
> etc.
Costumo dizer o seguinte: quem se dedica há tempos ao estudo da filosofia e não leu, não releu e não meditou os textos da IIª-IIª da Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino, é um sujeito atual ou potencialmente estúpido, e desconhece de maneira cabal o que seja o animal homem.
E que, por isso, logo perderá a queda de braço contra as suas próprias debilidades.