segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

No país das maravilhas...

Sidney Silveira
Semana passada, leitores do Contra Impugnantes enviaram-me um link no qual se lê um texto de Joel Pinheiro, um liberal católico (pelo que se depreende de suas próprias palavras) que escreve para a Dicta & ContraDicta. O texto contém críticas a algo postado por aqui há quase cinco anos: um quolibet antiliberal.
Tecnicamente desempregado, endividado e ainda em processo de recuperação de duas cirurgias cardíacas — além de envolvido em trabalhos como “frila” para não morrer de fome ou ser despejado —, não responderei materialmente aos pontos trazidos à luz no texto do Sr. Pinheiro, que de maneira cavalheiresca teve o cuidado de perguntar a uma pessoa conhecida como eu estava de saúde, antes de postar as suas críticas. Cuidado pelo qual lhe agradeço.
Mas responderei num texto cujo título será A alma do liberalismo, no qual entre outras coisas espero deixar claro por que — há algum tempo — tenho preferido divulgar a doutrina de Santo Tomás de Aquino a manter querelas com católicos liberais, liberais não-católicos, liberais “econômicos”, ou falar da crise na Igreja. Nele farei referência a uns poucos princípios que tornam as posições liberal e católica tradicional absolutamente irredutíveis uma à outra, pois partem de premissas contraditórias, excludentes entre si. E apontarei que a posição liberal — malgrado a interminável gama de teorias e posturas em que a “escola” está entropicamente arrojada — tem aporéticos pontos de base em comum.
Farei isto sem maiores delongas, ou seja, sem prolongar ao infinito uma discussão de surdos, pois não há diálogo possível onde os topoi são diametralmente opostos ou divergentes na raiz, como dizia Aristóteles. Seria necessária uma espécie de maiêutica prévia para remontar aos princípios e a seus corolários necessários, antes de qualquer tentativa de debate. A propósito, o texto, embora seja uma resposta de caráter geral, não se dirigirá pessoalmente ao Sr. Joel Pinheiro, mas sim a aspectos do liberalismo e à forma mentis de seus adeptos.
Com esta resposta geral (e única), espero pôr fim a qualquer nova tentativa de “diálogo” conosco, disputa conceptual ou coisa que o valha, por parte de católicos liberais — procedimento para o qual hoje não tenho saúde nem tempo de levar adiante. E muito menos vontade, dada a minha absoluta certeza  de que é infrutífero, como fora o diálogo iniciado entre Eva e a serpente.
Aguardem um pouco, por favor, pois estou envolvido com outros afazeres. Mas o texto já está esquadrinhado em minha mente.
P.S. Conforme anunciei recentemente, em breve chegará às livrarias o livro Questões Disputadas sobre a Alma, de Tomás de Aquino, com o selo da editora É, traduzido por Luiz Astorga e prefaciado por Carlos Augusto Casanova, professor hoje radicado no Chile que possui vários estudos interessantes em torno das obras de Aristóteles e Santo Tomás. A obra, em copiosa edição bilíngüe, já saiu do forno: possui quase 500 páginas e cerca de 470 notas explicativas ao texto do Aquinate, que reputo grandemente enriquecedoras da leitura.
A propósito, o tema da alma humana em Santo Tomás continua a trazer contribuições para a psicologia, como ocorre na extraordinária obra do Prof. Martín Echavarría.